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carolina sanches
O sonho de ser um artista de circo foi frustrado para três adolescentes de Alagoas. Iludidos com a oferta de trabalhar em um picadeiro, eles foram enganados e mantidos em cárcere privado pelo dono de um pequeno circo no interior do estado.
O caso foi desvendado na quarta-feira (11), quando o dono do circo, José Fabrício Ferreira dos Santos, 30, foi preso e sua companheira L.S., 17, apreendida em União dos Palmares, pelos crimes de cárcere privado, corrupção de menores, trabalhos forçados e estupro de vulnerável.
Um dos adolescentes esteve no Instituto Medico Legal (IML) de Maceió na manhã desta quinta-feira (12) para fazer exames de corpo e delito. O menino, que tem 15 anos e sofre de deficiência intelectual, contou como foi atraído por Santos. Ele disse que conheceu o circo em Branquinha e o proprietário ofereceu R$ 5 para que fosse com eles até a cidade de União dos Palmares.
“Me chamaram para trabalhar no circo e, como sempre gostei de assistir a apresentações, fui com ele. Achava que no mesmo dia iria voltar, mas fui amarrado em uma casa e colocado embaixo da cama”, contou o adolescente, ao dizer que na casa também havia um menino de 14 anos e uma menina de 13 que também estavam presos.
O menino, que conseguiu fugir e pedir ajuda, saiu de casa escondido no último dia 5 e passou seis dias em cárcere privado, até escapar. Ele pediu ajuda a um conhecido de sua família que mora em União dos Palmares e conseguiu dinheiro para ir de ônibus até Branquinha. No caminho, o ônibus foi interceptado por uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que comunicou à Polícia Civil.
No mesmo dia, a polícia montou uma operação e conseguiu localizar a casa, prender o casal e libertar os outros dois adolescentes. O menino de 15 anos disse que, durante os dias que ficou com o casal, era obrigado a trabalhar no circo. Ele contou que fazia um número que deitava em uma cama chia de vidro. Antes, ele participava de uma espécie de ritual em que tomava uma mistura feita com água e pingos de vela.
“Ficávamos com medo e por isso fazíamos as apresentações. O dono ainda nos prometia dinheiro, mas quando a apresentação terminava nem comida nos recebíamos”, relata o menino, que disse ter sido obrigado a fumar um cigarro quem segundo os conselheiros tutelares, se tratava de droga.
Público pagava R$ 2 para assistir
Ainda de acordo com o relato, a adolescente de 13 anos e a companheira de Santos se apresentavam como dançarinas, popularmente conhecidas por 'Rumbeiras”. Já o menino de 14 anos tomava gasolina para cuspir fogo. Além dos quatro, havia ainda a apresentação do dono do circo, que era o palhaço. Para assistir em um pequena tenda, as pessoas pagavam a quantia de R$ 2. “Mesmo durante as apresentações não conseguia fugir porque me ameaçavam”, falou.
A polícia recebeu denúncias e investiga se o casal manteve outros adolescentes em carcere privado para que trabalhassem no circo. Eles também são suspeitos de corrupção de menores, trabalhos forçados e estupro de vulnerável.
Entenda o caso
O proprietário do circo ‘Gabi Show’, e sua companheira foram localizados em uma operação comandada pelo delegado Mário Jorge Barros, titular da Delegacia Regional de Polícia (11ª DRP).
No momento da abordagem Santos tentou fugir, sendo necessário o uso da força policial para imobilizá-lo. Na abordagem, ele estava acompanhado de dos outros adolescentes, de 13 e 14 aos. De acordo com conselheiros tutelares, denúncias anônimas desencadearam as investigações.
Na operação, o delegado Regional contou com o apoio sempre da diretora de Polícia Judiciária da Área 3 (DPJA 3), delegada Sheila Carvalho e do delegado-geral Paulo Cerqueira.
A Polícia Civil faz um apelo para que qualquer outra vítima, ou quem tiver informações sobre outros crimes praticados pelo acusado, procurar a Delegacia Regional de União dos Palmares ou pelo telefone (82) 3281-2500, em caso de outras cidades, procurar a delegacia mais próxima, ou informar pelo Disque Denuncia: 181.