Após um período de dois anos sem um governo efetivo, o Líbano finalmente anunciou a formação de um novo gabinete neste sábado (8). O presidente Joseph Aoun aceitou oficialmente a renúncia do governo provisório e assinou o decreto que nomeia Nawaf Salam como primeiro-ministro, consolidando uma nova administração para o país.
O novo governo, composto por 24 ministros, foi estruturado seguindo a tradição libanesa de divisão de poder, garantindo representação equitativa entre as comunidades cristã e muçulmana. A nomeação de Salam e a rápida formação do gabinete, ocorrida em menos de um mês, acontecem em um momento crítico, no qual o Líbano busca reconstruir as regiões devastadas no sul do país e reforçar a segurança ao longo da fronteira com Israel, após o conflito entre as forças israelenses e o grupo Hezbollah. A guerra chegou ao fim em novembro passado, com um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos.
Além das questões de segurança, o Líbano enfrenta uma grave crise econômica, que já dura seis anos e impacta profundamente a população. O colapso financeiro afetou o sistema bancário, desmantelou o setor público de eletricidade e impossibilitou que muitos cidadãos tivessem acesso às suas próprias poupanças.
Diante desse cenário, Nawaf Salam, diplomata e ex-presidente do Tribunal Internacional de Justiça, assumiu o compromisso de reformar o sistema judicial e econômico do país, buscando estabilidade para uma nação que há décadas enfrenta crises políticas, sociais e de segurança.
Embora o Hezbollah não tenha apoiado a nomeação de Salam, o grupo militante xiita iniciou negociações com o novo governo para garantir seus representantes no gabinete. O sistema político libanês exige uma divisão de poder entre as diversas comunidades religiosas, o que torna inevitável a presença de membros do grupo na nova administração.
As novas lideranças do Líbano, no entanto, marcam um distanciamento de figuras ligadas ao Hezbollah, em um esforço para melhorar as relações com a Arábia Saudita e outros países do Golfo, que há anos demonstram preocupação com o aumento da influência política e militar do grupo no país.
No início de janeiro, o Líbano também encerrou um longo período sem presidente, elegendo Joseph Aoun, ex-chefe do Exército, para ocupar o cargo. Sua escolha representou uma mudança no equilíbrio político, já que ele não era apoiado pelo Hezbollah nem por seus aliados.
Aoun tem adotado um discurso alinhado ao de Salam, defendendo que o Estado deve ter o monopólio do uso de armas, o que é interpretado como uma referência ao poder militar do Hezbollah. Seu governo promete fortalecer as instituições nacionais e trabalhar para consolidar a soberania do Estado sobre todas as forças armadas no país.
Com um novo governo e um presidente recentemente eleito, o Líbano tenta superar anos de instabilidade e reconstruir suas bases políticas e econômicas. Entretanto, os desafios permanecem enormes, e o sucesso dessa nova administração dependerá de sua capacidade de equilibrar interesses internos e externos enquanto busca soluções para a crise que assola o país.