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Em ano de ajuste no Orçamento
Federal, o Custo Aluno Qualidade (CAQ), um dos instrumentos que pode
aumentar o repasse da União para educação nos estados e municípios, é um dos
principais temas em discussão no 15º Fórum Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação.O prazo para que seja implementado termina em um ano.
Sem a garantia de aumento de repasses,
secretários e representantes dos estados mostraram preocupação com o
possível aumento das contas. Os municípios são os que percentualmente mais
gastam com educação e os que concentram o maior número de matrículas nas
escolas públicas.
Alguns secretários alegaram
dificuldades para pagar professores, que consome boa parte dos recursos.
"Com os atuais repasses, é difícil arcar com esse custo", afirmou a
secretária de Educação de Moju (PA), referindo-se ao CAQ. "Tenho de manter
mais de 150 barcos e 160 transportes rodoviários. Não temos dinheiro. Estamos
infringindo a Lei de Responsabilidade Fiscal para pagar professores",
acrescentou.
"Sem parecer aprovado até agora, o
CAQ dificilmente constará das leis que definirão a despesa da União em
2016", informou o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito
à Educação, Daniel Cara. A entidade é responsável pela criação do CAQ.
Segundo Cara, para que o instrumento
funcione é preciso aumentar a complementação da União no investimento em
educação no país. Dados de 2014 obtidos pelo senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) indicam que a União contribui com 18%, os estados com 40% e os
municípios com 42% do investimento direto em educação. A previsão é que, com a
complementação ao CAQ inicial (CAQi), os percentuais seriam equilibrados, cabendo
à União, estados e municípios, 35%, respectivamente, 31%, 34% e 35%.
O CAQ faz parte das estratégias para
alcançar o investimento de pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em
educação até 2024. Ele define quanto cada aluno precisa para teracesso a
uma educação com padrão mínimo de qualidade. Fazem parte do cálculo recursos
para infraestrutura, materiais, equipamentos, além dos salários dos professores
e outros profissionais. Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o CAQi deve ser
implementado até meados do ano que vem. A partir dai, deve ser reajustado até a
implementação plena do CAQ.
De acordo com Daniel Cara, o CAQ é um
elemento que garante maior equidade à educação. "Educação é um atributo
nacional. Não pode marcar as crianças pelo local de nascimento. A criança não
pode ter mais oportunidade conforme o local de nascimento, renda e cor da
pele", acrescentou.
Para que passa a vigorar, é necessário
um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) definindo o que será
considerado no cálculo e o que será feito no âmbito dos municípios, estados e
União, de modo a garantir esses recursos para todas as escolas do país.
O Ministério da Educação (MEC) informou
que está discutindo internamente e levantando dados para que um debate sobre o
CAQ comece em até 120 dias. Sobre a possibilidade de aumento dos repasses da
União, o secretário de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC, Binho
Marques, explicou que a questão ainda está em debate.
"O CAQ não significa apenas
complementação de recursos para os que não têm condições de assegurar essa
qualidade. Mexe em trabalho da União, estados e municípios e pode significar
alteração em lei".
Membro do Conselho Nacional de Educação
(CNE), Cesar Callegari destacou a necessidade de se pensar a educação como um
direito. "O CAQ não pode ser transformado em espada na cabeça dos
gestores, mas é preciso perder a ilusão que, estabelecido um padrão de custo,
tudo que podemos fazer será suplementado pela União."
Segundo Callegari, é preciso também
cooperação para que o país atinja a meta de investimento de 10% do Produto
Interno Bruto (PIB).
O 15º Fórum Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação começou na terça (16) e será encerrado amanhã (19), no
município Mata de São João (BA). Participam do encontro 1.687 representantes de
1.067 municípios.