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Justiça
27/05/2015 10:29:54

Intolerância religiosa gera processo contra ex-namorada de ator da Globo

Intolerância religiosa gera processo contra ex-namorada de ator da Globo
Yalorixá Mãe Neide Oyá D´Oxum
tribunahoje //
olivia de cássia

Em coletiva à imprensa na tarde desta terça-feira, 26, na sede do Grupo Espírita Santa Bárbara (Guesb), no Conjunto Village Campestre, os advogados Newton Pereira Gonçalves Neto e Valquíria Carvalho, que assumiram o caso de intolerância religiosa à Yalorixá Mãe Neide Oyá D´Oxum, falaram a respeito do caso e do processo que estão movendo contra a assessora de imprensa Juliana Despírito, que deverá ser intimada para depor no Rio de Janeiro, Estado onde mora, por meio de carta precatória.

 

O processo contra a assessora, que é evangélica, foi por conta de um comentário de intolerância religiosa e incitamento ao ódio escrito por ela, em uma foto postada pelo ator Henri Castelli, filho espiritual da mãe de santo, no sítio da Mãe Neide em União dos Palmares, onde a filha do ator com a assessora aparece no colo da Yalorixá vestida de baiana.

 

A postagem gerou 47 páginas de postagens e comentários maldosos, tendo repercutido negativamente até em site de Portugal, segundo a advogada da Mãe Neide. Ela observou que já foi feito um Boletim de Ocorrência e que o Ministério Público já está sendo acionado contra Juliana Despírito.

 

“A Mãe Neide foi submetida ao crivo popular sem consulta; tenho aqui a cópia de um site que foi dos piores, tem aqui a foto dizendo que ‘satanás e seus cavalos’ e eu queria que o dono do site dissesse para mim a quem ele se refere. Isso é uma execração pública de uma pessoa que só faz o bem no Estado de Alagoas, altamente respeitada, que recebeu uma homenagem na Assembleia Legislativa nesta terça-feira e receberá outra na Câmara de Vereadores na sexta; estamos tomando as providências, mas é imprudente adiantar algum detalhe do processo agora”, destaca.

 

Segundo a advogada, a intolerância religiosa já é um tipo de injúria “e estamos estudando outros tipos de tipificações. Não é uma causa qualquer, é a Mãe Neide. O foco principal é preservá-la, porque chocou demais. Segundo Valquíria Carvalho, essa é uma das piores fases da vida de Mãe Neide”, destaca.

 

“A repercussão foi amplamente negativa; fiz uma pesquisa e passei alguns dias pesquisando várias menções desonrosas, depreciações, pessoas que fizeram um roteiro de disseminação do ódio através da internet. Quando nós lemos ficamos chocados e achamos por bem não mostrar tudo a ela, porque aqui é uma pequena parte do que a gente pegou”, disse a advogada, mostrando o calhamaço de papel impresso.

 

A advogada confirma ainda que os comentários nas postagens nas redes sociais, blogs e sites são belicosos, um perfil de guerra. “A intolerância religiosa é uma doença medieval, eu pensava que já tinha sido erradicada há muito tempo. Temos um problema sério que é a intolerância humana, que é o outro não aceitar o que você é”, reforça.

 

Valquíria Carvalho destaca que a Mãe Neide professa a religião dela, “não é uma seita, é uma das religiões mais antigas, como é que tem alguém que não respeita isso, são compartilhamentos de ideologias fracassadas como a disseminação de ódio. Isso não pode ser permitido, estamos num país laico, cada um professa sua fé e tem direito a exercer e expressar a religião que quiser”.  

Segundo a advogada, o Ministério Público, o Poder Judiciário é quem vai fazer com que o caso seja resolvido. “Essa questão será resolvida, a gente vai fazer o que for possível por ela, para que não se abale mais, pois o trabalho dela tem repercussão positiva. Ninguém aqui faz sacrifício de gente, ninguém cultua demônio, como está em algumas postagens, eu sou muito temente a Deus par ame aproximar de uma pessoa que cultue o demônio, observou a advogada.  

O advogado Newton Pereira ressaltou os trabalhos sociais da Mãe Neide e disse que o caso está se tornando muito grave e que tudo tem sido muito penoso para a líder religiosa “A liberdade de expressão vai até onde não se vai ferir outra pessoa. O MP vai se pronunciar contra essa afronta à religião, envolvimento da criança, vai ter desdobramentos”, explica.

