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Saúde
13/05/2013 21:41:38

Enxergar Com os Olhos dos Outros

Enxergar Com os Olhos dos Outros
Dr. Jacinto Almeida

Numa terça feira de abril deste ano, fazendo minha caminhada matinal ao lado de uma pessoa dotada de uma inteligência incomum, por quem tenho admiração profunda e carinho extremo; ouvi a mesma pronunciar algo que levou a criação deste artigo.

 

Muitas vezes somos apresentados a alguém, e quando esse alguém vira às costas, a pessoa que nos apresentou diz: tenha cuidado com aquela pessoa, porque ela é assim... e assim..., e passamos a acreditar nisso sem ao menos conhecermos a pessoa. Então, todas às vezes que colocamos os olhos naquela pessoa, vamos ver a mesma da daquela forma, ou seja; vamos ver a mesma com os olhos da pessoa que nos passou a informação e não, com os nossos olhos. E quando começamos a conhecer a pessoa, passamos enxergar a mesma com os nossos olhos, e mudamos o nosso conceito sobre ela.

 

Para que possam entender melhor, citarei um caso ocorrido quando eu fazia pós-graduação em Acupuntura. A nossa turma era composta de vinte e quatro alunos, sendo quatro homens e vinte mulheres de diversas áreas da saúde, tais como: Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, farmácia, Fisioterapia, Medicina, Psicologia, Terapia Ocupacional e Veterinária. Como adoro fazer amizades, de início, me entrosei com a turma e fiz amizades praticamente com todos, com exceção de um fisioterapeuta chamado Hugo.

 

O Hugo era um aluno brilhante, estudioso, dedicado, mas aparentava ser um cara muito fechado, que não gostava de fazer amizades e também de se aproximar das pessoas, por isso, vivia sempre só, isolado; dificilmente se juntava a alguém para conversar. Certa vez, no intervalo da aula, no coffee break, eu estava conversando com uma colega Fisioterapeuta, quando o Hugo chegou para lanchar; pegou uns salgadinhos e saiu; a colega olhou para mim e riu, então perguntei por quê? Ela me disse que tinha estudado fisioterapia com ele e que o mesmo sempre foi daquela forma, antipático, orgulhoso, metido, que não gostava de se juntar as pessoas porque se sentia superior. Perguntei a colega se ela já tinha falado para alguém da turma que ele era assim? Ela respondeu que sim, e que todos sabiam que ele era daquela forma. Entrei na sala de aula, sentei na minha cadeira e fiquei pensando naquilo que a colega me falou. A partir daquele momento, comecei a ver o Hugo, exatamente daquela forma como a colega falou, ou seja; antipático, orgulhoso e metido. E o pior é que o resto da turma também o via desta forma, baseado nas informações repassadas pela colega Fisioterapeuta e por isso não se aproximavam dele.

 

Certa vez, numa aula de fisiologia energética, aula muito difícil, fiquei muito preocupado por não ter entendido algumas coisas, por mais que a professora se esforçasse explicando, não conseguia entender. Quando a aula terminou, eu muito preocupado, me dirigi ao Hugo e perguntei se o mesmo tinha entendido? Ele respondeu que sim, e que também tinha visto a minha agonia por eu não ter entendido, mas que era fácil de entender, a professora foi quem tinha complicado e começou a me explicar da sua forma e as coisas foram clareando.

 

No outro dia, cheguei à sala de aula e o Hugo já estava, o mesmo se dirigiu a mim e perguntou se eu tinha entendido com as explicações dele? Falei que sim e quando estudei o assunto em casa consegui entender mais ainda. Conversamos por algum tempo até a aula começar. No intervalo, fomos para o coffee break, ficamos lanchando e conversando e fui percebendo algumas características do Hugo que eu e nem ninguém ali conhecia. O Hugo era uma pessoa extremamente tímida, sensível, educado e muito humano. A sua timidez exagerada o impedia de se aproximar das pessoas e fazer amizades (a timidez é um fator primordial para causar antipatia gratuita), por isso, era visto como antipático, orgulhoso e metido. Na realidade, tanto eu como os colegas, estávamos vendo o Hugo com os olhos da colega Fisioterapeuta, e não, com os nossos olhos. A partir daquele momento comecei a ver o Hugo com os meus olhos e o meu conceito sobre o mesmo mudou. Fui informando aos colegas sobre a sua timidez e também sobre as suas qualidades, os colegas começaram a se aproximar dele e o ver com seus próprios olhos.

 

Na realidade, o Hugo nunca se isolou e nem procurou se afastar da turma, fomos nós quem o isolamos quando nos afastamos dele, em virtude de ver o mesmo com os olhos da nossa colega fisioterapeuta (informações nos foram repassadas por ela, sobre ele) e que acreditamos serem verdadeiras.

 

PORTANTO, NUNCA ENXERGUE AS PESSOAS PELOS OLHOS DE ALGUÉM, A PERCEPÇÃO DESSE ALGUÉM PODE SER MUITO DIFERENTE DA SUA.

Dr. Jacinto Martins de Almeida

Psicólogo/Psicanalista/Hipnólogo/Acupunturista