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m 23 de abril de 1893, nasceu em União dos Palmares Jorge Matheus de Lima, filho do comerciante José Matheus de Lima e dona Delmina Simões. A antiga Vila Nova da Imperatriz, situada no Vale do Mundaú, nas proximidades da Serra da Barriga, fez parte, no Século XVI, do anfiteatro da legendária República dos Palmares.
Naquela pequena cidade, cheia de folguedos e figuras populares, Jorge viveu a sua meninice cheia de carinhos e cuidados, fascinado pelas histórias e lendas contadas por seus moradores, que mantinham viva a exuberante tradição oral do seu povo. Encantava-se com a celebração de feitos históricos, pelo orgulho demonstrado por seus habitantes e pela forte atmosfera de religiosidade.
Rabiscou em 1899, os primeiros versos, cuidadosamente guardados pela mãe em um caderno. No ano seguinte, 1900, num momento inesquecível de sua infância, Jorge de Lima, assistiu, do sobrado onde morava, a passagem do século, em meio às festividades da Praça da Matriz e às superstições e ansiedades do povo pelo grande acontecimento.
Foi importante para a formação cultural do grande poeta a experiência de sua infância. Nas suas obras, é forte a presença de sua terra natal. A magia da epopéia do Quilombo dos Palmares, do legado negro, os sinos da igreja, os costumes de uma sociedade rural, senhorial, são fontes de uma inspiração banhada de ternura e religiosidade.
Prosperando nos negócios, em 1902 a família abriu uma loja em Maceió, permanecendo, porém, com a de União. O objetivo era a continuação dos estudos dos meninos. No ano seguinte, egresso das escolinhas da sua cidade, onde estudavam com suas tias, Jorge e seu irmão, Matheus, concluíram o curso primário em Maceió, no Instituto Alagoano, que tinha em seu quadro docente os melhores educadores. Era dirigido por Joaquim Goulart de Andrade e Alfredo Wucherer. Um dos professores é o historiador Moreno Brandão. O Instituto era adquirido no ano seguinte pelo Bispado foi convertido em Colégio Diocesano.
Após concluir os exames preparatórios no Lyceu Alagoano, em 1909, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador.
Permaneceu dois anos na capital baiana, participando intensamente de debates sobre a filosofia evolucionista. Em 1914, transferiu-se para a capital da república, matriculando-se na faculdade de medicina do Rio de Janeiro. Visava adquirir maior prática hospitalar e aperfeiçoar-se na carreira. Fez concurso para interno do Hospital Central do Exército, então um estabelecimento de referência e foi bem classificado. Prosseguiu o curso e obteve o título de Doutor em Medicina, após defender tese e ser aprovado com distinção. Retornou a Maceió, onde passou a clinicar.
Publicou o seu primeiro livro de poesias e se tornou conhecido nacionalmente pelo livro XIV Alexandrinos. O soneto, “O acendedor de lampiões”, cada vez mais elogiado pela crítica, é exaltado pela sua bela qualidade.
A famigerada gripe espanhola chegou a Alagoas fazendo milhares de vítimas. Médico altamente conceituado, atendia ao governador e às pessoas mais humildes dos bairros da periferia de Maceió. Recebia indistintamente os ricos e os pobres no seu consultório, na Farmácia Industrial, na rua do Comércio, como também em sua residência, na Praça Sinimbu. Não cobrava dos necessitados e ainda mandava fornecer-lhe os remédios. Atendia dia e noite com o mesmo espírito humanitário.
A popularidade que conquistou, reveladora de um grande prestígio que possuía junto aso diversos segmentos da sociedade alagoana, levou o Governador Fernandes Lima, em 1918, a convidá-lo para compor a chapa governista como candidato a deputado estadual. Reeleito em 1921, renunciou, não concluindo seu segundo mandato. Voltaria à atividade política anos depois, elegendo-se vereador em 1945, no Rio de Janeiro, e presidindo a câmara municipal. Participou ativamente da campanha em favor da redemocratização do país.
Fundou em 1919, com um grupo de intelectuais, a Academia Alagoana de Letras. Professor de História Natural e Higiene, defendeu tese de literatura no Lyceu Alagoano, ocupando, posteriormente, a direção do estabelecimento de ensino, a direção geral da instrução pública e a direção geral da saúde pública.
