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maria rita horn
Nem todo
esquecimento é sinal de demência. Por isso, é importante entender quais falhas
nossa memória está sujeita a apresentar ao passo em que envelhecemos e algumas
situações específicas em que os lapsos são naturais.
— No paciente
mais idoso, a gente avalia para ver se não foi por causa de um medicamento,
como tranquilizantes, antidepressivos. Também há doenças que, quando não
controladas, provocam esquecimento. Hipotireoidismo é uma delas — ressalta João
Senger, especialista em neuropsiquiatria geriátrica.
Quadros de
ansiedade e estresse também nos fazem acreditar que esquecemos, quando, na
verdade, simplesmente não gravamos porque não estávamos prestando atenção.
Outras vezes, é questão de que a pessoa mais velha começa a se preocupar mais
com a memória com o passar dos anos, ou seja, presta mais atenção nela. Se aos
20 esquecer o que foi buscar na despensa pode ser normal, aos 70 isso vira um
monstro preocupante.
— Se o idoso
esquece uma coisinha, já pensa: "Estou demenciando". Ele fica com uma
percepção mais aguçada dos acontecimentos. É como alguém sentar do seu lado e
dizer que está com sarna e você já sentir vontade de se coçar — diz Senger.
Os estereótipos
sobre a velhice não colaboram com a preservação da memória, lembra Mônica
Sanches Yassuda, professora da USP. Muitas pessoas, quando atingem a terceira
idade, acreditam que vão sempre esquecer e nem tentam exercitar a memória. São
crenças negativas também combatidas com treinos.
As alterações
mais preocupantes
A situação se
torna grave quando a capacidade de guardar informações novas é afetada, como
repetir uma mesma pergunta várias vezes em curto espaço de tempo.
— Todos nós,
quando atingirmos uma certa idade, vamos ter dificuldades de memorizar uma
lista de 10 nomes. Mas se tentamos três vezes, vamos conseguir. No Alzheimer,
essa é a alteração principal: por mais que seja exposta àquela informação nova,
a pessoa não vai guardar — explica Mônica Sanches Yassuda, professora da USP.
No
envelhecimento normal, algumas memórias são estáveis.
— Idosos se saem
até melhor do que jovens em provas de vocabulário, nos casos de igual
escolaridade, por exemplo. É o "banco de dados" que não perdemos —
afirma Mônica.
Mas em quadros
de demência, até essas informações se confundem.
Devemos agir em
prol do nosso cérebro desde cedo para manter nossa memória íntegra por mais
tempo. Além dos treinos cognitivos, que comprovadamente ajudam no
envelhecimento saudável e no declínio leve, ficar de olho na alimentação,
controlar doenças cardiovasculares, evitar o isolamento social e a depressão e,
principalmente, fazer exercícios físicos deveriam fazer parte da rotina de todo
mundo.
— Cuidar do
cérebro é como cuidar do nosso corpo. A gente pode envelhecer mais rápido ou
mais devagar. Tem a parte genética? Tem. Mas nessa a gente não consegue mexer —
lembra Senger.
Rosa Maria
Medeiros Rodrigues, 62 anos, fez curso de estimulação de memória oferecido no
Centro de Comunidade Parque Madepinho (Cecopam) — zona sul de Porto Alegre —
por alunas da UFRGS sob supervisão da fonoaudióloga Maira Rozenfeld Olchik. Ela
diz que os treinos cognitivos a ajudaram muito:
— Aprendi, por
exemplo, que, se a gente vai sempre ao supermercado, deve mudar o caminho —
conta.
A aposentada,
que trabalhou por 23 anos na área de Recursos Humanos de uma empresa, hoje
procura ler muito, fazer tricô e crochê, pintar e participar de atividades
físicas no Cecopam.
Esqueço ou
lembro?
Tem coisas que
até memória de elefante merece borrar. Outras devem ser até anotadas:
Apague!
Cigarro
Sedentarismo
Má alimentação
Crenças ruins sobre a memória
Anote!
Fazer exercícios
Tratar a depressão
Ler bastante
Inserir-se em grupos
Aprender novas línguas
Pratique já
A fonoaudióloga
Maira Rozenfeld Olchik explica que cada paciente apresenta necessidades
diferentes, mas lembra que algumas dicas gerais podem ser adotadas por todo
mundo
— Não fazer as
coisas de maneira automática. Vai sempre no supermercado? Mude o rumo e faça
rotas diferentes.
— Evitar fazer
duas coisas ao mesmo tempo.
— Não fazer as
coisas desatentamente, como tomar um remédio sem pensar ou atender a um
telefone ao mesmo tempo em que vê a novela.
— Anotar
compromissos, usar agenda, calendário. Fazer lista de compras. Com isso,
pode-se prestar atenção em outras coisas.
Como procurar
um treino cognitivo
Geriatras,
neurologistas e clínicos-gerais podem indicar sessões com profissionais ou
ajudar a encontrar locais onde trabalhos comunitários de exercícios de
estimulação da memória são feitos