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01/04/2009 00:00:00

Especiais


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Da Redação // uol
 
Você já mentiu hoje? Segundo inúmeros estudos científicos, contar uma cascata de vez em quando faz parte da natureza humana. Mesmo quem evita mentir acaba omitindo a verdade não apenas uma, mas várias vezes ao dia, segundo pesquisadores.

O motivo pode variar a cada mentira lançada. Sentir-se melhor com a própria imagem, poupar o outro de um fato doloroso, obter alguma vantagem são algumas justificativas. Quanto maior o contato social, maior a necessidade de mentir, é o que indicam estudos.
Veja algumas conclusões de estudos realizados sobre a mentira recentemente:

1) O ato de mentir ou omitir a verdade desencadeia o envio de sangue para o córtex pré-frontal (localizado logo acima das cavidades oculares), que controla vários processos psicológicos, incluindo aquele que ocorre quando uma pessoa inventa uma resposta. É o que descobriu o cientista Sean Spence, professor de psiquiatria adulta geral na University of Sheffield, na Inglaterra, com ajuda de testes com equipamento de ressonância magnética.

Ele sugere que monitorar o fluxo sanguíneo de certas áreas cerebrais pode funcionar melhor que os atuais testes de polígrafo. Mas ele adverte que mais pesquisas são necessárias antes que os fMRIs possam ser utilizados com precisão para determinar a culpa ou inocência de alguém em um caso criminal.

2) O ser humano mente tanto, e com tanta facilidade, simplesmente porque isso funciona. É o que afirma David Livingstone Smith, diretor fundador do New England Institute for Cognitive Science and Evolutionary Psychology e autor do livro "Why we lie: the evolutionary roots of deception and the unconscious mind" (sem tradução no Brasil).

"Como humanos, devemos nos enquadrar em um sistema social fechado para sermos bem-sucedidos, ainda que nosso alvo principal seja nos colocarmos acima de todos os demais. Mentir ajuda. E mentir para nós mesmos - um talento desenvolvido por nosso cérebro - ajuda-nos a aceitar nosso comportamento fraudulento."

3) A mentira considerada patológica pode ter origem em um desequilíbrio raro da substância cerebral, segundo cientistas da Universidade do Sul da Califórnia. A equipe coordenada por Yaling Yang escaneou o cérebro de 12 mentirosos confessos e de outros voluntários que não tinham histórico de mentir compulsivamente. Yang ficou surpresa ao descobrir que o cérebro dos mentirosos tinha 22% a mais de substância branca nas regiões pré-frontais, relacionadas à tomada de decisão e ao discernimento. A substância branca liga os neurônios entre si - que, em conjunto, são chamados de substância cinzenta.

4) Todo mundo mente, sem exceção. Segundo experimento realizado em 1997, pelo psicólogo Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos, até quem se considera sincero diz uma mentirinha a cada oito minutos. Os maiores mentirosos revelados pela pesquisa de Jellison são pessoas com maior número de contatos sociais: vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas.

Na opinião do psicólogo, a origem de tanta lorota é o fato de que procuramos constantemente desculpas para comportamentos que outros poderiam julgar inadequados. Por isso criamos uma justificativa para o atraso de um trabalho, por exemplo.
Ninguém vive sem mentir
Psicólogos, antropólogos e neurobiólogos confirmam: mentir não é apenas um processo cognitivo complexo, mas também um componente decisivo de nossa competência social

por Ulrich Kraft

"Não levantarás falso testemunho", reza o oitavo mandamento. Outrora esculpido em pedra, hoje ele não vale sequer o papel em que é impresso. É, acima de tudo, desrespeitado. Desde que Adão e Eva contaram a primeira mentira da história da Humanidade, o que vale mesmo em nossa espécie é a palavra não cumprida - nisso, psicólogos e sociólogos concordam. Todo ser humano trapaceia, mente e engana; e, diga-se de passagem, faz isso de forma corriqueira, resoluta, refinada e calculista. Você também, aliás! Ah, não? Então você diz com todas as letras ao dono da casa que aquela festa para a qual ele lhe convidou estava um tédio mortal?

É fato científico que engodos e mentiras são nossos companheiros constantes. Em 1997, por exemplo, o psicólogo Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos, ouviu as conversas diárias de 20 pessoas submetidas a uma experiência e analisou as fitas gravadas em busca de inverdades. O resultado é acachapante para os amantes da verdade: do ponto de vista estatístico, mesmo os mais sinceros participantes disseram uma mentira a cada oito minutos. "Em geral, são apenas mentirinhas, mas, de todo modo, são o que são: mentiras", avalia Jellison. Na opinião do psicólogo, procuramos constantemente desculpas para comportamentos que outros poderiam julgar inadequados. Assim, inventamos um engarrafamento como pretexto para um atraso, ainda que, sinceramente, não tivéssemos a menor intenção de ser pontual. Os maiores mentirosos revelados pela pesquisa de Jellison são pessoas com maior número de contatos sociais - vendedores, auxiliares de consultórios médicos, advogados, psicólogos e jornalistas.

"O engodo é componente tão central em nossas vidas que compreender melhor esse fenômeno é algo importante para quase todos os assuntos humanos", sentencia Paul Ekman, diretor do Laboratório de Interação Humana, de San Francisco, e um dos pioneiros na pesquisa da mentira. A fim de aprofundar suas investigações sobre o assunto, neurocientistas reúnem pessoas para que digam inverdades em laboratório, enquanto eles medem a atividade nas diversas regiões cerebrais dos mentirosos. Psicólogos analisam a mímica facial e os gestos, em busca de sinais que denunciem a falácia; estudam também nossa capacidade de detectar mentiras e tentam estabelecer em que momento as crianças aprendem a contar suas primeiras lorotas.


Sem maldade

O mais surpreendente nos resultados dessas pesquisas é que elas retiram, pouco a pouco, o estigma negativo das mentiras. Muitos antropólogos acreditam que esse tão destacado talento humano para artimanhas sutis e embustes astuciosos não constitui absolutamente uma capacidade a se lamentar. Sua origem não seria um pendor para a maldade, mas comporia, antes, elemento decisivo de nossa inteligência social. "Superestima-se o valor moral de se dizer a verdade", escreve, por exemplo, David Nyberg, professor de filosofia e pedagogia na Universidade de Nova York. "Sem o engodo e o despistamento, nossas complexas relações seriam impensáveis".



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