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As granadas vêm da China ou da
Bulgária. Os morteiros são do Sudão. Os lançadores de foguetes foram fabricados
no Irã. As balas no Reino Unido, na Bélgica e na República Checa. Espanha e
Camarões fornecem os cartuchos de espingarda. E a lista continua.
Um estudo detalhado das armas que circulam na República
Centro-Africana revela dados interessantes sobre a indústria mundial de
armamentos e como esses produtos acabam nas mãos dos rebeldes.
A pesquisa também sugere que o impacto do comércio de
armas pode ser "duradouro" e "devastador" para o país,
quando, por exemplo, a coalizão Seleka, formada por diferentes facções
políticas e milícias, depôs o governo do presidente François Bozizé e instalou
ali uma guerra civil, obrigando milhares de civis a deixarem suas casas.
'Pequenas e fáceis de esconder'
"As granadas de mão 82-2 são o equipamento militar
mais comum na República Centro-Africana", aponta o relatório, conduzido
pelo Grupo de Pesquisa de Armamento em Conflitos do Reino Unido para a União
Europeia.
"Essas granadas são tão comuns que supostamente
podem ser compradas pelo equivalente a US$ 0,50 a US$ 1 (R$ 1,40 a R$ 2,80)
cada, valor inferior ao de uma latinha de Coca Cola", assinala o estudo
Saques e contrabando
As armas que circulam na República Centro-Africana também
são obtidas por meio de saques em arsenais do governo.
Outros armamentos são contrabandeados por mercenários
estrangeiros, através da fronteira porosa do país.
Mas muitas armas parecem ter vindo de nações vizinhas, em
especial do Sudão.
"Em 2013, chegaram, pelo menos, dois carregamentos
de armas do Sudão a Bangui por via aérea", destaca o relatório.
"As munições chinesa e supostamente iraniana
presentes na República Centro-Africana parecem ter sido transferidas do Sudão.
No caso da China, isso poderia envolver a violação do acordo sobre o consumidor
final entre Pequim e Cartum".
Os carregamentos do Sudão foram feitos antes de a ONU impor
um embargo sobre o Seleka no final de 2013.
"Independentemente da origem das armas, o resultado
final é claro. Ao tomar o poder, o Seleka ajudou a inundar um país já
sobrecarregado de armas. Eles cometeram graves abusos dos direitos humanos,
incluindo o assassinato de mulheres e crianças", diz Lewis Mudge,
pesquisador da divisão africana da ONG Human Rights Watch.