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john mcmanus
Antigamente, saber a tabuada de cor e poder fazer algumas
contas de cabeça era uma necessidade cotidiana. Na padaria, no açougue, na
mercearia - quem não soubesse contar seus miúdos corria o risco de sair com o
troco errado. Hoje, na era das calculadoras e dos smartphones, será que
habilidades como essas se tornam obsoletas? E que outras aptidões são
necessárias para que as crianças de hoje vivam bem no século 21?
As calculadoras começaram a aparecer nas
salas de aula do ocidente na década de 1970. Elas já existiam antes, mas à
medida que seu preço e tamanho diminuíam, os modelos foram se multiplicando.
Junto com a tecnologia, vieram os questionamentos.
Em que medida as calculadoras interferem na
capacidade das crianças de raciocinar e resolver problemas? Mais recentemente,
será que os novos minicomputadores estariam prejudicando a inteligência das
crianças ao impedir que aprendam rudimentos de matemática? Por outro lado, na
era da cibernética, será que as crianças deveriam aprender sobre outros
assuntos, como a internet ou técnicas de codificação? Ainda é importante
aprender caligrafia, ou seria a digitação mais apropriada para o século 21?
No Reino Unido, com frequência líderes
empresariais reclamam da falta de preparo dos adolescentes britânicos ao completarem
seus estudos.
Recentemente, o diretor da Confederação da
Indústria Britânica (CBI, na sigla em inglês), John Cridland, declarou que
ainda há problemas em áreas como alfabetização e matemática elementar no país.
No passado, a CBI também criticou a falta
de sociabilidade dos adolescentes - sua falta de habilidade na comunicação,
suas posturas e comportamentos.
Para a Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), a leitura, escrita e aritmética
formam a base fundamental na educação.
Mas a chefe da Seção de Aprendizagem e
Professores da entidade, Maki Hayashikawa, admite que a tecnologia vem
desempenhando um papel cada vez mais importante na vida das pessoas. E deve ser
abordada - porém, com cuidado, ela disse.
"As crianças precisam ter uma
compreensão básica (da tecnologia) para que não possam ser manipuladas por
ela."
Por outro lado, para muitos países, o
contato com a tecnologia é algo difícil de conseguir.
"Nós deveríamos nos focar na leitura,
na escrita e na aritmética, mas alguns países não podem ir além disso - seja
porque não possuem os recursos, ou porque os professores não têm o
conhecimento", disse Hayashikawa.
Aprendizagem autônoma
Para alguns educadores, o que a criança
deveria fazer com o conhecimento que adquire é tão importante quanto o
aprendizado em si.
John Bangs, consultor da organização
Education International - entidade sediada em Paris que representa professores
em todo o mundo - disse que os países que se saem bem nos rankings
internacionais de educação apresentam um ponto em comum:
"Cingapura, Canadá, Finlândia - todos
se focam em desenvolver crianças que se tornam aprendizes autônomos."
"Eles são capazes de fazer perguntas a
si próprios. Aprendem fatos também, mas também aprendem como aplicá-los."
Imaginação
E quando se trata de tendências na educação mundial, as vendas de
brinquedos na China apontam para uma direção interessante.
Vendas de Lego, os blocos de montar, subiram muito no país. Em mãos
criativas, os pequenos tijolos podem ser usados para construir todo tipo de
coisa - de trens a foguetes espaciais.
Anders Jacobsen, Chefe de Investimento e Pesquisa na LGBT Capital, uma
empresa de gerenciamento de ativos com sedes em Hong Kong e na Europa, disse
que a natureza criativa do brinquedo é a chave de seu sucesso na China.
"Pais ambiciosos e antenados percebem quão necessário é que suas
crianças aprendam, brincando, a pensar de forma diferente."
Segundo Jacobsen, as escolas chinesas não incentivam esse tipo de
abordagem na solução de problemas, mas os pais - e os políticos chineses -
estão começando a acordar.
"A educação formal pode ser desafiada para que incorpore esses
objetivos em um sistema que valorize a estrutura e a uniformidade."
"Os líderes políticos em Pequim estão focados em recriar e manter a
China continental na posição de um inovador de peso."
Alfabetização e matemática elementar, solução de problemas e
criatividade são, portanto, aptidões e habilidades que todas as crianças devem
desenvolver.
Mas segundo John Edwards, diretor da empresa espanhola de codificação
DragonFly, falta uma.
Edwards disse que todos os anos entrevista muitos candidatos a empregos
na companhia, a maioria dos quais já tem grande conhecimento técnico.
Ele descreveu uma entrevista recente, feita por Skype, com um candidato
que acabou sendo contratado.
"Ele era articulado e educado. Esses são atributos que deveriam ser
ensinados a todas as pessoas porque saber se colocar é muito importante."
"É claro que precisam ter habilidades técnicas, mas se eles já as
possuem, faço a seleção usando o critério da sociabilidade."
E além de entender de codificação - precisam também saber a tabuada?
"Eu prefiro que as pessoas saibam (a tabuada) em vez de pegarem a
calculadora", disse Edwards.
"Não para que sejam capazes de recitá-la - mas para provar que têm
a habilidade de aprender."