Depois de dez anos
de quedas consecutivas, a participação da economia informal na soma de todas as
riquezas produzidas no País, o Produto Interno Bruto (PIB), deve voltar a
crescer nos próximos dois anos por causa do forte ajuste na atividade
econômica, que já tem reflexos no aumento do desemprego.
No ano passado, a
economia informal movimentou R$ 826 bilhões, ou 16,1% do Produto Interno Bruto
(PIB), uma fatia 0,2 ponto porcentual menor do que em 2013. Desde 2003 a
informalidade da economia está em queda livre, segundo o Indicador de Economia
Subterrânea (IES) calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getulio Vargas (Ibre/FGV) a pedido do Instituto Brasileiro de Ética
Concorrencial (ETCO).
"Pelo ajuste
que está sendo feito, muito provavelmente o que deve ocorrer nos dois próximos
anos é um aumento da informalidade. Trata-se de um ajuste muito profundo que
está ocorrendo na economia", afirma Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV
e responsável pelo indicador.
No último ano, a
IES, que é termômetro da atividade econômica fora dos registros formais e que
pretende captar, além da informalidade, a pirataria, a sonegação de impostos,
entre outros expedientes, teve um recuo muito pequeno comparado a períodos
anteriores.
Em 2003, quando o
indicador começou a ser calculado, a informalidade respondia por 21% do PIB,
cinco pontos porcentuais acima da participação registrada no ano passado. De lá
para cá, houve quedas expressivas em praticamente em todos os anos, exceto em
2009. Naquele ano, por causa da crise financeira internacional, o indicador
recuou 0,2 ponto porcentual. Foi a mesma retração registrada no ano passado. Essa
quase estagnação na fatia da informalidade no PIB é um indício de que o
processo de redução ocorrido nos últimos dez anos deve começar a ter uma
reversão.
"A redução da
economia subterrânea está se dando mais vagarosamente", observa o
presidente executivo do ETCO, Evandro Guimarães. Ele pondera que nenhum país
deixa de ter uma parte da economia na informalidade. Mas ressalta que 16% é
participação muito alta da economia informal no PIB e que há um grande espaço
para a formalização. "Equivale ao PIB da Argentina", compara.
Forças
Pessôa pondera que
há hoje na economia duas forças atuando. Uma delas é um processo mais
estrutural de formalização da economia, impulsionado pela melhoria
institucional do País e por avanços na qualificação da mão de obra. A outra
força, que age no sentido contrário, é o peso da conjuntura, marcada pelo forte
ajuste na economia. "O que nós vamos observar é a resultante dessas duas
forças. A minha impressão é a de que nos próximos anos o que vai prevalecer é a
conjuntura."
Segundo o
pesquisador do Ibre/FGV, pelos dados mais recentes da Pesquisa Mensal do
Emprego do IBGE, nota-se que a participação do trabalhador sem carteira de
trabalho assinada parou de cair e já está subindo "um pouquinho".
O ex-motorista particular Adilson Dantas, de 41 anos, é um dos trabalhadores que migraram para a economia informal. Desde que deixou o emprego com carteira assinada, em meados de 2014, ele não conseguiu se recolocar formalmente na economia. "A situação está difícil. Emprego aparece, mas para trabalhar seis dias por semana e ganhar R$ 900." Como motorista, ele tirava R$ 1.400. Cansado de enviar currículos, Dantas decidiu vender roupas.
Comprou R$ 2 mil em malhas em Minas
Gerais e tenta revender as peças na rua e pela internet. "Mas, por
enquanto, o movimento está fraco", conta. Notícias ao Minuto. Com
informações do Estadão Conteúdo.