Numa terça feira de abril deste ano, fazendo
minha caminhada matinal ao lado de uma pessoa dotada de uma inteligência
incomum, por quem tenho admiração profunda e carinho extremo; ouvi a mesma
pronunciar algo que levou a criação deste artigo.
Muitas vezes somos apresentados a alguém, e
quando esse alguém vira às costas, a pessoa que nos apresentou diz: tenha
cuidado com aquela pessoa, porque ela é assim... e assim..., e passamos a
acreditar nisso sem ao menos conhecermos a pessoa. Então, todas às vezes que
colocamos os olhos naquela pessoa, vamos ver a mesma da daquela forma, ou seja;
vamos ver a mesma com os olhos da pessoa que nos passou a informação e não, com
os nossos olhos. E quando começamos a conhecer a pessoa, passamos enxergar a
mesma com os nossos olhos, e mudamos o nosso conceito sobre ela.
Para que possam entender melhor, citarei um
caso ocorrido quando eu fazia pós-graduação em Acupuntura. A nossa turma era
composta de vinte e quatro alunos, sendo quatro homens e vinte mulheres de
diversas áreas da saúde, tais como: Biologia, Biomedicina, Educação Física,
Enfermagem, farmácia, Fisioterapia, Medicina, Psicologia, Terapia Ocupacional e
Veterinária. Como adoro fazer amizades, de início, me entrosei com a turma e
fiz amizades praticamente com todos, com exceção de um fisioterapeuta chamado
Hugo.
O Hugo era um aluno brilhante, estudioso,
dedicado, mas aparentava ser um cara muito fechado, que não gostava de fazer
amizades e também de se aproximar das pessoas, por isso, vivia sempre só,
isolado; dificilmente se juntava a alguém para conversar. Certa vez, no
intervalo da aula, no coffee break, eu estava conversando com uma colega
Fisioterapeuta, quando o Hugo chegou para lanchar; pegou uns salgadinhos e
saiu; a colega olhou para mim e riu, então perguntei por quê? Ela me disse que
tinha estudado fisioterapia com ele e que o mesmo sempre foi daquela forma,
antipático, orgulhoso, metido, que não gostava de se juntar as pessoas porque
se sentia superior. Perguntei a colega se ela já tinha falado para alguém da
turma que ele era assim? Ela respondeu que sim, e que todos sabiam que ele era
daquela forma. Entrei na sala de aula, sentei na minha cadeira e fiquei
pensando naquilo que a colega me falou. A partir daquele momento, comecei a ver
o Hugo, exatamente daquela forma como a colega falou, ou seja; antipático,
orgulhoso e metido. E o pior é que o resto da turma também o via desta forma,
baseado nas informações repassadas pela colega Fisioterapeuta e por isso não se
aproximavam dele.
Certa vez, numa aula de fisiologia energética,
aula muito difícil, fiquei muito preocupado por não ter entendido algumas
coisas, por mais que a professora se esforçasse explicando, não conseguia
entender. Quando a aula terminou, eu muito preocupado, me dirigi ao Hugo e
perguntei se o mesmo tinha entendido? Ele respondeu que sim, e que também tinha
visto a minha agonia por eu não ter entendido, mas que era fácil de entender, a
professora foi quem tinha complicado e começou a me explicar da sua forma e as
coisas foram clareando.
No outro dia, cheguei à sala de aula e o Hugo
já estava, o mesmo se dirigiu a mim e perguntou se eu tinha entendido com as
explicações dele? Falei que sim e quando estudei o assunto em casa consegui
entender mais ainda. Conversamos por algum tempo até a aula começar. No
intervalo, fomos para o coffee break, ficamos lanchando e conversando e fui
percebendo algumas características do Hugo que eu e nem ninguém ali conhecia. O
Hugo era uma pessoa extremamente tímida, sensível, educado e muito humano. A
sua timidez exagerada o impedia de se aproximar das pessoas e fazer amizades (a
timidez é um fator primordial para causar antipatia gratuita), por isso, era
visto como antipático, orgulhoso e metido. Na realidade, tanto eu como os
colegas, estávamos vendo o Hugo com os olhos da colega Fisioterapeuta, e não,
com os nossos olhos. A partir daquele momento comecei a ver o Hugo com os meus
olhos e o meu conceito sobre o mesmo mudou. Fui informando aos colegas sobre a
sua timidez e também sobre as suas qualidades, os colegas começaram a se
aproximar dele e o ver com seus próprios olhos.
Na realidade, o Hugo nunca se isolou e nem
procurou se afastar da turma, fomos nós quem o isolamos
quando nos afastamos dele, em virtude de ver o mesmo com os olhos da nossa
colega fisioterapeuta (informações nos foram repassadas por ela, sobre ele) e
que acreditamos serem verdadeiras.
PORTANTO, NUNCA ENXERGUE AS PESSOAS PELOS
OLHOS DE ALGUÉM, A PERCEPÇÃO DESSE ALGUÉM PODE SER MUITO DIFERENTE DA SUA.
Dr. Jacinto Martins de Almeida
Psicólogo/Psicanalista/Hipnólogo/Acupunturista