Após tentar violentar duas adolescentes de 13 e 15 anos, Fábio Nazareno Barbosa Macedo, de 32 anos, foi trucidado por um grupo de pessoas revoltadas, na rua Parque das Palmeiras, em Decouville, Marituba. Completamente nu, Fábio foi amarrado a um poste, espancado e golpeado a pauladas até morrer. Um dos agressores escreveu a palavra 'estrupador' em um pedaço de papelão e a amarrou no poste onde a vítima foi seviciada. Fábio, apesar de estar armado com uma faca, não conseguiu concretizar a violência sexual porque as adolescentes resistiram. Uma delas, a de 13 anos, foi ferida a faca em uma das mãos.
Fábio arrombou, por volta das 3h30, o telhado da casa de número 10 da passagem Boa Esperança, no loteamento Parque das Palmeiras. Outro homem, ainda não identificado, ficou do lado de fora dando-lhe cobertura. Dentro da casa, Fábio encontrou, dormindo, as duas adolescentes e dois meninos de 8 e 11 anos, irmãos delas.
A primeira a ser abordada foi a garota de 15 anos. 'Ele me acordou só de cueca, mandando eu tirar a roupa. Eu me recusei. Daí, ele acordou a minha irmã, mas ela também se recusou. Daí ele disse ‘vamo logo! Uma de vocês vai ter que ceder’. Mas nós resistimos', contou a mais velha. Fábio conseguiu tirar a roupa da irmã mais nova, deixando-a apenas de calcinha. Como viu que a menina continuava lutando, ele armou-se com uma faca que encontrou na casa.
A garota segurou a lâmina da arma com a mão esquerda e empurrou o agressor. Com a ajuda da outra irmã e dos irmãos menores, Fábio foi expulso da casa. 'Ele estava meio bêbado. Então, ela foi empurrando ele até a porta. Quando ele caiu para fora, nós trancamos a porta e começamos a gritar por socorro', conta a garota de 15 anos.
Fábio foi colocado para fora apenas de cuecas. Sua bermuda, no bolso da qual estava sua identidade, ficou dentro da casa. Por isso, momentos depois, ele retornou ao imóvel para tentar pegar os documentos de volta. 'Quando os vizinhos ouviram meus irmãos gritando, veio todo mundo para cá. Daí, de repente, ele (Fábio) reapareceu. Foi quando pegaram ele', conta uma das vítimas.
LINCHAMENTO
O delegado Álvaro Gomes, da Seccional de Marituba, quem esteve na área chefiando uma equipe de investigadores, acredita que dezenas de pessoas tenham participado do linchamento. Depois que a adolescente confirmou ser ele o homem que tentou violentá-la, Fábio teve suas roupas arrancadas pelo grupo. Em seguida, foi levado para a rua das Palmeiras, que serve de principal acesso à rua da casa da vítima. Amarrado a um poste completamente nu, Fábio virou alvo fácil da turba violenta. Pelas marcas em seu peito, acredita-se que ele tenha recebido pisões e pauladas em todo o tórax. A orelha direita foi decepada. Na lateral esquerda da cabeça, um grave ferimento ainda gotejava sangue quando a Polícia chegou ao local, já por volta das 7 horas. Morto, ele foi abandonado, ainda amarrado, debaixo de uma placa de papelão com a palavra 'estrupador' escrita a tinha. A Polícia foi avisada do crime pela manhã.
As adolescentes, apesar de assustadas, passam bem. A mais nova foi ferida na mão esquerda, mas já está medicada.
A mãe das adolescentes, uma lavadeira de 34 anos que terá sua identidade preservada, não estava em casa quando tudo aconteceu. Às 3h15, ela recebeu um telefonema de um amigo que estava chegando de viagem e saiu para encontrá-lo. Poucos minutos depois de sair de casa, ela recebeu outro telefonema. Dessa vez, era uma vizinha relatando que sua casa havia sido invadida por um homem que tentara estuprar suas filhas. 'Eu ainda estava aqui perto. Voltei correndo. Foi quando ele voltou para buscar os documentos e os moradores o agarraram. Eles ainda o trouxeram aqui e a minha filha o reconheceu. Daí, saíram levando ele pela rua e o amarraram no poste, onde foi morto', contou a mãe, que garante não ter participado do linchamento.
'Os arrombamentos aqui acontecem sempre. Tem noite que a gente nem dorme ouvindo passos ao redor da casa', queixou-se a mulher, que já teve o aparelho de DVD da casa roubado.
Como que para servir de exemplo a outros possíveis estupradores, o corpo nu e morto de Fábio ficou exposto aos olhares de centenas de transeuntes que costumam passar pela rua Parque das Palmeiras, uma das mais movimentadas daquela área. Entre os que paravam para olhar mais atentamente, os comentários eram, em geral, de aprovação. 'Isso é o que dá tentar estuprar duas crianças. Deus que me perdoe, mas isso foi bem-feito!', disse uma mulher, com uma menina no colo. 'Tenho certeza que vai servir de lição para a bandidagem daqui da área. Isso mostra que o pessoal aqui não agüenta mais conviver com a violência. É o povo reagindo do seu modo, com as armas que tem na mão', disse outro morador, que também não quis se identificar.
O LIBERAL/PA