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No mês em que
a internet comercial comemora 20 anos no Brasil, uma boa notícia:
quase 160 milhões de pessoas já têm acesso à rede e esse número não para de crescer. Os
investimentos para ampliar a velocidade da conexão, no entanto, não
seguem o mesmo ritmo.
Com velocidade média de três megabits por segundo (Mbps), o país oferece uma
das redes mais lentas do mundo. Na Coreia do Sul, por exemplo, a média é de 22,2
Mbps — uma internet seis vezes mais veloz do que a nossa.
Acontece nos caminhos virtuais brasileiros algo bastante semelhante ao ocorrido
nas rodovias nos últimos anos: aumento vertiginoso de tráfego. Mas em vez de
carros, uma quantidade imensa de dispositivos móveis entraram no mercado.
Somente no ano passado, foram vendidos 54,5 milhões de smartphones, de acordo
com a consultoria IDC. O investimento em infraestrutura da rede não tem
acompanhado a demanda e o resultado é uma espécie de “engarrafamento virtual.”
Não à toa, o
Brasil vem perdendo posições no ranking mundial que mede a velocidade média da
internet nos países. Em 2014, ficamos em 89º lugar, seis posições abaixo do que
em 2013. A velocidade média evoluiu 11% de um ano para o outro, em ritmo bem
mais lento que a grande maioria dos países. Hoje, estamos atrás de vizinhos
como Argentina, Uruguai e Chile e a léguas de distância de potências como
Estados Unidos e Japão. Vários fatores dificultam os investimentos no Brasil.
— Um dos
principais é geográfico. Mesmo aportando montante semelhante de recursos que
países europeus, as dificuldades são maiores porque a área de cobertura é
enorme — afirma Eduardo Tude, da consultoria Teleco, se referindo ao
tamanho continental do país.
Na América Latina,
a maior média está no Chile, com quase cinco megabits por segundo de
velocidade. Mas vale lembrar que, dos 16 milhões de habitantes, cerca de 13
milhões estão concentrados na capital, Santiago.
— Para
chegar a determinados locais, é preciso ter viabilidade de negócio, tem de dar
retorno para as empresas. Em algumas regiões, isso não ocorre e então é
importante o incentivo do governo como o Plano Nacional de Banda Larga —
afirma Tude.
Dólar e economia
afetam expansão
Criado em 2010,
o plano é uma iniciativa do governo federal para massificar o acesso à internet
em banda larga no país, por via fixa e móvel, principalmente nas regiões mais
carentes da tecnologia. Graças ao programa, na banda larga fixa o acesso tem
aumentado, não só nos grandes centros, mas também no interior do país.
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usadas nos celulares explodem
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antenas de telefonia.
A alta do dólar
e a retração da economia, porém, reduziram os pedidos dos provedores de
internet por fibra óptica, conta Reinaldo Jeronymo, diretor comercial da
Prysmian, que fabrica cabos ópticos, voltados para a demanda de banda larga.
— Empresas
com acesso ao programa Finame e ao cartão do BNDES, que não precisaram ir a
bancos atrás de recursos, mantiveram as encomendas — ressalta Jeronymo.
As
operadoras — que fornecem banda larga móvel — continuaram o ritmo de
compras, afirma.
Mais do que uma
oportunidade de mercado, os investimentos das empresas são necessários para
cumprimento de metas de qualidade impostas pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel). No fim do mês de março, a agência reguladora
determinou que as operadoras de telefonia móvel melhorem os indicadores de
qualidade de rede em todos os municípios brasileiros. Em caso de
descumprimentos, está prevista a aplicação de multas.
As operadoras
terão de apresentar indicadores de acesso às redes de voz e dados — que
medem a disponibilidade quando o usuário deseja realizar uma conexão —
acima de 85%. Os indicadores de queda de voz e de dados, que medem a taxa de
desconexões sem interferência do usuário, devem ser inferiores a 5%, informou a
Anatel em comunicado.
Startup da
Capital tenta fugir do “engarrafamento”
A falta de
conexão eficiente afeta usuários e negócios. A turma de jovens empreendedores
da 8 Lab (foto acima) condiciona o horário de trabalho à qualidade
da conexão. Depois das 18h nem adianta ficar no escritório. O acesso fica tão
lento que se torna impossível programar.
Sediada na
Raiar, incubadora de empresas startups da PUCRS, a equipe é responsável por
criar o aplicativo Wigo, que utiliza informações em tempo real para otimizar a
escolha das rotas, combinando todos os meios de transporte — ônibus, trem,
catamarã, carro — e indicando os melhores trajetos, conforme a preferência
ou a necessidade do usuário.
A ferramenta é
desenvolvida com base no conceito de crowdsourcing, ou seja, na medida em que
os usuários vão interagindo e abastecendo o Wigo de informações, ele se torna
mais eficaz. Aí os empreendedores encontram outra dificuldade: os usuários
também precisam ter uma boa conexão para conseguir fazer download do
aplicativo.
— No final
da tarde, quando começa o maior tráfego de usuários, fica impossível. Chega a
ser engraçado, mas ao mesmo horário que algumas avenidas da cidade estão
congestionadas pelo tráfego intenso de carros, também fica complicado utilizar
a linha pelo mesmo problema — conta Flávio Pereira, um dos quatro
fundadores da empresa.
Banda larga será
oferecida a 95% da população até 2018, promete governo
Impulsionada
pelo Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), a internet de alta velocidade no
Brasil cresceu 44% nos últimos 12 meses e alcançou a marca de 203 milhões de
acessos em fevereiro passado, conforme informações divulgadas pela Associação
Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Desse total, 178,4 milhões foram
via redes móveis, avanço de 50%, na comparação com fevereiro de 2014. A
banda larga fixa, que permite conexões mais rápidas do que a rede móvel,
registrou 24,5 milhões de acessos, 9% a mais do que um ano antes.
Ministro das
Comunicações, Ricardo Berzoini promete conexão de banda larga para 95% da
população brasileira até 2018. Em audiência pública na Câmara na semana passada,
Berzoini falou sobre os investimentos para ampliação dos serviços 3G e 4G de
telefonia celular. Segundo ele, as duas tecnologias mantêm crescimento
“vertiginoso” e, por isso, as empresas ainda têm metas a cumprir:
— Temos
queixas constantes quanto ao serviço. A Anatel tem o trabalho de fiscalizar e
de aplicar as multas. Temos buscado formas de fazer com que essas multas
alavanquem a qualidade do serviço.