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O gestor Bill Ackman é figura célebre em Wall Street. Junto com Carl Ichan e Daniel Loeb, ele forma a tríade de investidores ativistas que não só compram ações de empresas, mas também interferem na sua gestão e, em muitos casos, criam brigas inflamadas com outros acionistas e controladores.
Ackman controla a Pershing Square, uma gestora que tem uma carteira de investimentos de mais de 12 bilhões de dólares. Em dezembro do ano passado, fez uma operação arriscada: apostou 1 bilhão de dólares na certeza de que as ações da Herbalife na Bolsa de Nova York vão despencar. Para ele, a empresa foi criada com base em um esquema de pirâmide que será, em breve, comprovado pelos órgãos reguladores americanos. Ackman, no entanto, nega ter informações privilegiadas sobre uma possível intervenção judicial na Herbalife.
A operação feita pelo investidor nos Estados Unidos é chamada de 'venda a descoberto' (ou shortselling, em inglês) e é proibida no Brasil. Para executá-la, o investidor aluga as ações de uma determinada empresa por um preço alto com o compromisso de comprá-las depois de um certo prazo. Se o preço subir, o investidor perde dinheiro, pois se vê forçado a adquirir os papéis por um valor superior ao total de sua aposta. Ao alugar 20 milhões de ações da empresa que vende shakes de emagrecimento, Ackman apostou que o preço cairia mais de 20% no prazo de um ano. Ele fez uma apresentação de PowerPoint de 342 páginas para embasar sua decisão. Com isso, conseguiu derrubar as ações da Herbalife de 40 para 26 dólares em poucas semanas.
Contudo, o sucesso da operação de Ackman durou pouco. No início deste ano, Carl Ichan, um dos maiores desafetos de Ackman, tomou a posição contrária e comprou mais de 16 milhões de ações da Herbalife, apostando em sua valorização. O ativista Daniel Loeb fez o mesmo. Em agosto, outro megainvestidor comprou mais de 5 milhões de ações da empresa: o húngaro George Soros. No fechamento de quinta-feira, 6, o papel da Herbalife era negociado a 64 dólares - uma alta de 60% em relação ao período em que Ackman anunciou a operação de venda a descoberto. Em entrevista concedida ao site de VEJA, o investidor explicou porque está convicto de que a empresa de produtos emagrecedores sediada nas Ilhas Cayman e com presença em mais de 80 países é um esquema ilegal e insustentável de pirâmide. “Trata-se de uma certeza. Há dois anos analiso as operações da empresa e tenho certeza que é uma pirâmide. E acredito que os órgãos reguladores dos Estados Unidos vão fechá-la”, afirma.
Outro lado
Acusada pelo megainvestidor americano Bill Ackman de ser uma pirâmide financeira, a empresa Herbalife afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que sua estratégia de atuação é a de 'venda direta', que consiste na distribuição de produtos por meio de uma rede de vendedores - e não no varejo. A Herbalife foi criada nos Estados Unidos há mais de 30 anos e sua sede fica nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal. A empresa tem ações listadas na Bolsa de Nova York desde dezembro de 2004.
A subsidiária da Herbalife no Brasil afirmou, em nota, que faz parte da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) e opera de maneira legal. "A ABEVD, legítima representante do setor de vendas diretas no país, inclusive, já esclareceu que o modelo de Marketing Multinível usado pela Herbalife é uma atividade absolutamente legal", informa o comunicado.
O principal argumento de Ackman para acusar a empresa é de que sua receita é proveniente da venda de estoques de produtos para os distribuidores, e não para os consumidores. A Herbalife nega. "A empresa opera por meio de um sistema de distribuição (venda direta) transparente, que movimenta seus produtos para o consumidor final por meio de uma rede de distribuidores independentes, os quais obtêm ganhos de maneira proporcional à revenda dos produtos. Portanto, seus ganhos não dependem da mera indicação ou recrutamento de novos distribuidores e, sim, da revenda dos produtos", informou a empresa.
O modelo de negócio de marketing multinível é muito comum nos Estados Unidos e caracteriza empresas como Avon, Natura, e Tupperware. A estratégia prevê que os produtos sejam comercializados por meio de revendedores individuais que adquirem estoques e os vendem, muitas vezes, "de porta em porta". Os ganhos de cada revendedor estão atrelados à quantidade de produto que vendem - e podem ser elevados se conseguirem angariar mais revendedores para a rede da empresa. No caso das pirâmides, o produto é uma mera fachada e os ganhos dos distribuidores estão, em grande parte, relacionados aos novos membros que aderem ao esquema.
Nos últimos dois meses, cerca de 80 firmas brasileiras têm sido investigadas pelo Ministério Público Federal por suspeita de formação de pirâmide. Os casos mais graves são TelexFree e BBom. Elas angariaram, juntas, mais de 1,3 milhão de distribuidores de produtos. O MPF afirmou, contudo, que a Herbalife não consta na lista de empresas investigadas. "Trata-se de uma empresa que existe há bastante tempo. E, em geral, esquemas de pirâmides não duram muito porque não são sustentáveis", afirmou a procuradora Mariane Guimarães, do MP de Goiás, um dos órgãos que investiga as empresas suspeitas.