G1-al //
"Aqui é cada um por si. Esse caminhão veio carregado. Consegui a janta. Aqui tem
leite, café, macarrão e charque (carne seca). Hoje a mesa vai ser farta”,
comemora João Silva, 55. Esse é o depoimento de um catador de lixo que há mais
de 20 anos tira o seu sustento do lixão do município de Rio Largo, região Metropolitana de
Maceió.
Sem luvas e sem as mínimas condições de trabalho, os catadores se arriscam em meio ao lixo hospitalar, que está misturado ao lixo comum. O momento mais esperado entre eles é a chegada dos caminhões que trazem o que não serve mais para grande parte da população.
Catador há 18 anos, Manoel Bernadino revela que consegue sustentar a esposa e o filho com a atividade. Há seis anos, ele presta serviços a Prefeitura de Rio Largo para orientar os catadores do lixão e os motoristas dos caminhões. “Fico aqui para dar suporte aos motoristas. Eu indico o local onde o lixo deve ser colocado. Tenho que estar por perto porque esse é um momento muito perigoso para os catadores. Pode acontecer um acidente”, diz.
Dona Carmelita trabalha no lixão e diz que nem sente mais o odor exalado pelo lixo. Há 25 anos, ela disputa um lugar com os urubus e os animais que residem no local. Em Rio Largo, todos os dias, oito caminhões coletam o lixo da cidade e levam para o lixão. Apesar de o trabalho ser perigoso, ela revela que, com a venda dos materiais encontrados, ela ganha em média R$ 850 por mês. “Tudo o que eu tenho na minha casa é fruto do que consigo encontrar aqui”, afirma.
A reportagem do G1 flagrou o momento em que um caminhão carregado de lixo trouxe sacolas com várias seringas. Segundo os catadores, isso é comum no lixão de Rio Largo. “É muito perigoso, principalmente porque a maioria trabalha sem luvas. Já entramos em contato com a Prefeitura várias vezes, mas esse material continua chegando por aqui”, diz a catadora.
Para mudar a realidade desses catadores e melhorar o Meio Ambiente, em 2010 foi instituída uma Lei Federal de Resíduos Sólidos que diz que todos os lixões do Brasil deverão ser desativados. Mas os 25 catadores que trabalham no lixão de Rio Largo estão preocupados. Eles ainda não sabem como farão para sustentar as suas famílias se isso acontecer.
Aos 58 anos de idade e sem estudo, ela não sabe o que fazer após a desativação do lixão. “Tenho esperança que não vou ficar sem trabalhar, sem conseguir tirar meu sustento”, comenta, esperançosa, Dona Carmelita.