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30/03/2009 00:00:00

Cultura


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Os poemas "O Acendedor de Lampiões" e "Invenção de Orfeu" renderam fama e prestígio literário a Jorge de Lima (1893 - 1953). Mas os célebres versos também ofuscaram outros talentos do escritor nascido em União dos Palmares. 

 

Sua prosa, por exemplo, permanece na penumbra. Poucos ouviram falar dos seus romances e raros são os alagoanos que leram as páginas de "O Anjo", "A Mulher Obscura" e "Guerra dentro do Beco". 

 

A pesquisadora e jornalista Simone Cavalcante é uma dessas exceções. Ela foi além da simples leitura e dedicou quase três anos ao estudo do romance "Calunga", publicado em 1935, quando o médico Jorge de Lima já morava no Rio de Janeiro. 

 

O resultado da empreitada foi uma dissertação de mestrado no curso de Letras da Ufal "Decidi estudar 'Calunga' para buscar entender por que a obra foi tão massacrada pela crítica, mesmo fazendo parte da famosa lista de publicações do romance de 30", disse Simone, que em 2005 lançou o livro “Literatura em Alagoas”.   

 

A voraz consumidora da literatura feita por alagoanos conversou com o Tudo na Hora. Abaixo, os principais trechos da entrevista. 

 

Como surgiu o interesse por Jorge de Lima?

Há alguns anos venho pesquisando a história da literatura em Alagoas, desde sua formação até os dias atuais. E durante essas pesquisas redescobri meu interesse pela obra de Jorge de Lima, especialmente pelos seus romances.  

Nesse contato íntimo com a obra do escritor, o que mais lhe chamou atenção?

O que mais me surpreende na obra de Jorge de Lima é a sua capacidade de utilizar a linguagem literária para seus próprios fins. Ele é um dos poucos autores brasileiros que conseguiram trafegar por diversos estilos (simbolismo, parnasianismo, modernismo) sem ficar preso a nenhum deles. Sempre inquieto, ele soube utilizar, ao mesmo tempo, os recursos da tradição e da renovação estética, para construir um universo simbólico próprio, de intensa carga poética. 

 

Por que Jorge de Lima ainda é tão desconhecido em Alagoas?

Talvez uma das explicações para esse esquecimento resida no fato de Jorge de Lima ter se consagrado apenas como poeta. Como sabemos, a poesia é um gênero ainda pouco lido no país. Outro agravante está no fato de o idioma poético utilizado por ele ser bem mais denso, a exemplo do seu poema "Invenção de Orfeu", exigindo dos leitores um maior grau de interpretação. Eu arriscaria afirmar que se ele tivesse sido reconhecido também como romancista, poderia ter alcançado a sorte de Graciliano Ramos de circular ainda hoje nas salas de aula brasileiras. 

O que fazer para mudar essa situação?

Na minha opinião, o primeiro passo seria admitir que a principal garantia da permanência de um autor é a leitura de sua obra. Sem a re-edição dos livros de Jorge de Lima voltada ao público jovem, seu nome não passará de citação em compêndios literários, estudos acadêmicos e arquivos de museus e bibliotecas. O que torna a obra viva é o seu contato com o público e, nesse sentido, deve existir uma mobilização conjunta entre professores, alunos e demais leitores para reivindicar a circulação urgente dos textos desse renomado escritor. 

 

Pretende aprofundar ainda mais Jorge de Lima?

A travessia pela obra de Jorge de Lima vai continuar, mesmo que não resulte em novos trabalhos acadêmicos. É impossível passar por seus livros sem encontrar um sentido de beleza e encantamento, até mesmo quando ele fala das misérias humanas. Meu grande desafio é atravessar "Invenção de Orfeu" numa leitura mais aprofundada. Planos futuros. 

Como anda o processo da segunda edição do livro "Literatura em Alagoas"?

Algumas escolas particulares vêm adotando o livro que teve a primeira edição esgotada. Mas tenho o grande propósito de vê-lo circular, principalmente, nas mãos de estudantes de escolas públicas. É nesse sentido que venho pleiteando com a Secretaria de Estado da Educação a sua adoção na rede de ensino médio. 

A pesquisa continua?

O livro que escrevi é aberto, seguindo a dinâmica da literatura em Alagoas. A produção literária não parou nos clássicos, a exemplo de Graciliano Ramos e Jorge de Lima, como muita gente costuma admitir, muitas vezes, por preconceito de ler os contemporâneos. Estou sintonizada com as produções da atualidade, e o papel do meu livro é localizar esses escritores no seu tempo. Luto pela construção dessa história como algo vivo, e não pelo seu engessamento.

com tudonahora // robserto amorim



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