A locação de
dois carros, uma dívida de R$ 128,2 mil, palanque eleitoral, abuso de
poder político, ações judiciais e uma amizade desfeita. É o resultado do
negócio feito pelo empresário Kleber Malaquias de Oliveira e a Prefeitura de
Mata Grande, em 2009, intermediado por Júlio Brandão, hoje presidente da Câmara
de Vereadores do município. A sina de Malaquias está posta em várias
denúncias feitas por ele à Polícia Federal, ao Grupo Especial de Combate às Organizações
Criminosas do Ministério Público Estadual, à 17ª Vara Criminal de Maceió e ao
Conselho Nacional de Justiça. Por ora, o caso está sendo investigado apenas
pelo promotor de Justiça de Mata Grande, Cláudio Teles.
Quando alugou os
dois veículos à Prefeitura de Mata Grande, Kleber Malaquias diz ter confiado na
amizade entre ele, o vereador Júlio Brandão, e o prefeito Jacob Brandão, irmão
de Júlio. O custo por cada veículo era de R$ 2.850 mil, totalizando R$ R$ 5,700
mil por mês. O empresário jura que só recebeu, em cheques nominais, três pagamentos.
A prefeitura deixou de lhe pagar e só depois de “muito cobrar”, é que ficou
sabendo que alguém estava recebendo por ele: o amigo, vereador e irmão do
prefeito, Júlio Brandão.
Segundo
Malaquias, o secretário de finanças do município, que é primo do prefeito e do
vereador, Gabriel Brandão, era conivente com essa situação.
Malaquias não
tem dúvidas de que Júlio tinha autorização do irmão prefeito para ficar com o
seu dinheiro. Segundo ele, o vereador falsificava a sua assinatura para
descontar ou depositar o cheque em alguma conta bancária. “Tem aí crime de
apropriação indébita, estelionato, formação de quadrilha”, aponta o empresário
que diz saber, até, onde o vereador gastava o dinheiro que seria seu: no pagamento de
dois carros de luxo, inicialmente uma Pajero Full Preta e depois uma Land
Rover.
Para piorar a
situação, um dos carros que ele alugou ao município sofreu dano total, em
serviço, por conta de um incêndio. A Prefeitura, segundo Malaquias, nunca o ressarciu.
No ano passado, o empresário decidiu levar o caso à Justiça e, de lá para cá,
tem batido em todas as portas que considera importante para reaver, não apenas
a compensação do prejuízo pessoal que garante ter tido, como a postura ética na
política de Mata Grande: “É preciso haver punição, isso é roubo, e é roubo com
dinheiro público”, diz.
Kléber Malaquias
contratou um advogado e a dívida, acrescida de multa, correção monetária, juros
de mora e honorários advocatícios, subiu para R$ 334.849,48. Segundo o
empresário, ele foi à Polícia Federal porque acredita que a agência do Banco do
Brasil em Mata Grande, que detém a conta única do município, é conivente com o
golpe que sofreu. “Como a agência paga ou deposita um cheque nominal sem
assinatura, ou sem verificar a assinatura?”, questiona.
“É preciso
investigar, também, se outras pessoas não estão sendo vítimas do mesmo golpe
que eu”, adverte. Já a 17ª Vara, o Gecoc e até o CNJ, Kleber Malaquias diz que
procurou essas instâncias porque acha que o prefeito Jacob e seu irmão Júlio
são protegidos politicamente pelo desembargador Washington Luiz, presidente do
Poder Judiciário do Estado. Ele teme que o caso não siga adiante na justiça
comum.
Promotor de Mata
Grande diz que faltam provas, mas não ouviu denunciante
O promotor de
Justiça Hamilton Carneiro Júnior, do Gecoc, confirma que tomou as declarações
de Malaquias e as enviou ao colega Cláudio Teles, que responde pelo Ministério
Público em Mata Grande. Hamilton informou que o Gecoc só atuará no caso, se a promotoria
local requisitar apoio. As declarações foram dadas em agosto de 2014 e, até
agora, apenas uma testemunha, indicada pelo empresário, Felipe Malta Gaia, foi
ouvida.
