A experiência ensina. Horas e horas de guidão ajudam a pilotar de forma
cada vez mais segura. Bom para você, para quem vai na sua garupa e para quem
está à sua volta no trânsito da cidade ou na estrada.
Mas, enquanto sua experiência
não chega, segue uma listinha de dez conselhos que o poderão evitar tombos e
acidentes, feita por quem já cometeu quase todos os erros ao guidão em mais de
três décadas pilotando motocicletas de várias marcas, modelos, tamanhos e
gêneros:
1 - Tenha sangue frio
em situações tensas
2 - Evite as fechadas
3 - No cruzamento,
antecipe os problemas
4 - Retrovisor é seu
anjo da guarda
5 - Aprenda a 'ler' o
solo
6 - Triplique a atenção
no piso molhado
7 - Não entre na onda de
amigos imprudentes
8 - Nem sempre é bom
levar garupa
9 - Aprenda a frear
10 - Estude sua moto
Agora, ponto a ponto, entenda
melhor cada uma das dicas.
1) Tenha sangue frio
em situações tensas
Pois
é, você subestimou a velocidade e agora a curva está ali, na sua cara. Nesse
caso, é mais fácil começar falando o que não fazer: frear tarde e forte
demais, jamais. Isso desequilibrará a moto, transferindo peso demasiado
para a dianteira. O que fazer? O melhor é tentar reduzir a velocidade ao
máximo, sendo suave nos comandos, tanto nos freios como na redução de marchas,
e também na desaceleração.
Estar
com o acelerador aberto e tirar a mão de uma vez também causa a temida
transferência de peso para a dianteira que, em geral, levará o piloto a abrir a
curva saindo da estrada (ou invadindo a pista contrária, o que é pior). Lembre
sempre que sua moto, em geral, é bem mais capaz do que você: ela pode inclinar
mais do que você sabe ou consegue.
Acionar
muito levemente o freio traseiro durante a curva ajuda a moto a contorná-la, fechando a trajetória,
assim como pressionar o guidão para o lado oposto. Estes são recursos eficazes,
mas o fundamental é manter o sangue frio e não se deixar dominar pelo pânico
paralisante.
2) Evite as fechadas
As
cidades grandes estão cada vez mais entupidas. É carro demais, moto demais,
pressa demais. Na ânsia de chegar mais cedo, quem está ao volante ou guidão
arrisca manobras para ganhar alguns metros, e a troca de faixas sem dar sinal é
padrão, infelizmente.
Lembrar
que motociclistas são a parte frágil da selva do trânsito é fácil, assim como
adotar uma pilotagem defensiva. Quando rodar perto de um carro, ônibus ou
caminhão tente não ficar posicionado nos pontos cegos dos motoristas que
estão na sua frente.
Como
identificar tais pontos? Simples: são os lugares onde você não consegue enxergar
os olhos do motorista nos espelhos retrovisores dele. Essa técnica está
atualmente prejudicada pela "praga" da película que escurece os
vidros, mas basta você raciocinar dois segundos para sacar quais são os pontos
onde você não é visto. Ajuda muito também manter uma distância razoável do
veículo à frente, o que nem sempre possível, eu sei. Mas rodar perto demais
só se for por pouco tempo: seja decidido e passe logo, ou então recue
estrategicamente.
Lembre-se
que ultrapassar é algo a ser feito pela esquerda. Andar no corredor não é
(ainda) proibido, mas seja esperto e não exagere.
Quanto
mais rápido estiver o trânsito, melhor, pois a diferença entre a sua velocidade
e a dos outros veículos não será nunca demasiada. Porém, em grandes avenidas,
quando uma das pistas por razão A, B ou C diminuir a velocidade, o caos se
instala, com os motoristas querendo escapar do enrosco. E é aí que mora o
perigo... Olhe longe, procurando "ler" com antecedência a cadência
do tráfego.
3) No cruzamento,
antecipe os problemas
A
preferencial é sua? Esqueça. Não adianta ter razão se quem vai se quebrar
inteiro é você. Se mesmo rodando de moto em lugares conhecidos, vez por outra
aparece um “extraterrestre” que se esparrama sem noção no cruzamento, imagine
só em áreas onde não dominamos? Assim, a regra é simples: nos cruzamentos sempre
pensar no pior e passar preparado para tal.
A
regra mais óbvia é sempre tentar ser visto, usando roupas claras, farol aceso
e, nos casos extremos, buzinar. Mas não feito um maluco, achando que o botão da
esquerda vai desmaterializar o mal à sua frente. Seja ruidoso apenas quando
necessário, e esteja concentrado 100% do tempo ao guidão.
4) Retrovisor é seu anjo
da guarda
Na
estrada ou na cidade, o retrovisor é seu anjo da guarda. Serve principalmente –
acha a maioria – para mudar de faixa ou fazer conversões à esquerda ou à
direita. Porém, na hora de frear ou reduzir a velocidade é que você deve
usá-lo, para prevenir o perigoso e cada vez mais frequente abalroamento por
trás.
Esse
tipo de colisão pode ser terrível para você, mas frequentemente causa pouco ou
nenhum dano ao infeliz que não te viu, ou não teve tempo suficiente para frear.
Nesse tempo de celulares espertos, cheios de recursos para envio de mensagens,
há gente demais dirigindo sem olhar para a frente, e à frente pode estar
você... Assim sendo, habitue-se a controlar a turma que vem atrás.
5- Aprenda a 'ler' o
solo
Na
escola da vida que ensina a arte de pilotar uma motocicleta de forma segura há
uma importante matéria, que trata do... chão.
Saber
interpretar o pavimento onde você está rodando evita problemas dolorosos.
