Com a reforma do Imposto de Renda em debate na Câmara dos Deputados, que prevê aumento da tributação sobre os mais ricos para compensar a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, voltou ao centro das discussões a ideia de que o país estaria vivendo uma fuga de milionários. O temor é de que a elevação de impostos acelere esse movimento.
Relatórios da consultoria Henley & Partners, especializada em vistos de investimento, estimam que 1,2 mil milionários devem deixar o Brasil em 2025, um crescimento de 50% em relação a 2024. O estudo coloca o Brasil como líder latino-americano nesse tipo de êxodo. Mas a metodologia da empresa é alvo de críticas e especialistas apontam limitações.
Para avaliar o fenômeno, a BBC News Brasil obteve da Receita Federal, via Lei de Acesso à Informação, dados inéditos sobre declarações de saída definitiva do país. Esse documento é obrigatório para quem se muda de forma permanente ou permanece no exterior por mais de 12 meses.
Os números mostram que, embora a saída de milionários venha aumentando desde 2022, menos de 1% deles deixa o país a cada ano. Além disso, essa taxa vem caindo de forma consistente desde 2017. O dado é relevante porque o número de milionários no Brasil cresceu fortemente nos últimos anos, quadruplicando em 12 anos: de 81 mil em 2011 para mais de 366 mil em 2023.
Em 2017, auge das saídas, o Brasil enfrentava crise econômica e política, a Lava Jato prendia empresários e havia pressão para regularizar ativos não declarados no exterior. Desde então, a proporção de milionários que deixam o país vem diminuindo, com média de 0,5% ao ano. Até agosto de 2025, 1.446 milionários entregaram a declaração de saída definitiva, número próximo ao recorde de 2017.
Entre os destinos mais procurados estão Estados Unidos, Portugal, Reino Unido, Uruguai e Espanha. Especialistas citam fatores como busca por segurança, oportunidades de negócios e regimes tributários mais vantajosos. O Uruguai, por exemplo, permite isenção de renda obtida no exterior por até dez anos.
Economistas apontam, porém, que o peso da carga tributária não é determinante. O Brasil ainda é um dos países que menos taxam os super-ricos, já que lucros e dividendos distribuídos são isentos. Mesmo com a proposta de tributar dividendos em 10%, a carga combinada de impostos sobre lucros ficaria em 40,6%, abaixo da média de 42,8% da OCDE.
Para o pesquisador Sérgio Gobetti, do Ipea, os privilégios tributários dos mais ricos no Brasil ainda são amplos e a reforma não teria força suficiente para provocar uma fuga em massa. Já Pedro Humberto Carvalho Jr., também do Ipea, avalia que o país precisa adotar medidas como um imposto de saída e a revisão das isenções a fundos exclusivos de não residentes, para evitar que milionários mudem o domicílio fiscal apenas para reduzir impostos sem retirar seus bens do Brasil.
A conclusão dos dados inéditos da Receita é que, apesar do crescimento absoluto no número de saídas, a proporção de milionários que deixam o Brasil é pequena e vem caindo. Ou seja, não há sinais de um êxodo em massa motivado por mudanças tributárias, mas sim de um movimento restrito, influenciado por fatores econômicos, políticos e de planejamento patrimonial.
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