O Brasil tem ganhado mais espaço no mercado internacional de soja em meio ao impasse comercial entre Estados Unidos e China. O país asiático, maior comprador global da commodity, até agora não realizou pedidos da nova safra americana, abrindo margem para maior participação dos exportadores brasileiros.
Poucos dias antes do início da temporada de embarques dos EUA, produtores norte-americanos alertam para riscos financeiros, enquanto dados oficiais mostram que Pequim mantém cautela nas compras. Em março, a China aplicou tarifas sobre a soja americana, o que reduziu a competitividade do produto. A colheita dos EUA começa em setembro, mas a disputa comercial, prorrogada até 10 de novembro, tem travado negociações.
Tradicionalmente, as processadoras chinesas antecipam reservas para assegurar o fornecimento de ração animal, mas desta vez as negociações políticas pesaram mais do que a lógica de mercado. Durante o primeiro mandato de Donald Trump, a soja já havia sido usada como moeda de troca para reduzir o déficit comercial dos EUA com a China.
Enquanto Washington e Pequim buscam um acordo, o Brasil se beneficia. A consultoria Mysteel estima que mais de 30 milhões de toneladas de soja brasileira devem chegar à China nos próximos três meses. Ao longo da década, o país asiático importou entre 90 e 105 milhões de toneladas anuais, e só em agosto o Brasil ainda tinha cerca de 37 milhões de toneladas disponíveis da safra passada, o equivalente a 22% do total, segundo a Safras & Mercado.
Ainda que a dependência sul-americana traga riscos sazonais, traders afirmam que o Brasil e a Argentina têm condições de suprir boa parte da demanda. Um gestor de uma grande usina chinesa relatou que já possui contratos com fornecedores do continente até novembro.
O desafio, contudo, está no custo. O grão brasileiro acumula alta de quase 20% neste ano e é negociado com prêmio em relação ao produto dos EUA. Para equilibrar a equação, a China tem buscado diversificar suas fontes, inclusive com testes de importação de farelo argentino, e reduzir a dependência da soja nas rações, além de adotar medidas para conter o crescimento de seu rebanho suíno.
Nesse cenário, enquanto o impasse persiste, o Brasil consolida seu papel como principal fornecedor da oleaginosa à China, reforçando sua relevância no comércio agrícola global.