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ruth costas
Segundo Rafael Bistafa, economista da Rosenberg
Associados, há um ano eram necessários R$3,28 reais para comprar um euro. Hoje,
a cotação não é muito diferente: R$ 3,31. Já o dólar passou de R$2,35 para
R$3,11 no mesmo período.
"A questão é que não foi só o real que se
desvalorizou frente ao dólar. Costumamos acompanhar uma cesta de 21 moedas de
economias relevantes - destas, 20 perderam valor neste início de ano", diz
Bistafa.
"O real de fato foi a que mais caiu - perdeu 13,4%
de seu valor desde janeiro. Mas o euro também teve queda de 11,5%."
Outras moedas que tiveram forte desvalorização frente ao
dólar, segundo Bistafa, foram a lira turca (-9,7%), o peso colombiano (-8,9%) e
a coroa sueca (-8,2%).
Thiago Biscuola, da RC Consultores diz que "evidentemente,
com o real em queda, ficou mais difícil para todo mundo viajar para o
exterior". "Mas ao menos as viagens para a Europa não ficaram tão
mais caras, enquanto o 'sonho da Disney' de fato vai pesar muito mais no
bolso", diz ele.
Na raiz da valorização do dólar está a recuperação da
economia americana. Números positivos para o mercado de trabalho do país
divulgados na semana passada ajudaram a reforçar a expectativa de que o FED (o
Banco Central americano) deve começar a aumentar os juros - o que tende a fazer
com que divisas antes aplicadas em economias emergentes voltem ao país.
"No caso do real, esse fator ainda se combinou com a
crise política e econômica interna e às incertezas criadas pela (operação) Lava
Jato. Como resultado, a moeda brasileira acabou se distanciando das de outros
países emergentes", diz Biscuola.
Já a moeda europeia chegou ao seu menor nível em relação
ao dólar em 12 anos depois que o Banco Central europeu começou a colocar em
prática seu pacote de estímulos econômicos para evitar recessão e deflação na
zona do euro.
Espera-se que nos próximos 18 meses sejam injetados 1,1
trilhão de euros na economia da região com esse programa, que envolve a compra
de títulos públicos - uma estratégia conhecida como quantitative easing, ou
"afrouxamento quantitativo" e que foi colocada em prática nos Estados
Unidos até o ano passado.
Com o mercado inundado por euros, a expectativa de
consultorias econômicas é que um euro chegue a valer um dólar em breve - e
algumas chegam a apostar em um valor mais baixo.
Segundo Andrew Walker, analista de economia da BBC , a
desvalorização do euro é uma boa notícia para os exportadores da região, cujos
produtos tendem a se tornar mais competitivos no mercado internacional.
O mesmo efeito pode ser sentido no Brasil.
Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Material de Construção (Abramat), por exemplo, diz que só em
janeiro as exportações do setor cresceram 26% em relação ao mesmo período do
ano passado, em parte em função da desvalorização.
"Além disso, no ano passado o Brasil importou R$ 12
bilhões em material de construção e achamos que de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões
dessa demanda total pode passar a ser suprida por produção interna em 2015,
agora que os importados estão mais caros."