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Cultura
08/06/2013 10:13:37

Sem incentivo, folclore alagoano está condenado a cair em esquecimento

Sem incentivo, folclore alagoano está condenado a cair em esquecimento
Ilustração

g1-al //

michelle farias

 

'Guerreiro, cheguei agora. Nossa senhora é nossa defesa'. Quem é alagoano já ouviu o trecho dessa música que remete ao folguedo denominado Guerreiro. Alagoas é umas das regiões que possui a maior variedade de folguedos e danças, com mais de 27 manifestações populares. Mesmo com tanta riqueza, os poucos grupos que ainda resistem enfrentam dificuldades para manter o sonho de uma Alagoas que se reconheça nas manifestações culturais.

 

A realidade é que os octogenários mestres folcloristas que criaram os grupos envelheceram e poucas pessoas dos movimentos têm interesse em manter viva a tradição. A desvitalização do folguedo é notória no Estado. Em Maceió, até a década de 90, ainda era possível ver os ensaios semanais dos grupos, que mobilizavam a comunidade em torno do acontecimento que ganhava caráter festivo. Hoje, poucos grupos mantêm a tradição de ensaio semanal, a maioria faz uma vez por mês.

 

“Quando eu morrer, o meu Guerreiro vai morrer comigo porque não tem ninguém para ficar no meu lugar”, lamenta um dos mais antigos Mestres do folguedo alagoano.

Aos 77 anos, Juvenal Domingos ainda 'brinca' com os amigos no bairro onde vive. Ele comanda o "Guerreiro São Pedro Alagoano" e diz que todos os sábados acontecem os ensaios do grupo. Mas o grupo, que começou com 32 pessoas, sobrevive hoje com cerca de 15 integrantes.

Juvenal lembra que aos 10 anos começou a se interessar pela cultura alagoana. Todas as noites ele frenquentava um Guerreio na Fazenda Utinga Leão, na cidade de Rio Largo e, à época, chegou até a desafiar o Mestre Sebastião, que comandava o grupo.

 

“Eu fica espiando e foi quando o Sebastião me chamou para a roda. Ele perguntou se eu sabia dançar. E é claro que fiz o melhor! Dancei e cantei todas as músicas que ele cantava e ele me disse que eu seria um dos maiores mestres do Estado. E aqui estou!”, lembra o mestre.

Há cerca de 20 anos era mais fácil ver a participação da juventude local nos folguedos. Muitos participavam dos grupos e dos ensaios. Hoje, Juvenal diz que vai em todas as casas do bairro onde mora, no Tabuleiro dos Martins, e nenhuma criança ou jovem tem interesse de ver os ensaios do grupo. “Já chamei várias vezes. Algumas crianças, antigamente, participavam, mas hoje elas têm vergonha. Não querem nem ver a apresentação”, desabafa.

 

Aos 94 anos, o Mestre Juvêncio Joaquim dos Santos também enfreta dificuldades para manter viva a tradição do seu grupo. “A Chegança alagoana foi coroada com grandes sucessos. Agradeço a Deus por ter vivido tudo isso. Mas o "Cruzador São Paulo" até agora não tem nenhum sucessor. Tenho medo que nossa história acabe", diz Juvêncio.

Em reconhecimento a uma vida dedicada ao folclore, Mestre Juvêncio recebeu, em 2009, o prêmio de Cultura popular Dona Isabel, do Ministério da Cultura. Hoje, é presidente de Honra da Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (ASFOPAL).

 

Ô Maceió! Do pastoril e do forró
Apesar das dificuldades, há 28 anos o Grupo de Folguedos e Dança Professor Pedro Teixeira mantém viva a cultura alagoana. Fundado pelo Mestre e professor Pedro Teixeira, no início, o grupo trabalhava com crianças, hoje, sob os cuidados da mestra Maria de Fátima Brasileiro Danylo, é composto por cerca de 20 jovens entre 15 e 28 anos, e já se apresentou em vários lugares do país.

Fátima Brasileiro revela que já pensou várias vezes em desistir e abandonar o grupo. "Quem trabalha com cultura sabe que é muito difícil conseguir destaque. Não temos incentivo, tudo o que temos aqui é fruto de doações. O Município e Estado deveriam investir em cultura, valorizar a cultura popular que é riquíssima", desabafa.