As festas conhecidas como Banho de Lua têm se tornado cada vez mais populares em Maceió, oferecendo aos participantes uma experiência única nas piscinas naturais de Ponta Verde e Pajuçara. Realizadas à noite, com iluminação intensa, música alta e bares flutuantes, essas festas atraem tanto moradores quanto turistas em busca de diversão. No entanto, o crescimento dessas atividades tem despertado preocupações entre biólogos e pesquisadores, que alertam para os impactos ambientais sobre os recifes de corais e a vida marinha.
O professor Robson Santos, do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno da Universidade Federal de Alagoas, destaca que essas festas podem causar danos severos aos organismos recifais, além de provocar acúmulo de lixo e interferências sonoras e luminosas que afetam o comportamento e a reprodução da fauna marinha.
A iluminação artificial intensa pode desorientar animais, alterar padrões de reprodução dos corais e atrair predadores para áreas onde normalmente não estariam presentes. Já a música alta prejudica a comunicação de peixes e invertebrados, além de causar estresse em espécies sensíveis, como as tartarugas marinhas.
A estudante de biologia Maria Júlia Teodósio expressou preocupação em relação ao passeio, descrevendo a experiência como perturbadora. Segundo ela, a atividade, vendida como um banho de lua, se assemelha a uma festa eletrônica em meio ao mar, com luzes fortes, som alto e embarcações passando perigosamente próximas aos recifes.
Gabriel Ferreira, estudante de letras e agente comunitário de saúde, participou do passeio e afirmou ter testemunhado pessoas jogando lixo no mar, mesmo com lixeiras disponíveis nas embarcações. Para ele, a fiscalização é essencial para garantir que o turismo ocorra de maneira sustentável.
Por outro lado, Matheus Melo, dentista e frequentador do Banho de Lua, afirmou não ter conhecimento dos impactos ambientais relacionados ao evento, mas acredita que a regulamentação e a fiscalização adequadas poderiam permitir que o passeio continuasse sem prejudicar o meio ambiente.
Para os jangadeiros e guias turísticos, o Banho de Lua representa uma importante fonte de renda. O pescador Luiz Humberto destacou que a maioria dos trabalhadores que realizam o passeio depende da pesca, uma atividade muitas vezes instável. Para ele, a oportunidade de atuar no turismo melhora significativamente a qualidade de vida da categoria.
Luiz também reforçou que os jangadeiros passam por treinamentos e cursos de qualificação para garantir a segurança dos passageiros. Ele diferenciou as jangadas dos catamarãs, destacando que as primeiras são revestidas de isopor, o que as impede de afundar, ao contrário dos catamarãs, que podem naufragar caso sejam perfurados.
Especialistas concordam que o turismo pode ser uma ferramenta positiva para a conservação dos recifes, desde que seja realizado de forma sustentável. Para minimizar os impactos negativos, medidas como a restrição de iluminação artificial, a limitação de volumes sonoros, a educação ambiental dos turistas e a criação de regras claras para o uso das piscinas naturais são sugeridas.
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas informou que já realiza ações de fiscalização e conscientização ambiental em praias e áreas recifais que não estão sob gestão da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais. Além disso, está em andamento um novo plano de gestão para Ponta Verde, semelhante ao implementado na Pajuçara.
O Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas também declarou que, em parceria com a Colônia de Pescadores de Maceió, promove treinamentos e palestras para jangadeiros e banhistas sobre segurança e boas práticas ambientais.
A preservação dos recifes não significa a proibição do lazer e do turismo, mas sim a adoção de práticas mais sustentáveis. Frequentadores e operadores de turismo podem contribuir evitando o descarte de lixo no mar, respeitando as normas ambientais e evitando o contato direto com os corais.
A busca por um equilíbrio entre turismo e preservação ambiental é essencial para que as futuras gerações possam continuar desfrutando das belezas naturais de Maceió sem comprometer os ecossistemas marinhos.