Diante da constatação de que a instalação da CPI da Petrobrás criada no Senado, será inevitável, partidos da base governista deverão se reunir nesta terça-feira para definir estratégias, garantir o controle da comissão - presidência e relatoria - e discutir a escalação do time. Investigado por uma CPI quando era governo, o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor (AL) deve integrar agora a comissão de investigação da Petrobras, pelo PTB.
Também deve participar a já conhecida tropa de choque do PMDB, sob o comando do líder Renan Calheiros (AL) - que admitiu se autoindicar -, com nomes como Almeida Lima (SE) e Gilvam Borges (AP). O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), também gostaria de participar e já teria até feito o pedido a Renan.
Como maior partido da Casa, além de poder reivindicar a presidência, o PMDB pode indicar até mesmo o próprio Renan como suplente. A ideia inicial é aproveitar a vantagem numérica a favor da base aliada sobre a oposição - os governistas terão oito titulares na CPI e a oposição, apenas três - para assegurar tanto a presidência como a relatoria.
Melhor ficar vermelho um dia e assegurar o comando total da CPI, do que passar os próximos 180 dias amarelo - defendia um líder governista. A recomendação do governo é para que seja escalada uma tropa de absoluta confiança dos líderes. Já a oposição pretende brigar por um dos postos de comando.
- Se o governo não quiser ceder a relatoria ou a presidência para a oposição, vai começar esticando a corda. Não é o ideal para quem diz que não quer criar dificuldades a Petrobras - advertiu o líder do DEM, José Agripino.
Inicialmente rachada, a oposição também se reunirá na terça para traçar sua estratégia. O DEM não mostrava interesse pela CPI na semana passada, quando o PSDB comandou a leitura do requerimento que deu início ao processo de criação da comissão.
PSDB e DEM terão três das 11 vagas titulares da CPI. São duas vagas para o DEM, de direito, e uma para o PSDB. Mas os democratas cederam uma segunda cadeira aos tucanos, já que eles pediram a CPI.
Uma delas deverá ser ocupada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da comissão. A outra, pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ou pelo líder da bancada, Arthur Virgílio (AM).
O bloco de apoio ao governo, composto por PT, PSB, PR, PCdoB e PRB, deverá discutir as indicações para as três vagas a que terão direito. O líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), não escondeu a disposição para ocupar uma delas. Outros candidatos fortes para compor a CPI são Delcídio Amaral (PT-MS) e Ideli Salvatti (PT-SC), escolhida ontem líder do governo no Congresso, em substituição a Roseana Sarney (PMDB-MA), que foi empossada governadora do Maranhão.
PP, PTB e PDT, apesar de alinhados ao Planalto, votam de forma independente em muitas ocasiões. Cada um desses partidos contará com uma vaga.
- Em se tratando de PMDB, tudo é possível. Ele pode ajudar o governo ou atrapalhar o governo, vai depender muito dos interesses da cúpula do partido - afirmou o senador Jarbas Vasconcelos (PE), do PMDB, mas alinhado com a oposição.
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que não conseguiu retirar as assinaturas de apoio à CPI dadas por integrantes da base aliada, comandará a reunião na manhã de terça
A oposição rebate as críticas do governo de que o partido, mais o PSDB, apostam na lógica do quanto pior, melhor.
- Defendo que vá para a CPI quem tenha perfil para participar de um processo de investigação com equilíbrio e competência - disse Agripino.
Segundo ele, a audiência pública com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, não aplacaria a ânsia da oposição por uma CPI.
- A estratégia de ouvir o Gabrielli, que era o que eu sentia como a posição majoritária na bancada, é uma etapa vencida. A instalação da CPI é um assunto definido - disse Agripino.
Líder do PT admite deslize
Diante do fato consumado, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), fez um apelo nesta segunda-feira por uma investigação responsável que não criminalize a Petrobras. Ele reconheceu a existência de problemas na gestão da empresa, sem esclarecer se estariam relacionados com as supostas irregularidades apontadas pela oposição.
- A Petrobras tem três mil gerentes e 50 mil contratos. É evidente que temos problemas na gestão da Petrobras, nesses contratos, em uma parcela desses contratos, dessas gerências. É evidente - afirmou o senador, durante discurso no plenário.
Mercadante criticou o PSDB, que pressionou pela criação da CPI e não concordou em esperar a realização de uma audiência com Gabrielli, para que as denúncias fossem rebatidas antes da instalação da comissão.
Governo teme ficar refém do PMDB
Avaliação feita por integrantes do núcleo de articulação política no Planalto indica que a CPI deixará o governo refém de sua base no Senado, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estaria ciente disso. A maior preocupação é com o comportamento do PMDB, que tem demonstrado nos bastidores interesse pela criação da CPI.
Segundo um auxiliar direto do presidente Lula, o jogo duplo do PMDB teria ficado claro na semana passada, em meio às articulações do governo para tentar impedir a criação da CPI. A percepção é de que os aliados querem usar comissão para ampliar espaço no governo e dar o troco por recentes atritos
Fonte: O Globo