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james gallagher
O sistema, chamado
CellScope, permite que um app analise o movimento em uma imagem de uma gota de
sangue capturada pela câmara do celular, para buscar eventuais organismos
estranhos.
Os
sistema foi testado com sucesso em Camarões, na África, e os resultados foram
divulgados na publicação científica Science Translational Medicine.
Especialistas dizem que
a técnica marca um avanço fundamental no combate a doenças tropicais.
Nos testes em Camarões,
o sistema foi usado para detectar larvas de Loa Loa. Níveis altos deste
parasita - que pode chegar até o olho - tornam arriscado o uso de ivermectina,
um remédio comum contra vermes e parasitas, amplamente usado na África para
tratar doenças como a oncocercose, também conhecida como "cegueira dos
rios", e a elefantíase.
Em geral, os pacientes
precisam passar por exames para analisar a quantidade de larvas Loa Loa que têm
no corpo, o que custa tempo e requer equipamento de laboratório.
Por conta disso, o
professor de bioengenharia da Universidade da Califórnia Daniel Fletcher,
desenvolveu uma espécie de microscópio portátil para o smartphone, capaz de
identificar a Loa Loa em uma gota de sangue.
O sangue é colhido e, a
partir daí, fica tudo por conta do celular. A gota é colocada no pequeno
microscópio adaptado para iPhone e aí, com o uso da câmera, o smartphone
consegue examinar o material e dar o resultado do exame em três minutos.
"Com um toque na
tela, o aparelho mexe a amostra, capta imagens e automaticamente analisa todas
elas", disse Fletcher.
O software utilizado no
celular não tenta desvendar o formato da larva, mas sim qual é o movimento
dela.
Com isso, ele consegue
identificar o número de parasitas Loa Loa no sangue e diz aos cientistas se
eles estão aptos a receber o tratamento com o remédio ou não.
Isso significa que é
preciso pouco treinamento para utilizar o programa do smartphone, enquanto os
procedimentos atuais para o exame requerem profissionais especializados para
analisar a amostra de sangue.
A ideia agora é testar o
software em 40 mil pessoas. "Estou animado, isso oferece uma abordagem de
alta tecnologia para lidar com problemas de baixíssima tecnologia",
afirmou Fletcher.
Os cientistas esperam
que a mesma ideia possa ser adaptada para examinar outros tipos de infecção,
como tuberculose, malária, e outras doenças de parasitas transmitida pelo solo,
como a lombriga.
O professor Simon
Brooker, da London School of Hygiene & Tropical Medicine, comentou que essa
descoberta representa um grande avanço na luta contra doenças tropicais.
"Acho que é um dos
avanços mais fundamentais que fizemos em muito tempo contra doenças tropicais
negligenciadas", disse.
"No século 21,
estamos usando tecnologia do século 20 para diagnosticar essas infecções, agora
isso nos traz para o mundo moderno."