 

 “Eu pensei várias vezes em não tocar o caso pra frente, porque achei que eles iam se resolver a briga deles por lá. Não achei que uma simples homenagem no Dia das Mães fosse causar tanto barulho. Achei que tudo ia se acalmar, até porque somos uma família, o povo do terreiro é uma família; achava que isso ia passar”, Mãe Neide.

 

Segundo ela, o comentário da assessora foi ouriçando as pessoas: “E quando eu me vi estava num redemoinho de 47 páginas na internet, de comentários e postagens maldosos, capa de revista, capa de jornal no Rio de Janeiro, site me Portugal e eu comecei a ficar com medo”, ressalta.


A Yalorixá explica que no dia da postagem, os filhos disseram que o ator Henri Castelli tinha feito uma homenagem para ela no Dia das Mães: “E eu achei lindo; à noite eu só vi eles cochichando, tomavam meu telefone, não queriam que eu visse as coisas que tinham sido colocadas, mas sou muito curiosa, cutuquei e vi os comentários”, destaca.

 

A líder espiritual denuncia que as postagens na internet lhe chamavam de “cavalo do satanás e coisas horríveis, eu me senti na obrigação de fazer alguma coisa: eu fiz parte da Constituição da Igualdade Racial, sou militante nesse Estado há mais de 25 anos, é uma vida de dedicação à inclusão social, à igualdade de direitos e de repente, por conta de um comentário maldoso, preconceituoso, eu estava em todos os jornais”, destaca.

 

Mãe Neide pontua ainda que vive num Estado em que o governo vai à praça e pede perdão “por conta de uma intolerância religiosa, como foi o Quebra de 1912, e eu sofrendo esse tipo de ameaça. Não tenho nada contra a moça, mas quero que seja explicado o motivo do comentário. A foto foi tirada em minha casa, em União dos Palmares, eu tenho um bufê afro, que mantém a escola com o trabalho que a gente faz, não preciso de mídia para me mostrar”, ressalta.

 

A líder espiritual diz ainda que já se sente contemplada com o reconhecimento do seu povo:  “Meu povo negro já me homenageou e reconhece meu trabalho; eu sou feliz por tudo o que já me deu; eu não sou artista, não preciso estar em mídia mostrando minha cara, basta meu trabalho”, destacou.

 

Mãe Neide diz ainda que se sentiu humilhada e violada em seus direitos, porque sempre respeitou a religião de cada um: “Sempre procurei pregar o bem e ajudar as pessoas, tanto que a minha escola do Projeto Inaê, que faz um trabalho de inclusão social, está sendo coordenado agora pela minha filha e respeitamos a fé de cada um, a religião de cada um”, pontua.

 

Ela explicou ainda que tem proximidade com a família do ator e que acompanhou o processo do nascimento dela, que considera sua neta. “Falo com Henri todos os dias: quando vai dormir, quando acorda, não só ele, como muitos filhos pelo Brasil a fora. E emocionado e chorando ele me pediu desculpas e disse: ‘mãe, eu só queria homenagear a senhora, mas a senhora tem o direito de tomar qualquer atitude que queira tomar, eu estou do seu lado, a senhora está no seu direito”.


 “A ligação que temos com cada um é muito forte, é muito presente. Quando as pessoas passam para a religião de matriz africana, nós acolhemos os filhos como filhos de verdade. Não tenho nada contra essa moça, mas tenho preocupação para que outras pessoas não sofram o que estou sofrendo agora, você vai dormir numa vida calma, de mãe e dona de casa, militante, chefe de terreiro, que é uma responsabilidade muito grande e eu não preciso falar da minha vida”, reforça.

 

Segundo Mãe Neide, o povo negro e o Estado já fala sobre ela. “Essa moça não ofendeu a  mulher Yalorixá, foi o Estado, a minha religião, a minha fé. O comentário preconceituoso dela, fez com que canais evangélicos fizessem pré-julgamentos, mas não vou baixar a cabeça porque estão julgando a minha fé. Não posso me calar. Não é fácil a minha situação. Imaginem como eu me senti, receber uma homenagem no dia das mães, no Dia 13 de maio, dia nacional contra a intolerância religiosa, foram dez dias com matérias e matérias  com palavras horríveis me julgando.