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“A rotina da minha família mudou completamente. A gente não sai de casa, não bebe álcool e sente medo o tempo todo. Quando minha filha sai de táxi, anota a placa do carro e me passa. É assim que vivemos desde que meu filho morreu assassinado em uma festa de réveillon, no ano passado”.
O depoimento é de Edglenes dos Santos, pai do modelo Eric Ferraz, morto aos 24 anos em uma discussão com os irmãos Jaysley Leite de Oliveira e Judarley Leite de Oliveira, suspeitos pelo assassinato da vítima. Santos conta que a família “virou outra” depois do crime. “Precaução se tornou uma paranoia e todo cuidado é pouco para nós”, ressalta.
A esposa de Santos, Valdenice Santos, conta que fica com medo até no trabalho, em um salão de beleza montado na garagem da própria casa, em Marechal Deodoro. Valdenice diz que, depois da morte do filho, só recebe clientes antigos e as portas do estabelecimento ficam fechadas o tempo todo. “Marco hora só com quem eu conheço. Não atendo novos clientes e é tudo acertado antecipadamente. Antes ia à orla [lagunar], mas hoje? Nem pensar”.
Assim como os pais de Eric Ferraz, muitos alagoanos sentem medo ao fazer as coisas mais simples do dia a dia como comprar pão, andar de ônibus e pagar as contas no banco. Dona Luzia Menezes, de 75 anos, se encaixa neste perfil. Ela foi assaltada, furtada e já presenciou ação de bandidos que apontavam uma arma para a cabeça do motorista de ônibus em que ela estava para levar dinheiro e objetos pessoais dos passageiros. Para a aposentada, não vale a pena sair sozinha e nem usar o transporte público.
“A primeira vez que me assaltaram estava em um mercadinho que fica próximo da minha casa. Estava no caixa com R$ 80 nas mãos quando percebi que tinha dois homens armados na porta. Eles levaram a mercadoria e também o meu dinheiro. Só voltei lá uma vez em cinco anos e descobri que o estabelecimento foi assaltado outras 20 vezes”, relata Luzia.
“Outra vez fui furtada por uma menina de uns 10 anos em um supermercado. Ela rasgou a minha sacola e levou a minha bolsa que estava dentro. Foi tudo embora. Além disso, já vi por duas vezes motorista de ônibus sendo assaltado. O medo anda comigo. Peço para a minha filha ou meu neto pagar minhas contas e só ando de táxi. Acabo gastando muito dinheiro por causa da insegurança”, ressalta.
A preocupação dos alagoanos que se sentem receosos ao sair nas ruas é refletida por pesquisas que expõem o ranking de violência no país. De acordo com o levantamento do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado no último mês de novembro, Alagoas ainda é o estado com maior taxa de homicídios dolosos do país. São 58,2 mortes violentas a cada grupo de 100 mil habitantes. Os dados são de de 2012.
Em comparação com 2011, houve uma redução na criminalidade de 21,9%, resultando na queda de 2,3 mil mortes para 1,8 mil em 2012. Mas essa estatística ainda está muito além do limite máximo considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Os dados preocupam não só a população em geral como também estudiosos e pesquisadores.
Em relação ao número de latrocínios - roubo seguido de morte - o FBSP mostra que Alagoas teve um aumento assustador de 2011 para 2012. Subiu 159,3%. Uma outra pesquisa divulgada no mês de julho, traz Maceió como a capital mais violenta do país. Segundo o Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil, a cidade registrou um aumento de 116,1% no número de homicídios. Em 2001, foram registrados 485 assassinatos contra 1.048 em 2011.
Defesa Pessoal
Para tentar se proteger da violência, as pessoas estão procurando se “especializar” em defesa pessoal, assim como os integrantes do Tático Integrado de Grupos de Resgates Especiais (Tigre) e do Batalhão de Operações Especiais (BOPE). O alemão Andreas Geller que mora em Maceió há oito anos e montou uma filial do Wing Chun, no bairro da Mangabeiras, conta que a procura pelo curso cresceu bastante nos últimos anos.
Ele diz que durante as aulas ensina um sistema de luta voltado para a defesa pessoal. Segundo Geller, 50% dos alunos que se inscreveram nas aulas queriam aprender a se defender sozinhos. “Aqui a gente trabalha com o real. No Jiu-Jitsu há o tatami, mas na rua não. A diferença é que passamos um conteúdo para que tanto o cidadão quanto a polícia possam agir com o mínimo de violência”, explica.
O aluno Lucas Mattar afirma que a sensação de insegurança diminuiu bastante após as aulas de Wing Chun e agora tem mais confiança e atenção ao andar nas ruas. “Estou me preparando para a sobrevivência e agora não me sinto um alvo fácil”, diz.
Brasil Mais Seguro
O programa Brasil Mais Seguro, do Governo Federal, foi lançado em 2012 como plano piloto em Alagoas. À época, havia 60 assassinatos a cada 100 mil habitantes, o maior índice entre os estados brasileiros. Desde a implantação do programa, a redução foi de apenas 1,8% no número de homicídios, se comparado com o último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Para o governo de Alagoas, o problema da violência urbana não é só do estado, mas de toda a região Nordeste. Entretanto, o chefe do Executivo afirma está ''investindo pesado para combater a criminalidade”. Uma das medidas ressaltadas pelo Estado é o investimento no efetivo policial e realização de concurso público para a Polícia Militar.
“Nós colocamos, pela primeira vez na história de Alagoas, R$ 160 milhões, de recursos próprios, em segurança pública. São bases policiais comunitárias, novos presídios, novo Instituto de Criminalística, um novo IML, videomonitoramento em Maceió e agora já vamos colocar também em Arapiraca”, disse o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) após reunião com o ministro da Integração, Fernando Bezerra, e governadores do Nordeste.