Quando começou a cair a primeira nevasca no fim de novembro de 1944, os
soldados brasileiros que combatiam na frente italiana perceberam que aquela
seria uma batalha sem tréguas. Não bastasse o teatro de operações de guerra,
eles também enfrentariam o que seria o inverno mais rigoroso nos últimos 50
anos na região apenina. Aliás, se existem duas palavras capazes de descrever o
que sentiam os pracinhas nos fronts da Segunda Guerra Mundial, elas são medo e
frio. A morte sondava os soldados a todo o instante e eles sofriam com a
temperatura média de -20º C, em fardas que em nada protegiam. “A gente, no
início, tinha que vestir quase dez camadas de roupas, camisas por cima de
suéter. Dormíamos vestidos, calçados. Era terrível”, conta o jornalista e
escritor Joel Silveira, que cobriu a Segunda Guerra Mundial na Itália ao lado
de soldados brasileiros.
No total, foram mais de sete meses de uma guerra ingrata e impiedosa
para a Força Expedicionária Brasileira (FEB), desde o primeiro combate, em
setembro de 1944, até a última ação, em abril do ano seguinte. É verdade que,
ao fim, foram contabilizadas vitórias – Camaiore, Monte Castelo e Montese,
entre outras –, mas a maioria dos soldados, inexperiente, teve de aprender na
marra a lutar. As tropas do país eram formadas por jovens vindos de classes
humildes e sem proximidade com os acontecimentos do mundo exterior, explica o
historiador Cesar Campiani Maximiano, autor de uma pesquisa sobre a experiência
dos soldados brasileiros. Contrariando todas as expectativas negativas, eles
aprenderam rapidamente a guerrear na frente de operações. O Brasil tinha
declarado guerra aos países do Eixo em 31 de agosto de 1942, em resposta ao
suposto torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães, que
resultou na morte de mais de 780 pessoas.
Porém, entre optar pela guerra e enviar as tropas para o combate, houve
um longo caminho. Foi somente em junho de 1944, após quase dois anos de
discussão e planejamento da missão brasileira, que os primeiros soldados
embarcaram para a Itália. O destino não foi uma escolha aleatória. “Como o
Brasil tinha uma tropa de Terceiro Mundo, despreparada aos olhos dos Aliados,
os Estados Unidos determinaram que deveríamos ir para um front considerado
secundário”, conta João Fábio Bertonha, professor de história contemporânea da
Universidade Estadual de Maringá, no Paraná.
Após a chegada do escalão da FEB – a primeira força latino-americana a
desembarcar em solo italiano –, os soldados foram incorporados ao 5° Exército
dos Estados Unidos e seguiram para a conclusão do treinamento de guerra.
Iniciada ainda no Brasil, essa preparação foi organizada pelos americanos, que
se instalaram no país quando o governo fez a declaração de guerra.
Uma vez no front, a situação dos mais de 25 mil soldados que combateram
pela FEB não era nada boa. “Nós vivíamos numa cratera, cercados de alemães no
cume dos morros. Ficamos em Porreta-Terme, onde estava o quartel-general
avançado do general Mascarenhas. De dia, o comando da FEB queimava óleo diesel
para fazer uma cortina de fumaça: qualquer movimento que a gente fizesse ali,
se os alemães percebessem, era a morte certa”, lembra Joel Silveira. Ahistoria.com
- Maria Carolina Cristianini, Still Marcelo Zocchio