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agência estado
Espalhados em
sites e blogs pela internet e presentes em saunas e casas de sexo, grupos de homens
soropositivos de diversas partes do Brasil têm usado táticas para infectar
parceiros sexuais propositalmente. Adeptos da modalidade bareback, na qual gays
fazem sexo sem camisinha, eles têm compartilhado dicas de como transmitir o HIV
sem que o parceiro perceba. A prática é considerada crime e tem causado
preocupação na área da saúde e também no meio LGBT.
Na web e nas
baladas, os barebackers formam o “clube do carimbo”. Em blogs, compartilham
diferentes técnicas para fazer sexo sem proteção ou furar a camisinha. Fotos e
vídeos ilustram o “passo a passo”.
Há três
semanas, uma dessas páginas chamou a atenção e foi compartilhada nas redes
sociais. Nas postagens, um aviso de que as férias escolares e o carnaval são os
melhores momentos para “carimbar” (ato de transmitir o vírus), principalmente
os jovens. “Todo macho recém-convertido ao bare, lá no fundo, quer ser
carimbado para ser convertido para o nosso lado, para o bare ‘vitaminado’”,
escreveu o autor. O “vitaminado” é uma clara referência aos portadores do HIV.
Nos textos seguintes, os internautas encontravam dicas de como contaminar os parceiros soronegativos. Após inúmeras denúncias, o site foi retirado do ar.
Outro blog,
que pertence a M.M.B., de 26 anos, além das dicas de transmissão proposital,
adverte sobre a discrição na hora da transmissão e incentiva o ato.
“Não fez
ainda? Faça! Pois é bem provável que já tenham feito com você”, afirmou. Em
entrevista ao Estado, o jovem nega que já tenha transmitido doença sexualmente
transmissível (DST) propositalmente e alega que publicou as dicas porque seus
seguidores gostam do assunto. “Não vou ser hipócrita e dizer que não curto
(sexo sem camisinha). Curto, sim, assim como a maioria curte. Nunca faço sexo
com camisinha e postei as dicas porque a galera gosta e sente fetiche.”
Orgias. Da
internet, onde os encontros são marcados, o clube do carimbo parte para a ação
em festas sigilosas. Apartamentos em bairros de classe média alta, saunas e
boates de sexo gay são usados para a disseminação do vírus. As orgias são
chamadas de “conversion parties” ou “roleta-russa”. No meio dos convidados, há
os “bug chasers” (caçadores de vírus), o soronegativo que prefere sexo sem
camisinha, e os “gift givers” (presenteadores do vírus), que são os
soropositivos dispostos a contaminar propositalmente ou com consentimento.
R.H., de 36
anos, é empresário e soropositivo há cinco anos. Semanalmente, frequenta clubes
de sexo e saunas. “É um prazer incontrolável. Sem a camisinha o meu prazer
triplica. Eu odeio camisinha”, diz. Ele afirma que não é adepto da transmissão
proposital. Só faz sexo sem camisinha quando “é consensual”, mas já viu colegas
de bareback infectando sem consentimento. “É só você ir a qualquer suruba que
vê casos de camisinha furada, pessoas estourando sem o outro saber. Considero
um esporte do sexo. Eu não pratico, mas sei de muita gente que gosta.”
Marcello
Sampaio, de 45 anos, é dono de uma casa de sexo há sete meses no Largo do
Arouche, centro de São Paulo. Por dia, são mais de cem homens. Logo na entrada,
camisinhas estão disponíveis. Apesar dos avisos sobre os riscos, as
transgressões acontecem. “Sempre alerto os meus clientes, mas eu não tenho
controle e vejo muita gente transando sem camisinha”, afirma. “A minha parte eu
faço. Seria muito duro colocar a cabeça no travesseiro sabendo que eu fui o
responsável por infectar 20, 30 pessoas por noite.”
A preocupação
de Sampaio é comprovada pelo Ministério da Saúde. O aumento da infecção é maior
entre gays (veja infográfico). Para Áurea Abbade, advogada e presidente do
Grupo de Apoio à Prevenção à Aids, a geração mais jovem desconhece o perigo da
doença. “A gente tenta conscientizar e como resposta recebe risadas. Sinto medo
de uma nova epidemia.”