O promotor
Cláudio Teles diz que a investigação está “andando”, mas como só vai ao
município uma vez por semana, há sempre outras prioridades em sua mesa.
Malaquias não foi ouvido e o promotor esclarece:
“Não será
preciso. Eu já tenho as declarações que ele deu ao Ministério Público em
Maceió. Ouvi-lo, agora, seria apenas repetir as mesmas coisas”, justificou
Teles.
Sobre Felipe
Malta Gaia, a única pessoa ouvida na investigação, o promotor diz que ele negou
ter conhecimento das denúncias do empresário. Cláudio Teles lamenta que
Malaquias não tenha juntado provas e que o recolhimento delas demanda tempo da
promotoria. Mas quando o Cada Minuto o questionou porque não pede apoio ao
Gecoc, ele respondeu com outra pergunta: “Mas o que você quer mesmo saber?”. E
assegurou que o “caso está andando”, que todos os acusados serão convocados a
depor e que, se houver um fato novo, ele ouvirá o empresário.
Com relação às
prioridades as quais se referiu, o promotor explica que são processos sub
judice, casos envolvendo menores, entre outros.
Teor da conversa
do vereador via WhatsApp, apresentada por Malaquias:
Júlio Brandão:
“Agora tamo ai no poder”. “Painho vai ser prefeito de Joaquim Gomes”. “Ele
gosta que só de tu”. “Em vez de ir pela amizade, pra ele te ajudar, tu fica
ameaçando os amigos, pô”.
“Esse rapaz é
doido”, reage o vereador acusado de estelionato
O vereador Júlio
Brandão nega as acusações contra ele, admite que era amigo do empresário, a
quem tratava como “Bodão”, e diz que o próprio promotor Cláudio Teles lhe
afirmou que nada do que Malaquias denunciou “tem sentido”. “Esse rapaz é doido,
é um falsário, um estelionatário. Na cidade dele, Rio Largo, todo mundo o
conhece. Ele tem atestado de loucura, vive dando golpes, já deu golpes em
aposentados”, reagiu quando o Cada Minuto Press lhe perguntou sobre as
denúncias contra ele, feitas pelo empresário.
“Não preciso de
migalhas”, respondeu sobre a acusação de ter recebido o pagamento dos veículos
em nome de Malaquias. Ao ser informado que a quantia mensal era de R$ 5,7 mil,
ele acrescentou: “Eu nem sabia que era esse valor”. E indagou à reportagem: “Por
que está se dando tanta importância a essa matéria? Diga aí que eu não tenho
nada a declarar”. Depois, apontou um culpado: o prefeito de Canapi Celso Luiz.
“Ele (Malaquias) está sendo influenciado por Celso Luiz para me prejudicar,
prejudicar meu pai”.
Para o vereador,
seu pai, Hélio Brandão, adversário político de Celso Luiz, é um forte candidato
a prefeito de Canapi e atribui as acusações do empresário ao palanque eleitoral
já formado para 2016. Mas se contradiz quando o Cada Minuto Press lhe fala de
conversas gravadas pelo empresário, no whatssap, onde ele diz que seu pai vai
ser “prefeito de Joaquim Gomes”. “Eu disse que meu pai podia ser candidato e
que, se ganhasse, ia ajudá-lo, com emprego, com emprego”, enfatizou o vereador.
O Cada Minuto
telefonou para o celular do prefeito de Mata Grande, Jacob Brandão, mas ele não
atendeu. A assessoria de comunicação do prefeito ficou de enviar uma nota, mas
até o fechamento da edição, que foi na quinta-feira (07) não chegou. O prefeito
de Canapi, Celso Luiz, também não atendeu às ligações da reportagem.