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Hoje, faz 16 que a história de Alagoas mudou. Nesta mesma data, há mais de uma década e meia a população ia as ruas exigir que o então governador, Divaldo Suruagy (PMDB), fosse retirado do cargo, sob acusação de ser o responsável pelo maior caos sócio-político-administrativo que o estado já viveu.
Este ano a data é lembrada em meio ao rescaldo dos protestos que aconteceram por todo o país, onde as ações pediam a eficiência do Estado, em todas as suas esferas democráticas, mas há a possibilidade de que algum gestor seja afastado do cargo pelos pedidos da população?
Os especialistas não acreditam que isso chegue a se concretizar, já que esses pedidos acontecem isoladamente ou através de manifestações promovidas por entidades partidárias e sindicais.
A reportagem da Tribuna Independente conversou com dois cientistas políticos, Eduardo Magalhães e Ranulfo Paranhos, que concordaram que o momento sócio-político é diferente, estando os poderes democráticos amadurecidos.
“O fortalecimento de algumas instituições, como o Poder Judiciário, tranquiliza a população, tanto é que em todo o Brasil, o pedido de afastamento dos gestores foi algo isolado. No país inteiro, quando a população pediu o afastamento de forma concentrada, ela fez a dois personagens, o presidente do Senado, Renan Calheiros [PMDB] e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano [PSC]. Em nenhum momento pediu a cassação deles, apenas o afastamento deles desses cargos”, explicou Paranhos.
Magalhães concorda e lembra que os manifestantes são outros. “As nossas instituições democráticas estão amadurecidas. A perda de mandato hoje, não acontece de qualquer jeito. Os manifestantes de hoje conhecem os procedimentos legais para o afastamento de um político, por isso não militam mais sobre essa questão”, esclareceu o professor.
Diferenças. Manifestantes hoje conhecem processos legais
Considerada por muitos como a última grande manifestação popular do século XX - no Brasil -, a manifestação, que causou a queda do ex-governador Divaldo Suruagy, diferentemente das que aconteceram recentemente em todo o país, foi mobilizada pelos servidores públicos, que ficaram quase um ano sem salários.
Ranulfo Paranhos, cientista político, lembra que nessa época o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), começava a dar uma nova cara ao serviço público, onde o funcionalismo estava começando a ser valorizado, e mesmo assim, ainda era comum ver pessoas deixarem os empregos públicos para tentar a vida na iniciativa privada pelas incertezas nos pagamentos do poder público.
“Não se tratou de um levante popular por melhores condições dos serviços públicos, como as atuais. Tratou-se de uma manifestação, que chegou a ser armada, onde as pessoas protestavam pelo direito de receber salários e prover o sustento familiar”. Esse é o entendimento do cientista político Ranulfo Paranhos.
O também cientista político Eduardo Magalhães lembra que havia outra diferença entre os manifestantes, o tipo de envolvimento.“No movimento atual as pessoas tem nível superior e brigam por causas coletivas. Naquela época, apesar de grande parte da população estar envolvida, as pessoas queriam o direito ao seu salário. Isso por si só alavanca uma manifestação”, explicou.
“Não dá mais para afastar um político de qualquer forma, tantos anos passados da Constituição Federal em vigor. Com Suruagy já não dava”, disse Magalhães.
Naquele tenebroso 1997, até um policial militar ameaçou se matar no banheiro do Palácio Floriano Peixoto, outro PM acabou matando a família e se matando em seguida, por falta de salários.
Suruagy ainda divide opiniões de políticos
Passada uma década e meia do afastamento de Suruagy, hoje é comum ouvir pessoas alegando que ele não comandou as ações que levaram a sua queda, tendo sido uma vítima das alianças de seu governo.
Ainda assim, é difícil assumir isso publicamente, já que o ponto alto dessa crise foi o atraso de 9 meses de salários do funcionalismo público, pois politicamente essa postura poderia ser considerada uma afronta a história recente do estado.
Na atual legislatura, o único parlamentar que tinha assento na Casa de Tavares Bastos, no fatídico 17 de julho de 1997, era o deputado Antônio Albuquerque (PTdoB). Embora tenha considerado aquelas manifestações “oportunas e legítimas”, o parlamentar preferiu uma postura mais neutra quanto à participação do ex-governador.
“Não sei se ele foi vítima, mas acho injusto que ele não seja reconhecido como um grande homem do nosso estado. Foi a gestão dele que mais pavimentou estradas e atuou no desenvolvimento de Alagoas”, posicionou-se.
Entretanto, há quem ache que Suruagy foi responsável pelo que aconteceu. Esse é o caso da secretária de Estado da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Katia Born, à época prefeita de Maceió. “Ele tinha responsabilidade. Não há como ser o gestor e não ter participação no caos que foi instalado. Não foi uma coisa que aconteceu de uma hora para outra, salários chegaram a atrasar por quase um ano”, recordou.
Para o professor Eduardo Magalhães, a responsabilidade foi do ex-governador, muito embora possa ter havido despreparo de sua equipe. “Os políticos administravam de uma forma antes do Plano Real, não havia a preocupação com aumentos de salários por conta da inflação. Após o plano, os gestores não sabiam como reagir”, enfatizou.