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natália souza
A presença de 70 famílias do Movimento Sem-Terra (MST) que estão acampadas desde a terça-feira (9) na Fazenda Bebedouro, há cerca de 12 km do centro do município de Boca da Mata, vem incomodando os proprietários da terra. Os fazendeiros acusam os integrantes do movimento agrário de impedir a livre passagem de pessoas no terreno.
O terreno, com cerca de 700 hectares, pertence à Sônia Dâmaso Quintela e estaria sendo vendido, segundo o genro da fazendeira, ao administrador de empresas João Pedrosa. "O terreno pertencia ao pai da dona Sônia, mas ele faleceu e os herdeiros estão negociando a venda", afirma.
"A produção na fazenda realmente está parada, mas, no início da semana, assim que os sem-terra ocuparam o local, dois tios da minha sogra foram para lá e não estão podendo sair. Quando eu e meu cunhado tentamos entrar, eles nos intimidaram com facões. Isso não pode, impedir a saída de pessoas da casa é mantê-los como reféns, isso é cárcere privado", argumenta Pedrosa.
O administrador de empresas destacou que muitos dos acampados possuem casa própria na cidade de Boca da Mata. "Algumas pessoas são manipuladas pelos cabeças por trás do movimento", diz.
Sem-terra negam acusação
Ao avistar o carro da reportagem do G1, por volta das 11h30 desta quarta-feira (10), os integrantes do MST foram logo abrindo o portão da fazenda. A bandeira do movimento já podia ser vista há metros de distância. Segundo eles, em nenhum momento os proprietários da terra foram impedidos de transitar no local.
"Isso é mentira deles. Nós não proibimos ninguém de passar aqui, muito menos intimidar com nossas ferramentas de trabalho. Inclusive, tem um senhor que está doente e uma médica da família vive entrando e saindo. Faz pouco tempo que ela saiu daqui. A gente usa os movimentos sociais para salvar vidas e não impedir delas serem salvas", afirmou Francisco da Silva, um dos coordenadores do movimento.
Com barracos recém-levantados e alguns ainda sendo armados, os produtores rurais afirmaram que ainda não conseguiram plantar, mas já estão se mobilizando para isso. "O açude aqui está seco e dependemos da água da chuva, mas enquanto isso vamos plantando hortaliças com sistemas de irrigação alternativos", afirma Silva.
José Antônio da Silva, outro integrante do movimento, admitiu que tem residência em Boca da Mata, mas se uniu aos acampados para reforçar o movimento em prol da reforma agrária. "É uma maneira que encontramos de pressionar e agilizar a reforma agrária pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]", afirma.