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09/03/2009 00:00:00

Saúde


Saúde

 greve dos médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) que já dura oito meses em Alagoas fez o número de internações no Hospital Geral Estado (HGE), único hospital público que hoje recebe casos de urgência e emergência em Maceió, crescer quase 60% nos primeiros meses deste ano.

Nos corredores do hospital, a reportagem do UOL Notícias viu cenas da superlotação. Os pacientes se aglomeram em macas pelos corredores, enquanto os poucos atendentes se desdobram para tentar prestar o serviço. As instalações do hospital mostram precariedade em detalhes como a farmácia. Na área de atendimento à emergência, a superlotação é evidente.

Inaugurado em setembro de 2008, a nova unidade deveria atender apenas a casos de atendimento imediato, mas, segundo a Secretaria da Saúde do Estado, abriga hoje um grande número de pacientes que deveriam ser atendidos em unidades básicas ou que tiveram doenças crônicas agravadas por falta de acompanhamento médico.

Os dados do HGE revelam um crescimento significativo na superlotação. Em 2007, quando o Estado atendia os pacientes na antiga Unidade de Emergência e os médicos SUS trabalhavam normalmente, a taxa de ocupação média mensal ficou em 103,2% da capacidade.

No ano passado, já com seis meses de paralisação da categoria e com a inauguração do HGE, essa mesma taxa alcançou 143,6%. Nos primeiros dois meses de 2009, o aumento na procura superlotou ainda mais o hospital, e a taxa de ocupação saltou para 164,3%. Taxa de ocupação acima de 100% é sinônimo de internações a mais do que a capacidade do hospital, que é de 260 pacientes.

Somente nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, foram 22 mil atendimentos prestados no hospital, uma média de 366 por dia. Em 2007, a então Unidade de Emergência tinha ocupação média de 153 pessoas. A média de pacientes internos também cresceu. Em 2008, esse número saltou para 241. No primeiro bimestre, essa média é de 398. Como a capacidade do HGE é para 260 pacientes, na sexta-feira (6) pelo menos 138 a mais da capacidade buscavam espaços entre os corredores e as salas de atendimento.

A taxa média de permanência dos pacientes na unidade também cresceu. No ano passado, por exemplo, apenas 7,4% dos pacientes que davam entrada no HGE precisavam de internação. Este ano, esse número saltou para 12,5%.

As reclamações são constantes. "É esse o novo hospital que o governador disse que ia salvar nossa saúde. Não tem uma cama para ele", gritava José Firmino na emergência, enquanto seu pai seguia "internado" no corredor da unidade.

Já a dona-de-casa Maria da Penha esperava o filho, de 16 anos, ser transferido do HGE. Com um problema cardíaco, ele conseguiu uma transferência dele para um hospital da rede privada. "Estou esperando desde as 11h30 um médico somente para dar a assinatura autorizando. São quase 15h e não consegui. Ficam dizendo que o médico não chegou", disse a mãe do adolescente.

O caso do filho de Maria é reflexo da falta de atendimento do SUS. Ele precisa de uma cirurgia para correção de uma válvula no coração. Como os médicos estão em greve, a espera resultou no agravamento do caso.

"Ele teve um problema na terça e desde lá estava internado na UTI, mas hoje [sexta] foi liberado para a enfermaria", informou. Uma cirurgia está marcada para o dia 2 de abril, e ela tem confiança que o problema de médicos e SUS estará resolvido daqui para lá. "Espero que ele seja operado. Ele descobriu isso no ano passado, se já tivesse sido, não estaria aqui hoje", explica.

Demissões

O caos hoje é tal que pelo menos cinco médicos, segundo o sindicato da categoria, já pediram demissão do HGE por causa da superlotação. Um deles foi o intensivista Ubiracy Mello de Almeida. "Além do baixo salário [ele diz que ganhava R$ 2.400 por mês por 24 horas de plantão], a sobrecarga de trabalho aumentou demais nos últimos meses. Ficou insuportável. No HGE, temos 15 leitos de UTI para um só profissional, quando a norma diz que devem ser no máximo 10 por médico. Como não podia atender a todos, preferi sair", explica o profissional, que deixou o HGE em dezembro de 2008 agora trabalha para hospitais particulares.

Segundo Mello, que era concursado e trabalhava para o Estado desde 2004, a superlotação da UTI se deve ao "mau serviço" prestado da rede básica de saúde e piorou consideravelmente com a paralisação de médicos do SUS. "Com certeza essa greve piorou muito a situação da emergência. Se tivéssemos um bom atendimento do SUS e da rede municipal, creio que daria para trabalharmos bem. Como não conseguia prestar um bom atendimento, pedi para sair", diz.

Outro lado

Em Alagoas, apenas dois hospitais públicos atendem casos de urgência e emergência. Além do HGE, em Maceió, a Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca, também recebe pacientes de baixa e média complexidade. Porém, os casos mais graves são sempre encaminhados para a capital. Além do HGE, na capital mais cinco ambulatórios atendem 24 horas, mas recebem apenas casos clínicos ou de pacientes com ferimentos leves. Todos são geridos pelo Estado.

Para o superintendente de Atenção à Saúde da Secretária do Estado, Vanilo Soares, além da greve dos médicos, o caos no HGE se deve principalmente ao "mau serviço de saúde" prestado pelo município de Maceió. "O município não tem um posto 24 horas, uma ambulância. Tudo vai para o HGE. A área superlotada é a do médio risco, que é aquele paciente que não conseguiu atendimento na atenção básica. A cobertura do Programa de Saúde da Família em Maceió é de apenas 26%. Tudo contribui para essa superlotação", afirma Soares.

Para tentar resolver o problema do descredenciamento dos médicos do SUS em Alagoas, Estado e município devem ter uma reunião nesta segunda-feira (9) para buscar uma solução. "Na quarta (11), vamos a Brasília para conversar com técnicos do Ministério e mostrar o problema que temos aqui. É preciso que nos voltemos a resolver esse serviço da atenção básica e do SUS. Só assim vamos acabar com a superlotação no HGE", disse o superintendente.

Os cerca de 300 profissionais que prestam serviços ao SUS no Estado decidiram, na última segunda-feira (2), pedir descredenciamento em massa. A decisão foi em protesto contra os baixos valores pagos pelo sistema e a falta de complemento da tabela SUS por parte do Estado e do município de Maceió. Os médicos esperam reunir pelo menos 90% das assinaturas pedindo a saída até o fim do mês para entregarem todas ao Ministério da Saúde.

Maternidade

Por conta da superlotação, outro hospital em Maceió precisou de uma atitude mais drástica. A Santa Mônica, única maternidade pública a atender parturientes de alto risco em Alagoas, suspendeu por mais de 15 horas o recebimento de novos pacientes, entre esta quinta e sexta-feira. O motivo foi a superlotação do berçário. Um cartaz foi colocado na porta da unidade pela direção. Os casos mais graves foram encaminhados ao Hospital Universitário, que também atende a gestantes pelo SUS.

Segundo funcionários da maternidade, a UTI neonatal estava com cinco bebês a mais que a capacidade. "Essa suspensão de atendimento acontece com frequência, pois quando lota, não temos como atender mais casos", informou uma das atendentes.

com uolnoticias // carlos madeiro



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