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thayanne magalhães
O brasileiro
tem tido mais parceiros sexuais nos últimos anos, porém, o descuido com o uso
da camisinha ainda é grande, segundo um levantamento realizado pelo Ministério
da Saúde e divulgado esta semana.
De
acordo com a pesquisa, pelo menos 45% da população sexualmente ativa do país
não usou preservativo nas relações casuais nos últimos 12 meses, apesar de que
a maioria dos brasileiros - 94% - reconhece que a camisinha é a melhor forma de
prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e da Aids.
O
número tem preocupado os órgãos de saúde pública e, durante a divulgação do
resultado da pesquisa, o Ministério da Saúde lançou a campanha de combate à
Aids e às DSTs para o carnaval 2015, que terá o slogan “#PartiuTeste”.
“O
Ministério da Saúde já nos informou que a campanha será voltada principalmente
para os jovens, entre 15 e 24 anos. Já começamos a levantar dados locais e o
aumento de casos de infecção com Aids entre pessoas nessa faixa etária foi de
69% na última década”, explicou a gerente estadual de Agravos Crônicos, Mona
Lisa Santos.
Em
2004, a estatística em Alagoas era de 3,2 jovens infectados para 100 mil
habitantes. Hoje esse número subiu para 5,4.
“É
um índice gravíssimo e nós estamos elaborando uma campanha que deve chegar até
os jovens dessa faixa etária, principalmente nas redes sociais e escolas. Nosso
intuito é que a conscientização não seja realizada apenas em campanhas de
Carnaval ou dia da luta contra a Aids, por exemplo, mas que se prolongue
durante todo o ano”, afirma Mona Lisa.
A
geração da última década, segundo opina a gerente estadual, não conviveu com
ídolos que morreram com Aids.
“O
que nós temos conseguido nos últimos anos é aumentar o número de preservativos
consumidos. Em 2013 foram distribuídos cinco milhões e em 2014 esse número
chegou a quase 10 milhões. O dobro, praticamente. Nossa estratégia tem sido
levar a camisinha para locais que aglomeram pessoas como bares, orla, fórum,
órgãos públicos, além de disponibilizar o dispensador de camisinha para todos
os municípios do estado”.
Porém,
Mona Lisa explica que o aumento do consumo de camisinha não pode garantir que
as pessoas estão usando mais o preservativo.
“A
pesquisa do Ministério da Saúde é nacional e não temos dados locais em relação
ao uso da camisinha. Mas vamos reforçar as campanhas de conscientização”.
Dados
da pesquisa do Ministério da Saúde mostram ainda que apenas 55% dos brasileiros
sexualmente ativos usaram camisinha na última relação sexual em 2013, ano da
pesquisa. O índice mostra que aumentou o número de ‘descuidados’ em relação a
anos anteriores: 52% em 2004, 47% em 2008 e 55% em 2013.
Apesar
disso, o levantamento mostra ter havido um crescimento significativo de pessoas
que relataram ter tido mais de 10 parceiros sexuais na vida. Esse percentual
subiu de 19%, em 2004, para 26% em 2008, chegando a 44% em 2013.
‘Uso camisinha para não contrair doenças e nem ter
filhos não planejados’
Apesar
de muitos admitirem que correm riscos ao ter relações sexuais sem camisinha em
relações casuais, muitos jovens que cresceram na época em que a Aids passou a
ser uma doença conhecida e temida mundialmente não deixam de usar o
preservativo.
“Eu
sempre ouvi falar da Aids e do medo que as pessoas tinham de contraí-la. Renato
Russo e Cazuza são meus ídolos desde adolescência e ver o sofrimento deles com
a doença me ajudou a despertar minha consciência e me proteger. Eu sempre uso
camisinha”, afirma o analista em infraestrutura de TI, Thiago Neves, de 28
anos.
Thiago
garante que nunca deixou de usar camisinha com mulheres com quem não manteve
relacionamentos sérios.
“Só
tive uma namorada com quem tinha relações sexuais sem camisinha. Ela passou a
tomar pílula depois de um tempo, quando nosso relacionamento já estava sério e
tínhamos confiança um no outro. Fora esse caso, nunca deixei de usar, tanto
pelo risco de contrair doenças como pela possibilidade de ter um filho não
planejado”.
OPINIÃO
Para
tornar os jovens mais conscientes, a coordenadora do Serviço de Assistência
Especializada (SEA) do Hospital Escola Dr. Helvio Auto, Mardejane Lemos,
acredita que as campanhas de luta contra a Aids devem ser mais realistas, assim
como as de cigarro.
“Considero
as campanhas de combate ao vírus HIV muito pobres. As secretarias de Saúde se
preocupam muito em mostrar a luta contra o preconceito mas não mostram a doença
em si, o que ela pode causar ao corpo. Deveriam fazer como fazem nos maços de
cigarro, assustar com a realidade”, opina a médica infectologista.
Para
Mardejane, a maioria dos jovens são inconsequentes e não pensam no futuro, por
isso o número de infectados tem aumentado.
ALERTA
A
comunidade médica insiste em lembrar que a Aids não tem cura. O infectado irá
tomar remédio pelo resto da vida e esses remédios provocam efeitos colaterais.
O tratamento pode controlar a doença, mas o soropositivo terá problemas de
saúde pelo resto da vida.