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25/07/2009 00:00:00

Especiais

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com gazetaweb // janaira ribeiro e wanessa oliveira

Depois de quase uma semana acampados na Praça da Faculdade, comemorando os 25 anos de existência da Comissão Pastoral da Terra (CPT), cerca de 1000 agricultores retornam neste sábado (25), aos seus acampamentos e assentamentos. A programação termina hoje com uma missa e um almoço de celebração. O grupo também comemora o Dia do Agricultor, cuja data real é na próxima terça-feira (28).

Segundo o coordenador da CPT em Alagoas, Carlos Lima, a programação contou com diversas atividades durante toda a semana. "Nós fizemos doação de sangue, uma caminhada e uma audiência com o governador, além da doação de alimentos à comunidade de Sururu de Capote", relatou. "A doação foi destinada a essa comunidade, porque entendemos que é lá que ocorre a maior demonstração do êxodo rural. Também tivemos doação de sangue, para mostrarmos que não só estamos ligados à causa da reforma agrária, mas como a sociedade como um todo", esclareceu.

Para vice-coordenadora, Heloísa Amaral, esta data é uma forma de reconhecimento pelos esforços do trabalhador do campo. “Somos mulheres, homens e jovens que, todos os dias, enfrentam as diferentes adversidades, cultivando a terras, produzindo e gerando empregos e renda. Estamos ajudando a construir a grandeza do Brasil, ajudando-o a ter prosperidade na agricultura”, defende ela.

O padre Alex, que atua na Paróquia de Japaratinga e vai celebrar a missa deste sábado, revela a importância da defesa à reforma agrária e da CPT na assistência aos agricultores. "A CPT está junto para ajudar a quem luta por um pedaço de terra. Sabemos que o Brasil é um país grande, tem terra para todos e, mesmo asim, muita gente sofre. Logo quando a CPT surgiu, estávamos no meio de um monstro que é a ditadura. Hoje estamos em meio a um outro monstro, o agronegócio, que acaba por reprimir a agricultura familiar", explicou.

A agricultora Maria da Conceição, do acampamento Flor do Bosque 3, localizado no município de Messias, está acampada há cerca de quatro meses, com seus seis filhos e relata a importância da agricultura para sobrevivência da família. "Nós plantamos maxaxeira, batatas, temos uma roça grande. Precisamos dessa terra para continuar trabalhando, porque eu não tenho emprego, estou ficando velha e quero deixar uma terra para meus filhos", conta. "Lá, tudo o que plantamos é livre de agrotóxico, porque não queremos envenenar as plantas e a nós mesmos", ressaltou.


Doação de alimentos

Na última quinta-feira (22), a CPT distribuiu mais de cinco mil quilos de alimentos com os moradores da favela Sururu de Capote. Foram frutas, verduras e legumes produzidos em mais de 15 assentamentos e acampamentos espalhados em vários municípios do interior de Alagoas.

Segundo Heloísa Amaral, a iniciativa visou mostrar aos moradores da favela o quanto eles poderiam ter produzido, caso tivessem permanecido no campo. “O êxodo rural contribui para a formação dos bolsões de miséria. Muitas famílias vindas do interior passam fome aqui em Maceió porque não conseguiram trabalho. Se elas tivessem permanecido em alguns acampamentos ou assentados, poderiam estar vivendo uma outra realidade. E, claro, além de ajudar a matar a fome dessas pessoas, a nossa ação também é um gesto de solidariedade”, explicou a vice-coordenadora.

A líder comunitária da Sururu de Capote, Vânia Teixeira, elogiou a iniciativa da CPT. “São irmãos que, a exemplo de nós, também enfrentam muitas dificuldades. E, mesmo tendo que enfrentá-las, foram capazes de pensar em nós e dividir um pouco do que conseguiram produzir. A gente só tem a agradecer. Distribuímos os alimentos com as famílias daqui da favela e levamos parte para os companheiros que foram levados para o conjunto Cidade Sorriso, lá no Benedito Bentes. Não podemos nos esquecer que aqui nós temos a lagoa para pescar e lá em cima? Lá não há fonte de comida”, destacou a líder comunitária.

História

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) teve início no ano de 1975 em Goiânia, em um período de silêncio e brutalidade impostos pelo regime militar. A inspiração dos Bispos católicos criou um organismo ecumênico capaz de compreender os camponeses e assessorar suas lutas por terra, direitos e liberdade, além de incentivar seu protagonismo.

Em Alagoas a CPT surgiu no ano de 1984, na tetativa de combater a realidade de miséria oriunda da monocultura da cana de açúcar. Atualmente a CPT-AL acompanha 1.525 famílias camponesas distribuídas em 40 áreas: 15 assentamentos e 25 acampamentos, nas regiões da zona da mata, litoral norte, agreste e sertão.

 

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