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thayanne magalhães
Um estudo canadense realizado
com 140 universitários mostrou que 84% das pessoas que usam excessivamente os
tablets e smartphones apresentam alguma dor. A mais comum é a do polegar, uma
que em um teclado normal, de computador, a digitação é feita por 10 dedos,
enquanto no smartphone é feita com apenas um.
O uso desses dispositivos tem
crescido cada vez mais entre crianças, adolescentes e adultos, seja por
diversão ou por trabalho. No entanto, é preciso ter cuidado ao utilizar estes aparelhos,
pois o uso excessivo deles pode trazer lesões.
Para a jovem Larissa Cabús,
de 28 anos, o seu smartphone é essencial para o seu dia a dia.
“Eu troco de mão quando
começa a doer e descobri que o peso da capinha também influencia, aí eu tiro a
capinha quando estou digitando por mais tempo. Eu uso meu smartphone para falar
com meus amigos, trabalhar e fazer compras. É uma extensão do meu corpo”,
afirma Larissa.
Questionada sobre se já
procurou um médico ortopedista para falar de suas dores, Larissa acredita que
não fará diferença.
“Não procuro médico porque eu
sei o porquê das dores e não pretendo parar de usar meu smartphone. Tendinite é
algo que tenho há muito tempo, desde que comecei a usar computador, então só me
resta me preparar para a velhice. Por enquanto vou me virando com ‘macetes’,
trocando de mão para digitar e usando o ‘swype’, que é um modo de inserir
letras e as palavras aparecem automaticamente, tornando a digitação mais
prática”.
A pesquisa realizada no
Canadá aponta ainda que o uso do navegador de internet aumenta em 2,21 vezes as
chances de desenvolver dor no polegar quando comparado com usuários de celular
sem internet.
Ortopedista recomenda
moderação no uso
Para cada clique que o
polegar realiza no smartphone ou tablet, há um movimento de extensão que, após
várias mensagens, pode causa microlesões no tendão extensor que se inflama.
A articulação da base do
polegar também se inflama pelo excesso de atrito do movimento circular do dedo.
De acordo com o ortopedista
Gustavo Pontes de Miranda, não é só o polegar que pode ficar dolorido com o uso
dos aparelhos eletrônicos. Por ser muito pequeno, quando adequado à posição da
mão, o uso de smartphone ou tablets pode trazer uma sobrecarga ao pescoço e à
coluna. E quando adequado à posição dos olhos, prejudica os ombros.
“Usar com exagero faz com que
se faça muito esforço. É preciso que haja uma postura adequada para que não
haja tantos danos à saúde. Usar ergonomia, sempre apoiando os braços e o mais
importante é a prevenção com a realização de exames periódicos, ultrassom dos
membros e ressonância magnética da coluna é essencial”, afirma o médico.
Gustavo Pontes conta que o
número de pacientes com problemas relacionados ao uso desses aparelhos tem
aumentado bastante nos últimos três anos.
“Principalmente o número de
adolescentes, que eram raros aqui no consultório. A partir dos 14 anos já
começam a apresentar problemas de saúde relacionados ao uso excessivo desses
aparelhos eletrônicos. E parece que a cada ano, com a tecnologia avançando, as
pessoas passam a usar cada vez mais e a apresentar problemas de saúde”, relata
o ortopedista.
O médico afirma que a única
forma de prevenção é usar tablets e smartphones moderadamente e evitar posturas
viciosas.
“É preciso diminuir o uso,
ter postura adequada e no início de qualquer sintoma, como dores, procurar um
médico especialista”, concluiu.
Psicoterapeuta alerta para o
vício de crianças em eletrônicos
A psicoterapeuta Aparecida
Oliveira chama de “filhos da hipermodernidade” as crianças que passam mais tempo
mexendo em seus aparelhos eletrônicos do que gastando energia com brincadeiras
mais saudáveis.
“Hoje as crianças estão muito
ligadas a brinquedos eletrônicos e acabam perdendo o melhor da infância. Esses
jogos acabam causando a robotização dessas crianças, que ficam muito tempo
paradas, o que tem influenciado também no aumento de problemas de saúde como
diabetes, hipertensão e obesidade. As crianças têm que correr e brincar”,
explica a psicoterapeuta.
Aparecida se diz preocupada
com algumas crianças e adolescentes que já apresentam dificuldades para
interpretar expressões faciais, que mesmo sem estar com um aparelho eletrônico,
gesticula como se estivesse usando o celular, por exemplo, e têm dificuldade
para prestar atenção e memorizar.
“Mesmo estando fora do mundo
virtual, essas crianças acabam trazendo os hábitos para o mundo real. Hoje em
dia já existem até clínicas para pessoas com transtornos psiquiátricos pelo
‘vício digital’ e os pais precisam ficar atentos às crianças mais tímidas e
introvertidas, porque são pessoas com essas características que têm maior
probabilidade de ficar dependente das novas tecnologias”, alerta.
Outro aspecto preocupante,
segundo Aparecida, é a falta de leitura. A psicoterapeuta explica que é
importante que os pais agucem a imaginação e a criatividade das crianças.
“Os pais precisam incentivar
os filhos a lerem livros, precisam ler historinhas infantis e criar o hábito.
Essa dependência tecnológica tem feito muitas crianças escreverem errado e
inclusive não saber usar as palavras. Outro dia vi um menino pedindo um
chocolate numa cantina e ele não sabia falar o que estava escrito na embalagem.
Ele só repetia que queria aquela ‘coisa’. As crianças precisam exercitar a
mente, pesquisar em livros quando for fazer um trabalho do colégio, pensar
mais”.