Asfalto, concreto, calçamento, bloquete, paralelepípedos, pedras... no Brasil
há um cardápio enorme de pavimentação e em cada uma delas sua motocicleta reage
de modo diferente.
Qualquer
"mané" sabe que rodar no asfalto lisinho é uma delícia, mas
infelizmente este prazer está restrito a poucos milhares de quilômetros de
nossas ruas e estradas. Assim, olho grudado no chão é dever constante para
quem anda em veículos de duas rodas, não apenas à caça de buracos, lombadas,
mas, sim, tentando identificar as reações de sua moto ao solo em que você está
rodando. Se você estudar direitinho, vai tirar de letra dificuldades e
peculiaridades de cada tipo de pavimento.
O
terror de grande parcela dos motociclistas. Mas há maneiras de atenuar o
evidente desconforto que é rodar em piso molhado: primeira regra é ser suave
nos comandos. A baixa aderência implica jamais acionar bruscamente os
freios, câmbio, acelerador, se não... tchibum, mergulho garantido! Outra
regrinha boa é lembrar o que foi dito no item anterior, o da leitura de solo, e
tentar entender como sua moto se comporta em cada tipo de pavimento molhado. O
asfalto novo é quase tão escorregadio quanto paralelepípedo.
O
melhor piso na chuva é o concreto, que favorece a aderência.Mas, atenção: pisos
molhados não são todos iguais. Chuva que acabou de iniciar é bem mais perigosa que
aquele chuvão de horas, que já lavou a estrada, carregando fuligem e sujeiras
embora. Todavia, uma chuva muito intensa é ruim, pois cria uma lâmina
de água que o pneu não é capaz de romper. Enfim, “leia” a chuva também, e
seja suave na tocada.
6) Não entre na onda de
amigos imprudentes
Andar de moto em grupo é
legal, não? Quase sempre, e o “quase” depende da companhia. Muitas vezes os
amigos que nos convidam para aquela viagem de fim de semana ou um mero bate e
volta são do tipo que se comportam de maneira inadequada, seja por
exibicionismo, empolgação ou simplesmente ignorância de regras básicas de
segurança na pilotagem. Nestas “baladas” não se deixe levar pelo espírito da
viagem (torta) dos outros e não desrespeite seus limites.
A
regra mais segura é ser sempre equilibrado no amplo sentido da palavra, não
buscar os limites além de seu conhecimento e estágio de pilotagem, deixando-se
influenciar por quem tem mais habilidade e experiência, ou simplesmente é mais
inconsequente.
Outro
aspecto da viagem em grupo é o correto posicionamento: nunca rodar lado a
lado na estrada. A fila indiana é o ideal, com você vendo quem vai atrás
pelos dois espelhos, e se vendo em ambos espelhos do companheiro da frente. E a
qual distância? Quanto mais veloz o ritmo, mais espaço entre vocês, claro.
8) Nem sempre é bom
levar alguém na garupa
Levar
alguém na sua garupa pode ser umaexperiência ótima, só que não... Tenha bom
senso e aceite levar quem quer que seja só quando tiver um domínio razoável da
motocicleta. Principalmente nas motos pequenas, uma pessoa na garupa –
mesmo que leve – altera muito o equilíbrio da moto. E se a tal pessoa
não souber andar de moto, e nem de bicicleta, isso exige que você a instrua
minimamente, avisando que os movimentos quem faz é você, e que a ela cabe
apenas seguir a dança, sem inventar novos passos...
9) Aprenda a frear
Pesquisas
da associação dos fabricantes de motos, a Abraciclo, mostram que um dos grandes
problemas de nosso motociclista é não saber com se freia corretamente.
A
grande maioria ainda pensa que o certo é usar predominantemente o freio
traseiro,
deixando ao dianteiro o papel secundário. Na verdade, o certo é o exato
oposto: é o dianteiro que deve ser acionado com mais ênfase, algo como 70%
da força aplicada a ele, deixando os restantes 30% ao pedal traseiro.
De
fato, à roda traseira caberá apenas o papel de equilibrar a frenagem,
estando na roda dianteira o real poder de reduzir a velocidade de sua moto.
Esse assunto rende “pano para manga”, pois há uma forte e resistente ignorância
sobre o tema, assim como um temor de que a motocicleta, se o freio dianteiro
for acionado demasiadamente, capotará... Na verdade há apenas um tipo de moto
no qual se pode dar mais ênfase à roda traseira, e mesmo assim em proporção que
jamais supere o 50%-50% da força aplicada: são as motos custom, aquelas
voltadas para viagem, especialmente as maiores, com motores acima de 600 cc.
Isso ocorre em razão da arquitetura diferenciada destes modelos, que
privilegiam a concentração do peso no eixo traseiro.
10) Estude sua moto
Motos
têm caráter? Ô se têm! Algumas são furiosas, outras, pacatas ou enigmáticas...
O importante é que você conheça sua moto e saiba montar um arquivo na sua mente
sobre como agir em cada situação. Uma boa prática quando se compra uma moto
nova é buscar um lugar tranquilo e ensaiar frenagens em velocidades diferentes,
percebendo como o veículo se comporta.
A
mesma coisa deve ser feita com mudanças de direção, realizando o chamado
slalom, um zigue-zague que lhe dará noção do equilíbrio de sua nova montaria.
Frear, acelerar, frear de novo, reduzir marchas... treinar é sempre bom, assim
como botar a cabeça para funcionar e absorver o ensinamento que cada quilômetro
rodado pode trazer.
E tudo
isso para fazer do ato de rodar com qualquer motocicleta algo seguro e,
sobretudo, prazeroso e feliz, como deve ser.