O impacto da inflação já reflete nas compras dos brasileiros, que têm adotado estratégias para conter os gastos nos supermercados. A prática de retirar produtos do carrinho, reduzir o consumo de itens essenciais e buscar alternativas mais baratas já vinha ocorrendo antes mesmo da sugestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em entrevista na última quinta-feira, dia seis, incentivou os consumidores a evitarem produtos caros para pressionar a redução de preços.
Dados da empresa de pesquisa de mercado Varejo 360 mostram que, nos primeiros vinte e um dias de janeiro, a média de unidades de leite UHT compradas por cliente caiu aproximadamente quatro vírgula cinco por cento em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já a compra de café torrado e moído recuou cerca de dois vírgula cinco por cento por consumidor.
A retração também atingiu produtos considerados pequenas indulgências, como chocolates, que registraram queda superior a cinco por cento nas unidades compradas, biscoitos, que recuaram três vírgula sete por cento, e leite condensado e creme de leite, que tiveram redução em torno de dois vírgula cinco por cento.
Surpreendentemente, itens de limpeza e higiene pessoal também apresentaram queda, mesmo sem sofrer aumentos expressivos nos preços. Produtos como sabão líquido ou em pó, sabonetes e desodorantes tiveram leve redução no volume de compras, indicando que os consumidores estão priorizando a alimentação sobre outras categorias.
Diante da alta nos preços, os consumidores passaram a substituir produtos de marcas tradicionais por opções mais acessíveis. De acordo com Ricardo Cobacho, diretor da rede de supermercados GoodBom, essa mudança começou a ser observada no último trimestre do ano passado e tem se intensificado.
O aumento da procura por marcas próprias, que costumam oferecer preços mais baixos, confirma essa tendência. Segundo Antônio Sá, sócio da empresa Amicci, que desenvolve esses produtos, as vendas desse segmento cresceram cerca de vinte por cento em janeiro em relação ao mesmo mês de dois mil e vinte e quatro.
O CEO do Sam’s Club e Carrefour Varejo, José Rafael Vasquez, destaca que a mudança no perfil de consumo já era perceptível desde o ano passado, especialmente entre as classes média e baixa, que passaram a priorizar itens essenciais e produtos mais econômicos.
A adaptação ao cenário inflacionário tem levado os consumidores a adotarem novas estratégias, como fracionar compras, postergar aquisições e diluir o uso de certos produtos. Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, explica que muitas famílias passaram a comprar itens como café em duas versões: uma mais cara para ocasiões especiais e outra mais acessível para o dia a dia.
O consumo de bens semiduráveis, como eletrodomésticos e televisores, também sofreu impacto. No início deste ano, as grandes redes de varejo registraram queda na compra desses produtos, evidenciando que os consumidores estão concentrando seus recursos nos itens essenciais e reduzindo gastos com bens de maior valor.
Diante desse cenário, especialistas avaliam que a tendência de priorização do básico deve continuar enquanto os preços permanecerem elevados, levando tanto consumidores quanto o varejo a se adaptarem às novas realidades do mercado.