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Mundo
06/01/2025 00:00:00

'Atiraram nos pacientes em suas camas': BBC visita hospital na Síria palco de massacre

'Atiraram nos pacientes em suas camas': BBC visita hospital na Síria palco de massacre

As forças do governo sírio estão sendo acusadas de promover um massacre em um hospital durante os recentes confrontos sectários na cidade de Suweida, no sul do país. A BBC visitou o Hospital Nacional da cidade, onde profissionais relataram que pacientes foram mortos dentro dos próprios quartos.

No local, o forte cheiro foi o primeiro impacto. No estacionamento do hospital, dezenas de corpos em decomposição estavam alinhados em sacos plásticos brancos. Alguns estavam abertos, revelando cadáveres inchados e mutilados. O asfalto estava escorregadio devido ao sangue, e o calor intenso tornava o odor insuportável.

"Foi um massacre", relatou o neurocirurgião Wissam Massoud. Segundo ele, soldados alegaram estar ali para restaurar a paz, mas executaram dezenas de pacientes, incluindo idosos e crianças. Massoud compartilhou com a reportagem um vídeo gravado logo após a incursão, que mostrava corpos cobertos por lençóis ensanguentados nos quartos do hospital.

Relatos de médicos, enfermeiros e voluntários são unânimes em afirmar que tropas do governo invadiram o hospital e abriram fogo contra pacientes indefesos. Kiness Abu Motab, voluntário, questionou: "Qual foi o crime delas? Apenas serem parte de uma minoria em um país que se diz democrático?". Osama Malak, professor local, afirmou que uma criança de oito anos com deficiência foi executada com um tiro na cabeça.

As denúncias apontam que soldados entraram no hospital e atiraram em todos, inclusive em pessoas que dormiam nas camas. Apesar das acusações, todos os lados envolvidos no conflito têm sido responsabilizados por atos de violência e mortes de civis — inclusive as forças beduínas e drusas, além do exército sírio.

Ainda não há uma contagem oficial de vítimas, mas algumas estimativas locais apontam que mais de 300 pessoas possam ter sido mortas. Esse número, no entanto, não pôde ser confirmado. O Ministério da Defesa sírio reconheceu ter recebido denúncias de “violações chocantes” cometidas por pessoas usando uniformes militares. Já o ministro de Gestão de Desastres, Raed Saleh, declarou que todas as alegações serão investigadas com rigor.

O acesso à cidade de Suweida, majoritariamente habitada por drusos, está fortemente controlado pelo governo sírio, o que dificulta a verificação dos fatos. Para chegar à cidade, a equipe da BBC passou por inúmeros postos de controle. Ao entrar, encontrou prédios e lojas queimados e carros destruídos por tanques, sinais claros de confrontos intensos.

A cidade se tornou o epicentro da violência entre drusos e beduínos. Após a escalada do conflito, o governo interveio tentando impor um cessar-fogo. Embora algumas aldeias da província tenham sido retomadas, Suweida permanece sob controle druso, com cerca de 70 mil habitantes.

Antes de deixar o hospital, a reportagem encontrou Hala al-Khatib, de 8 anos, sentada com a tia. Com o rosto ferido e enfaixado, ela parece ter perdido um dos olhos. A menina contou que se escondeu dentro de um armário quando homens armados invadiram sua casa e atiraram nela. Hala ainda não foi informada da morte de seus pais.