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gabriela loureiro
Na edição de
novembro, a GALILEU fez um dossiê sobre suicídio explicando por que o número de
jovens que decidem terminar com a própria vida aumentou tanto no Brasil. A taxa
de suicídio de adolescentes com idades entre 10 e 14 anos aumentou 40% nos
últimos 10 anos e 33% entre aqueles com idades entre 15 e 19 anos, segundo o
Mapa da Violência 2014. Todo dia, 28 brasileiros se suicidam e, para cada
morte, há entre 10 e 20 tentativas. Médicos alertam que é um problema de saúde
que não recebe tanta atenção por causa do tabu social. Para ajudar a combater
essa epidemia silenciosa, GALILEU conversou com uma série de psiquiatras e
psicólogos sobre o problema e elaborou uma lista de seis alertas sobre o
comportamento suicida.
1 – Frases de alarme
Existe um mito de que pessoas que falam em suicídio só o fazem para chamar a
atenção e não pretendem, de fato, terminar com suas vidas. “Isso não é verdade,
falar sobre isso pode ser um pedido de ajuda”, afirma Mônica Kother Macedo,
psicanalista especializada em suicídio e professora da PUCRS. Adriana Rizzo,
engenheira agrônoma voluntária da ONG Centro de Valorização da Vida (CVV) há 16
anos, já atendeu milhares de ligações de pessoas que pensavam em suicídio.
Algumas das frases mais comuns ouvidas por ela foram “não aguento mais”, “eu
queria sumir” e “eu quero morrer”. Então, se você ouvir um parente ou amigo
falando algo do tipo, preste atenção.
2 – Mudanças inesperadas
Todo mundo passa por mudanças na vida, faz parte do pacote. Mas algumas
mudanças podem ser traumáticas quando não estamos preparados para elas. Uma
pessoa fragilizada por uma depressão ou outro problema psíquico dificilmente
terá condições de encarar uma mudança inesperada, como perder um emprego que
considerava muito importante. “Alguém tinha um hobby e abandona tudo, era super
vaidoso e fica desinteressado. A mudança de comportamento é o momento em que a
gente se aproxima da pessoa para saber o que está acontecendo, porque quem sabe
dividindo ela vai entender que é só uma fase”, diz Macedo.
3 – Depressão e drogas
As estatísticas alertam: para cada suicídio, há entre 10 e 20 tentativas, ou
seja, quem tentou suicídio está muito mais vulnerável. “Uma tentativa de
suicídio é o maior preditor de nova tentativa e de suicídio”, diz o psiquiatra
Humberto Correa da Silva Filho, vice-presidente da Comissão de Estudos e
Prevenção de Suicídio.
Segundo alerta:
quase 100% das pessoas que se suicidaram enfrentavam algum problema mental - a
maioria depressão. Quem está sofrendo depressão ou outro transtorno devem
receber maior atenção . E, se a pessoa consome álcool ou outras drogas, atenção
redobrada. “O maior coeficiente de suicídio se dá por transtorno de humor
associado ao uso de substâncias psicoativas, mais da metade dos casos de
suicídio. Depressão e consumo de álcool e drogas é responsável pelo maior
numero de mortes no mundo inteiro”, afirma o psiquiatra Jair Segal.
4 – Pode não ser só aborrescência
As taxas de suicídio dos jovens brasileiros aumentou mais de 30% nos últimos 10
anos, como explica nosso dossiê da edição de outubro. Mas, muitas vezes o
comportamento errático atribuído como típico do adolescente pode ser um sinal
de intenção de suicídio. “Existe uma falsa ideia de que a depressão atinge mais
pessoas adultas. O adolescente apresenta outros sintomas, ele vai se trancar no
quarto, não vai falar com ninguém, e isso vai ser entendido como fenômeno da
adolescência normal, já que ele não consegue expressar seu sofrimento de uma
forma clara”, explica Segal.
5 – Preto no branco
Somente 15% dos gravemente deprimidos vão se suicidar, mas a depressão severa
continua sendo a maior causa do suicídio. Por isso, é preciso ficar atento
quando a pessoa demonstra zero interesse na vida ou nos outros. “Para o
deprimido, o mundo deixa de ser colorido, é preto e branco. Ele tem baixa
autoestima, desinteresse por todos e fica muito voltado para ele mesmo”,
explica o psiquiatra Aloysio Augusto d’Abreu. Quando em depressão severa, a
pessoa se isola dos outros e não vê motivos para continuar viva. É um alerta de
urgência.
6 – Bom demais para ser verdade
Um caso que marcou o psiquiatra d’Abreu foi o de um paciente muito deprimido
que simulou uma melhora para passar o final de semana em casa e, lá, usar uma
espingarda para se matar. A simulação de melhora é comum em diversos casos de
suicídio, então, se uma pessoa que normalmente é deprimida parecer subitamente
alegre, é importante acompanhá-la para garantir que ela não tentará o suicídio.
O que você pode fazer?
Segundo o psiquiatra da Rede Brasileira de Prevenção do Suicídio Carlos Felipe
Almeida D’Oliveira, o ideal é conversar com a pessoa e não deixá-la sozinha. Ao
conversar, procure não falar muito e ouvir mais, já que muitas vezes a pessoa
só precisa ser ouvida. “Se possível, acompanhe-a a um profissional de saúde e
peça orientação”, diz. Outra medida é retirar acesso de ferramentas
potencialmente destrutivas dentro de casa - como arma, remédios e substâncias
tóxicas - para evitar o uso delas em um impulso.