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11/09/2009 00:00:00

Municípios

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Aos 34 anos, em outubro de 1859, o jovem imperador Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina fizeram uma viagem antológica pelo Nordeste, incluindo os municípios ribeirinhos alagoanos do rio São Francisco — de Piaçabuçu até a Cachoeira de Paulo Afonso, em Delmiro Gouveia. O casal imperial atravessou parte dessa epopeia muitas vezes montado em lombo de burro ou a bordo da frota de navios a vapor do Império.

“Partimos de Salgado às 2 da madrugada e chegamos a Paulo Affonso pouco depois das 5 1/2. Na distância de menos de légua é que se ouviu o ruído da cachoeira. Logo que me apeei comecei a vê-la. É belíssimo o ponto em que se descobrem 7 cachoeiras que se reúnem na grande, que não se pode descobrir daí, e algumas outras fervendo a água em caixão de encontro à montanha que parece querer subir por ela acima; o arco-íris produzido pela poeira da água completava esta cena majestosa (...) Tentar descrever a cachoeira em poucas páginas, e cabalmente, seria impossível, e sinto que o tempo só me permitisse tirar alguns esboços muito imperfeitos”.

O impressionante relato é do próprio imperador, que escreveu seu diário de bordo com textos e ilustrações da aventura real. O livro “Viagens pelo Brasil — Bahia, Sergipe e Alagoas — 1859”, foi organizado pelo professor Lourenço Lacombe, a partir da edição de 1959 — com título original Diário de Viagem ao Norte do Brasili —, no centenário da expedição, pela Universidade Federal da Bahia. Nesta nova edição, de 2003, os direitos para língua portuguesa são da Bom Texto Editora.

Da viagem a Alagoas, são 46 páginas, das 325 que compõem os textos escritos pelo imperador e que registram os dez dias que o imperador visitou as cidades ribeirinhas — em trecho de ida e volta entre a cachoeira de Paulo Afonso e a foz do rio São Francisco, que Dom Pedro chamou de Pontal da Barra.
Nos sítios históricos de Penedo, Pão de Açúcar, Piranhas e Delmiro Gouveia pontificam prédios que formam o cenário da viagem imperial e que continuam preservados e expostos à visitação pública.

“Na fazenda dos Olhos d’água fiquei mal acomodado na senzala — nome que convém à casa que aí há —, mas sempre arranjei cama em lugar de rede e dormiria bem, apesar das pulgas, cujas mordeduras só senti outro dia de manhã, se não fosse o calor, e a falta de água que é péssima aí, tardando a de Vichy, que vinha na bagagem pela falta de condução”, completa o rei, em outro trecho do livro.

Os textos e ilustrações do imperador trazem à tona os usos, costumes, tradições da comunidade, em tom de memórias. As anotações foram feitas apressadamente, no calor da hora, e quase sempre com detalhes dos locais e notas quase sempre curiosas e interessantes.

Em Pão de Açúcar, o imperador pernoitou nos dias 17 e 22 de outubro de 1859. Em seu diário de viagem, depositado no Museu Imperial, D. Pedro II tece elogios à vila: "A vista do Pão de Açúcar é bonita".

O imperador descreve sua chegada: "Cheguei por volta das 8 ao Pão de Açúcar. Receberam-me com muito entusiasmo e um anjinho entregou-me a chave da vila. Defronte desta povoação há uma grande coroa de areia, que me cansou atravessar e com a luz dos foguetes, que não têm faltado por todo o rio(...)”.

O sobrado onde pernoitou o monarca é hoje ponto de atração turística
 

por Assessoria