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Mundo
10/02/2025 14:17:00

O Metal Essencial para Celulares que Alimenta um Conflito Sangrento na África

O Metal Essencial para Celulares que Alimenta um Conflito Sangrento na África

O tântalo, um metal raro e fundamental para o funcionamento de celulares e outros dispositivos eletrônicos, tem suas origens no subsolo do leste da República Democrática do Congo, onde um conflito brutal está em andamento. Parte desse minério pode estar diretamente ligada ao grupo rebelde M23, envolvido em confrontos que têm chamado a atenção mundial.

Este metal azul-acinzentado, brilhante e altamente resistente ao calor é extraído principalmente de um minério chamado coltan. Suas propriedades únicas permitem a fabricação de capacitores minúsculos, essenciais para a eficiência energética de eletrônicos modernos. Embora seja encontrado também no Brasil, Ruanda e Nigéria, estima-se que pelo menos 40% da produção mundial de tântalo venha da República Democrática do Congo.

O Papel do M23 e o Controle das Minas

O grupo rebelde M23, formado por membros da etnia tutsi, que foi alvo do genocídio de 1994 em Ruanda, controla diversas áreas ricas em coltan. Segundo relatórios da ONU, a milícia usa os lucros da mineração para financiar combatentes e comprar armas.

A cidade de Goma, um dos principais centros comerciais da região, foi palco de um ataque em 2 de fevereiro, quando os rebeldes avançaram sobre o território. O caos resultante levou à fuga em massa da prisão de Munzenze, onde mais de 100 mulheres foram vítimas de violência sexual e posteriormente assassinadas quando a prisão foi incendiada, segundo um relatório da ONU.

Em abril do ano passado, o M23 tomou a cidade de Rubaya, um importante polo de extração de coltan. Lá, os rebeldes impuseram uma administração própria, exigindo taxas de mineradores e comerciantes e estabelecendo um monopólio sobre a venda do mineral. O grupo cobra cerca de sete dólares por quilo de coltan e arrecada aproximadamente 800 mil dólares por mês apenas em impostos sobre o minério extraído em Rubaya.

O Caminho do Coltan até os Celulares

A exportação do coltan extraído nas áreas controladas pelo M23 levanta dúvidas sobre como o minério entra na cadeia global de suprimentos. Especialistas indicam que Ruanda desempenha um papel crucial nesse processo. O país vizinho possui suas próprias minas de coltan, mas há suspeitas de que o minério extraído de forma ilegal na República Democrática do Congo esteja sendo misturado à produção ruandesa.

A legislação internacional, como a Lei Dodd-Frank dos Estados Unidos e regras similares na União Europeia, busca impedir que minerais de conflito financiem grupos armados. No entanto, garantir a rastreabilidade do coltan é um grande desafio devido à corrupção e à informalidade da mineração na região.

Em resposta às acusações, o governo de Ruanda nega envolvimento com o M23 e defende que o país possui capacidade própria de extração e refinamento do minério. No entanto, dados do Serviço Geológico dos EUA apontam que as exportações de coltan de Ruanda cresceram 50% entre 2022 e 2023, um aumento difícil de justificar apenas com a produção local.

Impacto no Mercado Tecnológico

O governo congolês abriu processos judiciais na França e na Bélgica contra subsidiárias da Apple, alegando que a empresa utiliza "minerais de conflito". A Apple afirmou que, desde o início de 2024, deixou de adquirir tântalo da República Democrática do Congo e de Ruanda devido à intensificação do conflito e às dificuldades na certificação da origem do material.

Outras empresas, no entanto, não foram tão transparentes. Isso significa que, enquanto o M23 continuar expandindo seu controle sobre as áreas de mineração, o tântalo extraído nessas regiões pode continuar chegando aos dispositivos eletrônicos usados globalmente.