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Após cinco anos
da enchente que destruiu 28 municípios em Alagoas, parte dos 70 mil desabrigados
ainda não têm onde morar e vivem de forma improvisada. Com a demora na entrega
das casas do Programa da Reconstrução, mais de 3 mil casas que seriam
destinadas aos desabrigados foram invadidas e outras 1,3 mil ainda não foram
concluídas, segundo informações do governo do Estado.
Este é o caso da aposentada
Maria do Carmo Santos de Andrade, 66, que mesmo morando em uma das casas
populares do Programa da Reconstrução, em São Luís do Quitunde,
precisa buscar água em um poço improvisado por vizinho porque o imóvel onde
vive não possui água encanada. “Me sinto muito cansada. Tem dia em que eu estou
com um balde na cabeça e um caldeirão na mão. O esforço é tanto que sinto meu
corpo tremer. Parece que vou desmaiar”, conta.
No mesmo residencial, a dona
de casa Vanilda dos Santos, que vive com o marido e as quatro filhas, precisou
fazer uma ligação clandestina de energia para poder usar os eletrodomésticos.
“Tivemos que improvisar tudo. A geladeira serve apenas de despensa e a noite só
há um bocal para iluminar a casa toda”, diz.
Em Atalaia a situação
não é diferente. No residencial destinado às vítimas das enchentes há mais de
500 casas. A maioria semipronta. Uma delas é onde a dona de casa Maria Geane da
Silva mora com outras 7 pessoas. No local, que não tem abastecimento, o banho é
improvisado com uma água que possui cor escura e cheiro forte. “Depois de tomar
banho não há como se sentir limpo porque a água parece que vem de uma poça de
lama”, conta o cortador de cana Reginaldo dos Santos.
Na casa da lavadeira Maria das Graças tem até a caixa d'água, mas para enchê-la
só comprando água. “Meu prejuízo é de R$ 100 por mês só pra encher a caixa. Aí
tem o garrafão de água mineral, que eu gasto 4 por semana. No total fica por
mês uns R$ 118”, revela.
Em outro residencial em Joaquim Gomes, que
foi invadido, famílias seguem até o rio Camaragibe para buscar água que serve
para as necessidades do lar. Água que é a mesma usada para lavar veículos e os
animais. O local também não possui energia elétrica e nem chave nas portas, que
são fechadas por correntes.
“O medo é chegar o despejo aqui pra tirar a gente porque só podemos comprovar
que somos donos se tivermos o documento na mão”, teme o desempregado José
Barbosa de Lima. Com orçamento também limitado, o cortador de cana José Carlos
da Silva diz que invadiu um dos imóveis por necessidade. “Essas casas estavam
todas desocupadas e não terminaram a obra. Aí eu tive que vir pra cá pro
rendimento ficar melhor para família”, revela.
Monitoramento
Diante da situação dos residenciais do Programa da Reconstrução, a procuradora
da República, Roberta Amorim, cobra celeridade na conclusão das obras e entrega
regular dos imóveis. Ela disse que cada município tem razões diferentes para o
atraso nas obras, mas que a procuradoria tem tentado solucionar com cada um dos
gestores separadamente. “Estamos acompanhando de perto para que os imóveis
sejam concluídos e entregues. Além disso, nos casos de evidências de fraudes
estamos ajuizando ações para punir os responsáveis”, expôs.
A Secretaria de Infraestrutura do Estado disse que, ao contrário do que foi
mostrado na reportagem da TV
Gazeta, a reintegração de posse das casas em Joaquim Gomes foi
realizada. Na ocasião, a Secretaria também afirmou que está sendo feito o
levantamento dos danos para recuperar as casas e entregá-las aos desabrigados
cadastrados.
Em Atalaia, gestores da Secretaria disseram que, esta semana, um contrato de
recuperação das unidades invadidas foi assinado. Já sobre São Luís do Quitunde,
a informação é de que casas não foram invadidas e sim entregues, com sistema de
abastecimento de água e energia elétrica funcionando. Além disso, a Secretaria
expôs que vai procurar a Casal e solicitar que a Caixa Econômica verifique o
que aconteceu junto a Eletrobras.