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simone kafruni
Último bastião
do governo Dilma Rousseff, o baixo índice de desemprego não resistiu à
estagnação do país e começou sua derrocada, em linha com todos os outros
indicadores econômicos, que se deterioraram antes. O ano começou com demissões
em massa e, até que termine, mais de 1,2 milhão de trabalhadores terão perdido
seus empregos, conforme a consolidação de estimativas dos principais setores da
economia. O nível de desocupação cresce assustadoramente no país, algo
decorrente não só da Operação Lava-Jato e da suspensão de pagamentos da
Petrobras a fornecedores, como quis minimizar o ministro do Trabalho, Manoel
Dias, ao divulgar o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged) de fevereiro. Os dados apontaram o fechamento de 84 mil postos de
trabalho apenas no primeiro bimestre do ano.
Desde o fim do
ano passado, vários setores estão demitindo fortemente (leia quadro). Além das
empresas vinculadas à Petrobras, o setor automotivo, a construção civil, os
serviços, as mineradoras e as metalúrgicas também estão em maus lençóis por
conta da fraca atividade econômica do país. Em 2014, o Produto Interno Bruto
(PIB) do Brasil ficou estagnado, com avanço de apenas 0,1%, de acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2015, a
perspectiva do mercado é de retração de 1,5%, enquanto o Banco Central estima
queda de 0,5% no PIB.
Os setores produtivos mais afetados pela conjuntura econômica iniciaram as
demissões para cortar custos. A construção civil, que já demitiu 250 mil
trabalhadores nos últimos cinco meses, deve fechar mais 300 mil postos em 2015,
projeta o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-SP). O
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada estima que, pelo menos, 20,1
mil trabalhadores de 38 empresas, em sete projetos da Petrobras, tenham sido
demitidos nos últimos meses. Quase 2 mil mineradores perderam seus empregos. O
setor automotivo, que já demitiu 12,4 mil pessoas em 2014, deve cortar mais 350
mil vagas. Apenas em fevereiro, o setor de serviços, o que mais emprega no
país, fechou quase 200 mil postos de trabalho.
O setor de serviços foi o que mais dispensou em fevereiro, de acordo com o
IBGE, com queda de 3,7% no número de empregados e dispensa de 165 mil pessoas.
O auxiliar de cozinha Patricio Wanderson, de 26 anos, perdeu o emprego porque o
restaurante em que trabalhava fechou as portas. Ozinelia Barros da Fonseca, de
49 anos, conta que a idade atrapalha a recolocação. “É mais uma barreira, como
se a gente não tivesse mais utilidade. Fui caixa de supermercado, mas me
demitiram quando acabou o contrato de experiência”, diz ela, que procura vaga
desde outubro.