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fatima de mutiis
Os assaltos a veículos que fazem o transporte complementar intermunicipal estão se tornando rotina em Alagoas. Quase todos os motoristas desse tipo de transporte coletivo têm uma história para contar. O problema é que a maioria não registra a ocorrência, o que, segundo a polícia, dificulta nas investigações e também na estruturação da segurança pública.
A Secretaria de Estado da Defesa Social de Alagoas (SDS) registrou, de janeiro até agosto deste ano, 30 ocorrências relacioandas a transportes alternativos. Um número que pode ser bem maior, devido à falta de Boletim de Ocorrência. Oficialmente, sem registros, não há ocorrências.
Flávio Amorim, 33, motorista de transporte complementar há oito anos, conta que, recentemente, foi assaltado três vezes. Ele faz a linha Maceió - Atalaia. A última vez que abordado por ladrões foi no início deste mês. Ele diz que os assaltantes agem sempre da mesma forma. "Fingem que são passageiros e quando chegam na rodovia, próximo de algum matagal ou canavial, eles anunciam o assalto. Geralmente, são dois ou três a cada ação" conta.
O motorista mostra o resultado do assalto: uma marca de tiro em um dos bancos do micro-ônibus. Ninguém se feriu, mas o susto foi grande. "A gente fica com medo, mas não tem o que fazer, é preciso trabalhar", diz.
Ele afirma que, diferentemente da maioria, sempre faz o Boletim de Ocorrência. "Tem que fazer, não tem jeito. Nesse último assalto, eu voltei do local mesmo e quando vi uma viatura da polícia militar parei e relatei o ocorrido", conta.
Mas nem todas as vítimas de assaltos fazem o Boletim de ocorrência. No último domingo (18), passageiros e o motorista da linha intermunicipal Maceió - União dos Palmares viveram momentos de terror. A agente de saúde Jaqueline Correia estava indo para União com os dois filhos de 4 e 6 anos quando dois homens, um deles armado, anunciaram o assalto. Eles fingiram ser passageiros e quando o transporte chegou na BR-104, mandou o motorista parar.
"Eu fiquei com muito medo e com aquela sensação de impotência. Depois que tudo passou, questionei ao motorista sobre o boletim de ocorrência, mas ele não respondia e seguiu viagem como se nada tivesse acontecido. Quando cheguei na delegacia de União dos Palmares, fui informada que não tinha como fazer o B.O, que deveria ter sido feito na cidade mais próxiama do ocorrido, que no caso era Rio largo", diz.
Jaqueline sabe da importância de registrar queixa. "Sem o boletim, como vamos cobrar das autoridades mais segurança? Só sei que não vou mais a União dos Palmares de micro-ônibus", desabafa.
O presidente da Cooperativa de Transporte Complementar Intermunicipal de Passageiros (Coopervan), Marcondes Prudente, diz que todas as linhas já foram assaltadas, mas a pior é a Maceió- Arapiraca. "Entre Barra de São Miguel e São Miguel dos Campos é o trecho mais complicado para os motoristas. Mas, hoje, a insegurança impera para toda categoria", afirma.
Foi neste trecho que o policial José Wellington da Silva foi assassinado durante um assalto. Edinei Silva, 53, era o motorista do micro-ônibus. Ele conta que dois homens e uma mulher que fingia estar grávida embaracaram como passageiros. Mas, quando chegaram a uma parte erma, anunciaram o assalto. Isso foi em junho deste ano. "Foi horrível, eles mantaram o policial por nada. Mas a gente tem que continuar trabalhando. Infelizmente, a gente está se acostumando com a insegurança", diz.
Para Silva, que já foi assaltado três vezes, a pena para os assaltantes é muito branda e por isso eles cometem tantos roubos. "Se a lei fosse mais rigorosa eu duvido que haveria tantos crimes assim. Agora, menores matam um homem de família e nada acontece com ele, aí fica difícil", diz.
Marcondes Prudente diz que a Coopervan orienta sempre os motoristas a procurarem a polícia pra realizar o Boletim de Ocorrência, mas confessa que nem todos o fazem. "Muitos ficam tão transtornados que não querem ir até a delegacia fazer o registro. E tem vários que têm medo de denunciar os ladrões e serem ameaçados de alguma forma", explica.
Mas, para a Polícia Militar, o registro da ocorrência é fundamental para o policiamento. Segundo o Tenente Cardoso, da assessoria de comunicação, a PM vai agir de acordo com as estatísticas e, se não houver o registro da ocorrência, a corporação entende que a região não apresenta problema e, portanto, não precisa de reforço no policiamento. Ele diz ainda que, mesmo que o roubo ocorra em rodovias, é possível ligar para 190 para chamar a polícia.
Segundo o tenente, quando a PM vai ao local do assalto é feito um COP - Comunicação de Ocorrência Policial. Esse registro vai para a estatística da PM e também para a Polícia Civil que irá investigar o crime.
Em casos de assalto em rodovias federais, a competência é da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nesses casos, as vítimas podem ligar para o 191 ou para a central da PRF, no número 2122-1391. A PRF também faz o registo da ocorrência. A agente Flaviana diz que só é possível trabalhar nas localidades mais problemáticas com a estatística atualizada.