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claudia hammond
Quando se fala em hemorroidas, existem apenas duas coisas
que se pode afirmar com alguma segurança.
A primeira é que se trata de um problema de saúde
surpreendentemente comum: pelo menos 50% das pessoas terão uma crise de
hemorroidas em algum momento de suas vidas.
A segunda é que algumas das lendas sobre as origens da
doença não têm nenhuma base científica.
Mas antes de explorarmos o que a Ciência tem a nos dizer,
tentemos entender melhor esse problema tão embaraçoso.
O mito da cadeira fria
As hemorroidas são inflamações que se formam nas camadas
de tecido que revestem o canal anal. Algumas são externas e têm um aspecto
semelhante ao de minúsculas uvas.
Nesses casos, sentar-se em uma superfície dura pode ser
algo desconfortável, o que deu origem ao mito de que assentos frios e úmidos
seriam, na realidade, a causa do problema.
Mas como uma das maneiras de aliviar a dor e a coceira
provocadas pelas hemorroidas é aplicar uma compressa gelada, especialmente se
alguma veia tiver formado um coágulo rígido, podemos concluir que uma
superfície fria seria até uma ajuda.
Pouquíssimos estudos científicos examinaram a relação
entre a temperatura e o aparecimento de hemorroidas. Uma pesquisa feita no
Centro de Endoscopia e Proctologia de Berlim, na Alemanha, em 2009 investigou
vários fatores possíveis para a doença, inclusive o ato de se sentar em
superfícies frias.
No estudo, um grupo sofria de hemorroidas externas que
estavam enrijecidas e bastante doloridas. O outro grupo estava saudável.
Ao analisarem uma série de variáveis, como carregar muito
peso, tossir, espirrar, comer alimentos apimentados ou usar lenços umedecidos
para fazer a higiene pessoal, os cientistas não encontraram provas de que esses
atos fizessem alguma diferença na propensão de uma pessoa às hemorroidas. Nem
mesmo sentar-se em uma superfície fria.
'Região vulnerável'
Mas, enquanto as hemorroidas não têm relação com essas
atividades, já podemos apontar o motivo pelo qual essa parte do corpo tende a
apresentar o problema.
A clínica geral Ann Robinson tem uma explicação simples:
"Trata-se apenas de uma região vulnerável do corpo", diz ela.
De fato, o canal anal é um local onde três diferentes
sistemas venosos se encontram. Um pequeno inchaço dessas veias é até útil,
porque elas ajudam a dilatar o tecido e fecham o canal, evitando a
incontinência fecal.
Mas se essas veias ficarem muito inchadas, elas acabam se
projetando para dentro do canal anal, causando desconforto e dor. O problema
pode ainda dar origem a um sangramento e deve ser verificado por um médico,
porque esse é um dos sintomas de câncer do intestino.
A verdade sobre ler no banheiro
Qualquer situação que aumente a congestão na pelve, como
a gravidez, pode piorar as hemorroidas.
A constipação provoca uma pressão sobre as veias e pode
levar o paciente a fazer tanta força para evacuar que as hemorroidas acabam
saindo do ânus, o que pode causar fortes dores.
Mas temos uma boa notícia: existem provas de como evitar
o surgimento do problema.
O estudo feito na Alemanha descobriu que as pessoas que
tomam banho frequentemente têm menos tendência a desenvolver uma crise de
hemorroidas, enquanto aquelas que usam muita força ao ir ao banheiro têm mais
riscos.
Portanto, tudo o que ajudar a evitar o chamado
"intestino preso" pode contribuir para espantar o problema das
hemorroidas: aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras (como frutas,
legumes, verduras, cereais integrais e castanhas), manter um peso saudável,
praticar exercícios físicos e beber bastante água.
Também é importante ir ao banheiro assim que a vontade
vier, em vez de esperar.
O que nos leva a um último mito. Ou melhor, uma verdade:
ler no banheiro não é uma boa ideia. Os estudos sugerem que o hábito pode
incentivar as pessoas a passar mais tempo forçando a evacuação, sem se darem
conta.