todosegundo //
ascom mpe-al
O Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc) do Ministério
Público Estadual de Alagoas ofereceu denúncia penal, no último dia 08, contra
Márcio Fidelson Menezes Gomes, ex-prefeito do município de Maravilha e outras 11
pessoas, todas acusadas da prática dos crimes de fraude em licitação,
apropriação de bens ou renda públicas ou desvio em proveito próprio ou alheio,
falsificação de documento público, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
Depois de investigar uma série de processos licitatórios dos últimos quatro
anos, o MPE descobriu irregularidades em pagamentos de produtos e serviços na
ordem de aproximadamente R$ 2 milhões. E, com base nos interrogatórios e
documentos comprobatórios do esquema, o Gecoc pediu a prisão dos acusados, o que
foi determinado pela 17ª Vara Criminal da Capital. Os mandados foram cumpridos
por agentes da Divisão Especial de Investigação (Deic), da Polícia
Civil.
Foram presos na operação o ex-secretário municipal de Obras e
Urbanismo, Everaldo Joaquim dos Santos; o ex-secretário de Finanças, Audeny
Santos Menezes; o membro da Comissão Permanente de Licitação; a sócia da Clara
Construições Ltda Karleanny dos Anjos Silva; o intermediário do esquema Daniel
Ramos Pinto; e o ex-controlador Interno da Prefeitura de Maravilha, José Carlos
Alves de Melo. O ex-prefeito de Maravilha, Márcio Fidelson Menezes Gomes, já é
considerado foragido. A denúncia também foi ofertada contra Renato Aparecido da
Silva, Mauro F. Rodrigues Júnior e Cláudia Adriane Rocha Silva, todos
integrantes da Comissão Permanente de Licitação; Simone Andrea das Chagas, sócia
da Construtora Mano Chagas; José Tadeu Batista Brunet, proprietário das empresas
BR e Construtora Catingueira, além de representante legal da Orion
Construtora.
No Gecoc, as investigações começaram no final do ano
passado, depois do deferimento e execução de liminar requerida na medida
cautelar autorizada pelo Juízo da 17ª Vara Criminal da Capital, onde ocorreu o
cumprimento de vários mandados de busca e apreensão. Após análise detalhada dos
documentos apreendidos, constatou-se as irregularidades. “Em virtude da
intervenção da supracitada organização criminosa, vários processos de pagamento
e de licitação foram dolosamente manipulados e fraudados nos anos de 2009, 2010,
2011 e 2012, em acintosa afronta às disposições contidas na Lei nº 8.666/93, que
regulamenta o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, e institui normas
para as licitações e contratos administrativos, configurando, tais condutas,
diversos delitos autônomos, a exemplo dos crimes de apropriação de verbas
públicas, fraudes em licitações, peculato furto, falsificação de documento
particular, falsidade ideológica, uso de documento falso e formação de
quadrilha, causando, em consequência, um prejuízo de R$ 1.973.890,17 (hum
milhão, novecentos e setenta e três mil, oitocentos e noventa reais, dezessete
centavos) aos cofres públicos, em beneficio dos fraudadores e em detrimento dos
princípios constitucionais reitores da administração pública e da população
daquele ente federativo”, diz trecho da denúncia.
“Aprofundada a análise
da relação de empenhos emitidos/liquidados 2009/2012 da Prefeitura Municipal de
Maravilha/AL, foi possível ir mais além, contabilizando-se diversos outros
pagamentos efetuados às empresas usadas pela quadrilha, as quais, destaque-se,
nunca prestaram serviços, jamais realizaram obras ou em tempo algum forneceram
qualquer espécie de material à Prefeitura”, continuam a denúncia.
As empresas vítimas e envolvidas no
esquema
O MPE também comprovou que algumas empresas foram vítimas
da quadrilha, haja vista que tiveram seus dados fiscais copiados e transferidos
fraudulentamente, por meio de falsificação de documento particular, para
processos licitatórios fictícios e notas fiscais ilegais. Além do que, tiveram
seus dados inseridos na relação de empenhos emitidos e liquidados entre os anos
de 2009 e 2012, como forma de maquiar o desvio de recursos públicos pelo bando
criminoso.
