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sociedade paulista de pediatria
O terror noturno é caracterizado por episódios de gritos, agitação e medo intenso. Durante o episódio, a criança pode sentar na cama, gritar, chorar, chutar, bater, suar profusamente, ter respiração e batimentos cardíacos acelerados, ser difícil de acordar, ser inconsolável, ficar com os olhos arregalados, sair da cama e correr pela casa. Esses episódios costumam ocorrer na primeira metade da noite e têm duração de 1 a 3 minutos.
Raramente a criança se lembra do episódio pela manhã. Geralmente acomete crianças e adolescentes de 3 a 12 anos, são raros e tem igual frequência em meninos e meninas. Em geral, esses episódios desaparecem na adolescência.
Acredita-se que haja um
despertar parcial do sono, onde a criança está parcialmente acordada
(verbalização, movimentos) e parcialmente dormindo (inconsciência).
O terror noturno costuma
acometer outros membros da família, mas não está associado a doenças mentais. A
frequência dos eventos é muito variável entre as crianças, podendo ser semanal
ou mensal. Mesmo os episódios raros provocam preocupação nos pais, devido a sua
intensidade.
A maioria das parassonias
não necessita de tratamento, somente um ambiente seguro de sono para a criança.
No entanto, o terror noturno pode necessitar de tratamento se a criança e/ou os
pais não dormirem tempo suficiente ou se houver risco à segurança da criança.
O terror noturno
frequentemente é confundido com pesadelos. Uma criança que acorda de um pesadelo
está consciente e relata uma história de um sonho assustador, muitas vezes com
detalhes. No terror noturno a criança pode verbalizar, mas permanece dormindo.
A criança com terror noturno não se lembra dos eventos na manhã seguinte. O
horário também ajuda a diferenciar, pois os pesadelos são fenômenos do sono REM
(estágio do sono dos sonhos) e costumam ocorrer na segunda metade da noite,
enquanto o terror noturno acontece na primeira metade da noite.
O despertar confusional é
outro tipo de parassonia que pode confundir com terror noturno. Durante o
episódio de despertar confusional, a criança apresenta confusão mental enquanto
está na cama. Não há comportamento de medo, terror ou andar. Não se observa
suor profuso ou respiração e batimentos cardíacos acelerados.
Diversos fatores contribuem para aumentar a frequência dos episódios de terror noturno, tais como: privação de sono, cansaço extremo, estresse, febre, dormir em local não familiar, sons, luzes e bexiga cheia. Outros problemas de saúde podem estar associados e/ou piorar o terror noturno: apneia obstrutiva do sono, síndrome das pernas inquietas, enxaqueca, trauma de crânio e algumas medicações.
A presença de complicações é um alerta para iniciar o tratamento. A família pode relatar sonolência excessiva durante o dia, dificuldades na escola, notas baixas ou problemas em executar atividades da vida diária. Pode ainda ocorrer conflito entre os membros da família, vergonha dos episódios de terror noturno, ou pode acontecer da criança e outras pessoas se machucarem.
Caso os eventos sejam raros, não há necessidade de tratamento. Durante o episódio não há muito que fazer, o melhor é esperar – os pais podem conter a criança gentilmente na cama, falar calmamente e aguardar passar. Chacoalhar ou gritar com a criança pode piorar o evento.
O tratamento é recomendado quando há sintomas diurnos ou risco à segurança da criança. É importante tratar alguma doença associada, como a apneia obstrutiva do sono. Os hábitos do sono devem ser ajustados para evitar privação de sono, ou seja, horários regulares de dormir e acordar sete dias por semana e evitar atividades ou alimentos estimulantes após o anoitecer. Se ansiedade e estresse forem problemas relevantes, recomenda-se consultar um especialista. Medicações raramente são prescritas no terror noturno, mas quando necessário, obtêm-se bons resultados com os benzodiazepínicos.