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zoe gouch
Até agora, as pesquisas existentes sugeriam
que, apesar de os cavalos serem capazes de entender alguns sinais, como quando
seu dono aponta para algo, eles só conseguiam aplicar esses sinais quando a
pessoa estava posicionada perto da recompensa.
Os cientistas também acreditavam que os
cavalos tinham um nível de habilidade semelhante ao das cabras ou dos gatos,
que são capazes de atender a gestos humanos mas sem entender seu significado.
Um estudo publicado em 2004 sugeriu que
cavalos tinham uma memória curta e talvez não fossem dotados da capacidade de
se lembrarem de tarefas que deveriam fazer mais tarde (a chamada memória
prospectiva).
Velocidade x precisão
Agora um grupo de cientistas da
Universidade de Pisa, na Itália, demonstrou que os cavalos não só são capazes
de entender os gestos humanos como também podem mudar a maneira como respondem
a uma tarefa baseados em suas próprias experiências.
"É algo fácil de entender em humanos,
mas não tão comum em animais", afirma Paolo Baragli, um dos autores do
estudo, publicado na revista Applied Animal Behaviour Science. "Se
um animal não consegue executar uma tarefa como esperamos, isso não quer dizer
que ele não tenha capacidade. Pode ser que ele esteja usando uma estratégia
diferente da que esperamos que ele use."
Os pesquisadores treinaram 24 cavalos
adultos de diferentes raças para se aproximarem de um balde emborcado e deslocá-lo
para encontrar uma cenoura escondida. Os animais foram, em seguida, divididos
em dois grupos iguais.
O primeiro grupo tinha que encontrar uma
cenoura colocada sob um dentre três baldes depois de ter visto uma pessoa
escondendo o alimento. Os cavalos tinham que esperar dez segundos para o
voluntário sair do local e aí tentar encontrar a cenoura.
A mesma experiência foi realizada com os
outros 12 cavalos, que tiveram que encontrar o alimento por conta própria, sem
a ajuda de um ser humano.
Aqueles animais que viram a cenoura ser
escondida acertaram mais na primeira tentativa do que aqueles que não tiveram
essa ajuda, apesar de terem levado mais tempo na tarefa.
Mais tarde o mesmo grupo encontrou a
cenoura em menos tempo, mas precisou de mais tentativas.
Segundo os autores, isso sugere que os
sinais humanos se tornaram menos importantes à medida que os cavalos aprenderam
que receberiam a mesma recompensa pensando em suas escolhas ou simplesmente
adivinhando.
Em testes posteriores, os pesquisadores
também descobriram que os cavalos que tinham visto o voluntário esconder a
cenoura tinham mais chances de ir diretamente ao balde onde encontraram comida
anteriormente.
Isso indica que os cavalos são capazes de
lembrar onde alimentos estão escondidos mesmo depois de um intervalo, ao
compreenderem o significado de ter uma pessoa posicionada perto do alvo.
Eles também conseguem mudar sua estratégia
de tomada de decisões entre a confiabilidade transmitida pelo sinal humano e
uma recompensa mais imediata.
Isso quer dizer que eles sabem escolher se
querem ou não usar os sinais humanos, dependendo se preferem ser mais rápidos
ou mais precisos.
Baragli afirma que essas habilidades
cognitivas são essenciais para a sobrevivência desses animais, mais até do que
capacidades mais elaboradas.
"Este estudo é o primeiro a demonstrar
que cavalos são capazes de tomar uma decisão baseados em informações obtidas
por estímulos ambientais (o homem), e conseguem mudar sua estratégia
comportamental baseados em sua própria experiência para resolver o mesmo
problema de uma maneira mais rápida", explica Baragli.