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A resistência a antibióticos se transformou em uma
"ameaça global" e doenças que eram curadas com relativa facilidade
até há pouco tempo podem voltar a matar cerca de 10 milhões de pessoas até
2050. O alerta faz parte de um plano que será apresentado pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) neste mês, na esperança de combater a resistência.
Os dados apontam para um cenário alarmante: pelo menos
sete bactérias diferentes responsáveis por doenças como pneumonia, diarreia ou
infecções sanguíneas começam a ganhar resistência. Pelo menos dois produtos
usados até hoje já não funcionam em metade da população, entre eles o
antibiótico contra infecções urinárias causadas pela bactéria E. Coli.
Em 2013, a OMS calcula que 480 mil novos casos de tuberculose
foram detectados por conta da resistência aos remédios, em mais de cem países.
No caso da malária, a entidade considera a resistência como uma
"preocupação urgente de saúde pública", diante do impacto em regiões
inteiras.
Para a OMS, antibióticos se transformaram no pilar do
desenvolvimento da medicina no século 20. Mas chegou o momento de agir para não
perder o que o mundo atingiu. Numa era "pós-antibiótico", a realidade
é que muitos morreriam de doenças que já foram controladas.
Para a indústria farmacêutica mundial, o crescimento da
resistência microbiana pode ter repercussões até no PIB mundial, com uma queda
entre 2% a 3,5%. Na Federação Internacional das Indústrias Farmacêuticas, que
reúne as maiores multinacionais do setor, as doenças causadas por bactérias,
cada vez mais resistentes aos antibióticos disponíveis no mercado, aparecem
como prioridade. Mas o grupo insiste para a necessidade de novos investimentos
em medicamentos.
A OMS, em seu relatório publicado nesta semana sobre o
mesmo assunto, também alerta para a falta de novos medicamentos. Segundo ela,
nenhuma nova classe principal de antibióticos foi desenvolvida desde 1987. E
não há resposta imediata. Além da demora para desenvolver um novo medicamento
--cerca de 10 a 20 anos--, a indústria farmacêutica vê seu retorno financeiro
restrito a um prazo considerado extremamente longo, o que desestimula o
investimento.
Planos nacionais
Por isso, a OMS insiste que apenas desenvolver novos
remédios não será suficiente. A entidade vai recomendar que planos nacionais
sejam desenvolvidos sobretudo em países emergentes. Mas a Federação das
Indústrias Farmacêuticas diz que não há tecnologia nesses países.
Já para Fernando Bellisimo, professor da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto, o problema é mais uma questão de hábitos. "No
Brasil, existe o costume de acreditar que o médico mais eficiente é aquele que
prescreve remédios. Infelizmente, pessoas continuam acreditando que
antibióticos combatem doenças virais (o que não é verdade)", disse.
Bellissimo defende foco na prevenção e no combate à
proliferação das bactérias resistentes. "É preciso maior atenção à higiene
dentro dos hospitais."