Mais de uma semana se passou desde a declaração de Donald Trump, então presidente dos Estados Unidos, na Assembleia Geral da ONU, na qual sinalizou um possível encontro com o líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o republicano mencionou que essa reunião poderia acontecer na 'semana seguinte', prazo que já foi encerrado sem concretizações.
A foto mostra Trump observando atentamente o discurso de Lula durante a Assembleia Geral da ONU; até o momento, detalhes específicos sobre a data ou o formato do contato entre os dois chefes de estado permanecem indefinidos.
Segundo informações de uma fonte do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a demora na definição não representa atraso, mas sim um intervalo necessário para ajustar as agendas dos líderes.
A negociação para estabelecer esse encontro está em andamento, revelou a fonte. Naquele dia, 23 de setembro, Trump comentou que teve uma interação breve com Lula ao longo da cerimônia em Nova York, onde ambos discursaram em sequência. O presidente americano afirmou que a troca foi positiva, destacando uma 'química excelente' e um abraço entre eles, além de uma conversa prévia para planejar o encontro.
No entanto, ainda não há informações detalhadas sobre quando ou como esse contato será efetivado, seja por telefone, videoconferência ou encontro presencial em outro local, possivelmente em um país neutro.
Representantes do Itamaraty explicam que essa lacuna na agenda não deve ser interpretada como atraso, mas como uma fase natural de preparação, especialmente considerando a complexidade das agendas de Lula e Trump. Ressaltam também que as negociações estão ativas.
Um evento considerado como potencial oportunidade de aproximação é a Cúpula da ASEAN, que ocorrerá em Kuala Lumpur, Malásia, a partir de 26 de outubro, na qual Lula e Trump deverão participar.
A hipótese mais provável é que os Estados Unidos proponham uma data, a qual o governo brasileiro avaliará conforme a disponibilidade de Lula. Contudo, até o momento, o lado americano não oficializou uma data e os principais assessores de Trump parecem não demonstrar entusiasmo com a possibilidade de um encontro direto.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, líder da ala mais rígida do Departamento de Estado, tem defendido medidas restritivas contra o Brasil, tendo feito declarações nesse sentido nos últimos meses.
A crise política interna nos Estados Unidos, agravada pela paralisação do governo desde 1º de outubro devido à falta de consenso no Congresso sobre o orçamento, também influencia no andamento dessas negociações.
Diplomatas de ambos os países confidenciam que, mesmo sem impacto direto, o chamado 'shutdown' pode prejudicar os preparativos para o encontro, que, por ora, não é prioridade máxima para a administração americana. Solicitamos uma posição oficial do Itamaraty, que preferiu não se manifestar até o momento.
Organizar uma reunião formal entre Lula e Trump representaria uma oportunidade de reaproximação após um período de crescente tensão bilateral, marcada por tarifas comerciais e ações dos EUA em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, condenado em setembro pelo Supremo Tribunal Federal a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe após o resultado eleitoral de 2022.
Jair Bolsonaro, cujo filho, Eduardo Bolsonaro, reside atualmente nos Estados Unidos e tem atuado junto à Casa Branca na tentativa de obter sanções e tentativas de absolvição para o ex-presidente, também influencia a dinâmica diplomática.
Recentemente, os EUA aplicaram a Lei Magnitsky a Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, e à LEX, um instituto pertencente à família do magistrado. Essas ações reforçam a postura de restrição por parte do governo americano, que já criticou publicamente o julgamento de Bolsonaro, chamando-o de 'caça às bruxas'.
Diante desse cenário, diplomatas indicam que há esforços para aliviar as tensões, incluindo contatos reservados entre os governos, especialmente entre o ministro Mauro Vieira e o secretário de Estado, Marco Rubio, além de encontros entre representantes comerciais, como uma reunião virtual de Alckmin com o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, em 25 de setembro.
A resistência interna nos EUA também se manifesta através de figuras como Rubio, que tem apoiado medidas duras contra o Brasil, enquanto outros nomes, considerados mais abertos ao diálogo, incluem o chefe do escritório de comércio, Scott Bessent, e membros do setor empresarial brasileiro que buscam soluções em meio às tarifas de até 50% impostas sobre produtos exportados para os EUA, embora com algumas isenções.
Empresas brasileiras, como a JBS, enviaram delegações a Washington para discutir o impacto dessas tarifas, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin manteve contato com autoridades comerciais americanas. A investigação contra o Brasil pelo Office of the United States Trade Representative (USTR) também permanece ativa, suspeitando de práticas comerciais desleais.
Apesar das dificuldades políticas e econômicas, há um entendimento de que um contato inicial por telefone pode preceder qualquer encontro presencial, cuja realização dependerá da vontade dos líderes e de uma avaliação cuidadosa para garantir benefícios mútuos, evitando agravar ainda mais as tensões existentes.
Especialistas advertem que, embora encontros em Washington possam ser imprevisíveis devido às tradições de Trump de condução não convencional, uma reunião oficial no Salão Oval geralmente é meticulosamente planejada, incluindo discussões prévias e alinhamento de tópicos.
No passado, líderes como Zelensky e Ramaphosa tiveram experiências desconfortáveis durante encontros com Trump, o que reforça a necessidade de cautela na preparação do possível encontro com Lula.
A intenção de realizar um encontro face a face, embora desejada por alguns, permanece incerta e sujeita às dinâmicas internas de cada país, especialmente no contexto de tensões políticas e interesses estratégicos divergentes.
Como sempre, o sucesso dessa iniciativa dependerá do alinhamento de agendas e do entendimento bilateral, com o potencial de abrir ou fechar portas para futuras negociações internacionais.