Foram fraudados documentos contra as empresas Pé de Ferro
Construções e Serviços Ltda, SEA Comércio e Serviços Ltda; Construtora Três
Irmãos Ltda e Farias e Farias Comercial Ltda. Sérgio de Farias Oliveira,
ex-sócio da SEA e proprietário da Farias e Farias, em depoimento aos promotores
de Justiça que integram o Gecoc negou envolvimento nas fraudes, desmentiu sua
participação em obras ou serviços naquela entidade municipal e ainda reconheceu
a falsificação das assinaturas na ata de julgamento e no contrato derivado do
certame 06/2011 da Prefeitura Municipal de Maravilha.
Já as construtoras
BR, Catingueira, Orion, Mano Chagas, Clara e Sol foram beneficiadas pelo
esquema. José Tadeu Batista Brunet, dono da BR e da Catingueira, além de
representante legal da Orion, confirmou, também em depoimento, que, apesar de
ter vencido as ‘Cartas Convites 12/2010, 03/2011, 12/2011, 14/2011, 15/2011 e
17/2011', suas empresas não realizaram qualquer obra ou prestaram serviços; que
o dinheiro ganho por suas empresas através de obras não realizadas na Prefeitura
de Maravilha era repassado para Daniel e Aldenir - ex-secretário de Maravilha,
além de outras pessoas e que fora Daniel quem lhe chamara para participar desses
“negócios”’.
Os pedidos de
prisão
O Gecoc acusa o ex-prefeito Mário Fidelson Menezes Gomes de
ser o chefe da organização criminosa. Na denúncia, ele é acusado, por 14 vezes,
do crime de fraude em licitação; 54 vezes de ter se apropriado de bens ou renda
pública ou de ter os desviado em proveito próprio ou alheio; três vezes do
ilícito de falsificação de documento público; 70 vezes de falsidade ideológica,
70 vezes pelo uso de documento falso e ainda por formação de
quadrilha.
“É fato público e notório que, dentre os integrantes da
quadrilha, encontram-se o ex-prefeito de Maravilha, dois ex-secretários
municipais, além de integrantes da Comissão Permanente de Licitação e
empresários, todos, poderosos e influentes e que integram uma organização
criminosa que também se especializou na apropriação de dinheiro público em
benefício dos seus integrantes através da prática de fraudes em procedimentos
licitatórios, falsificação de documentos, peculato e formação de quadrilha. Os
denunciados, incluindo o ex-prefeito Márcio Fidelson Menezes Gomes, chefe da
citada organização criminosa, atuam no Município, onde a maioria da população,
inclusive, servidores públicos, por temê-los, submetem-se aos seus caprichos,
sendo certo que, em liberdade, os denunciados causarão sérios transtornos à
instrução criminal, um dos fundamentos autorizadores da decretação das suas
prisões preventivas, uma vez que, sem restrição da liberdade de locomoção, os
denunciados serão capazes de subverterem o conjunto probatório, de intimidarem
testemunhas, os familiares das testemunhas ou qualquer outra pessoa que se
disponha a ofertar informações sobre eles, sobre a organização criminosa a que
pertencem ou a respeito dos fatos que também a eles são imputados”, justifica o
Gecoc ao pedir a prisão dos acusados.
“A manutenção da atividade delitiva
do grupo tem provocado intenso clamor social e abalado a própria garantia da
ordem pública, mais um dos fundamentos justificadores da custódia cautelar ora
pleiteada, segundo os preceitos contidos no artigo 312, Primeira Parte, do
Código de Processo Penal, sendo necessário, pois, também através da decretação
das suas prisões preventivas, acautelar o meio social e própria credibilidade da
Justiça. Além do que, se continuarem em liberdade, os denunciados, em razão da
influência e do poder que detém, com certeza, continuarão a praticar novos
crimes da mesma espécie, seja porque são acentuadamente propensos a práticas
delituosas dessa natureza, seja porque, uma vez em liberdade, encontrarão os
mesmos estímulos relacionados às infrações penais também por eles já cometidas”,
completa o MPE.
As prisões foram decretadas pela 17ª Vara Criminal da
Capital e cumpridas pela Polícia Civil. Apenas o empresário José Tadeu Batista
Brunet não teve mandado de prisão solicitado. Ele vai responder a denúncia em
liberdade porque contribuiu, de forma efetiva com as investigações ministeriais.