Vítima de um atentado a tiros que sofreu em pleno centro de Maceió, por motivos passionais, e acabrunhado com o incidente, transferiu-se para o Rio de Janeiro. A população e toda a capital do Estado, lamentando a decisão, lhe ofereceram total solidariedade.
Jorge de Lima percebeu tudo quanto a economia brasileira ficou a dever à raça negra.
“Pai João
Fez brotar do chão
A esmeralda das folhas:
Café, cana, algodão
Pai João
Cavou mais esmeraldas
Que Paes Leme”.
Não foi, entretanto, por motivos econômicos ou sociais que Jorge de Lima cantava o negro. Ele sentiu o negro e, através do negro, chegou até os aspectos sociais do trabalho escravo.
A Negra Fulô, também, se fez amante do senhor
“O sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa
O senhor disse: Fulô!
( A vista se escureceu
que nem a Negra Fulô)
Essa Negra Fulô!
Essa Negra Fulô!
A poesia negra de Jorge de Lima reflete a alma brasileira do poeta e é fruto da experiência modernista da qual ele foi uma das melhores expressões. Sua identificação com a realidade brasileira foi autêntica, pois para isto bastou-lhe voltar à sua infância, tão rica de vivências. No seu inconsciente, sua infância estava costurada à infância do Brasil, à aventura portuguesa nos mares do sul. Certamente a História do Brasil, tal como era contada pelos homens da geração de Capistrano, encantou a infância de Jorge de Lima. No início ele não tinha talvez essa consciência, mas sua lírica e sua religiosidade já estavam impregnadas de uma ternura tipicamente lusitana.
Não tinha excentricidades de gênio; era gênio, sem anomalias congênitas ou cultivadas. No fundo, era de uma bondade sem limites. Vestia-se com discreto apuro; amava as cores neutras; cultivava as tintas com propriedade. Por acaso, ou por condicionamento da própria natureza, havia uma singular harmonia entre os seus gostos físicos e espirituais. Uma admirável proporcionalidade marcava o ritmo de suas preferências. Nunca se excedeu; nunca foi polêmico; nunca se destemperou. Nem a política, para a qual não tinha a menor vocação, perturbou a sua serenidade. Se alguma coisa o magoava, ele se ressentia com um estóica dignidade. Sua formação cristã ensinou-lhe a ser humilde. Mas humilde, sem defecção; humilde, sem pusilanimidade; humilde, sem renúncia ao comando vigilante, ativo, da sua consciência. Jorge nos demonstra que não é o grito que convence; é a palavra, simplesmente, que triunfa.
Jorge de Lima alcançou na capital da República um sucesso com ressonância ainda maior. Assumiu, em 1937, a presidência da União dos Intelectuais do Brasil. Consagrou-se como homem de letras, jornalista e médico. Foi aprovado como professor de Literatura Brasileira da Universidade do Distrito Federal e foi eleito presidente da Sociedade Carioca de Escritores. Agraciado, em 1940, com o prêmio máximo da Academia Brasileira de Letras, teve sua obra conhecida no exterior. Lançou, em 1950, a sua Obra Poética , aplaudida pela crítica e pelos leitores em todo o país. Visitou Maceió em 1951 e recebeu as maiores homenagens de seus conterrâneos. Foi a despedida da terra natal. Em 1952, Invenção de Orfeu é saudada internacionalmente. Começou a sua enfermidade. Agravou-se no Rio de Janeiro, com reconhecimento geral de que morria um dos maiores vultos da intelectualidade brasileira.
Nota da Editoria : De público, toda editoria deste noticioso, e acreditamos, a maior parte da sociedade de União dos Palmares terra natal de Jorge de Lima agradece ao autor desta mini biogfrafia de nosso conterraneo ilustre publicado pelo emerito ex-governador Divaldo Surugy.
Há passagens no escrito que até desconheciamos até então, e que num momento em que há uma busca de educação de toda comunidade brasileira, eis que aparece este estadista ao qual Alagoas, o Nordeste e todo Brasil é grato por sua atuação na vida como homem, politico e intelectual.
Feliz e Lúcido 2010 para o Governador Divaldo Suruagy e Familia. Obrigado.