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Um grande
número de países, o Brasil inclusive, adota o calendário cristão, cujo
marco inicial é o nascimento de Jesus. Mas uma dezena de nações, a exemplo da
China, adotam outras contagens. Os chineses se baseiam nos ciclos da Lua e já
estão em 4712. Já os judeus estão em 5775.
Mesmo com
essas diferenças, a virada de 31 de dezembro para 1º de janeiro não deixa de
ser um momento importante para diferentes religiões do mundo, mesmo as que
não adotam o calendário cristão. Elas usam essa ocasião como um período de
reflexão e redenção, projetando um ano seguinte melhor, cada uma do seu jeito.
Para
entender como cada religião encara a virada de ano, o iG ouviu
líderes religiosos de diferentes denominações, que sugeriram como virar bem o
ano de acordo com cada crença.
Zen Budismo
Diversas
escolas compõem a prática religiosa do Budismo como um todo, como o Budismo Tibetano,
o Mahayana e o Zen Budismo, entre outros. Os ensinamentos de Buda, porém, são
comuns a todas as correntes, e falam sobre compaixão, desapego material e
emocional e disciplina da mente.
Cada escola
prepara um evento característico para celebrar a passagem do ano e relembrar os
ensinamentos budistas. No Zen Budismo, existe uma comemoração especial para
marcar essa data, exatamente no dia 31 de dezembro.
Os
praticantes se reúnem e batem o sino durante 108 vezes. Essa prática simboliza
o número de apegos e defeitos que devem ser abandonados para o próximo ano,
como raiva, ciúme, mágoa. Mas para o Monge Genshô Chalegre, da Comunidade Zen
Budista de Florianópolis, essa centena de emoções negativas devem ser
trabalhadas todos os dias.
“Nós
convencionamos esse ritual de Ano Novo para o nosso calendário, no dia que a
Terra completa a volta ao redor do sol. Porém, nós não podemos ficar presos a
essa data. Toda vez que acordamos devemos ter em mente que esse é o primeiro
dia do resto das nossas vidas”, pontua o monge, explicando que não é preciso
esperar a virada para se redimir. “Uma vez por ano não é suficiente. Todo dia pode
ser o dia do Ano Novo.”
Judaísmo
Embora Rosh
Hashaná (o ano novo judaico), tenha sido em setembro, os valores do judaísmo
para essa data, de certa forma, também podem ser aplicados na celebração da
virada para 2015, diz o rabino Ruben Sternschein, da Congregação
Israelita Paulista (CIP). É preciso lembrar o ano que passou e avaliar o que
foi feito de certo e de errado, e também pensar sobre como se quer agir no ano
seguinte. Veja a mensagem do rabino para iniciar bem o ano de 2015:
Afro-brasileiras
“As
religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, aproveitam a virada
de ano para fazer uma purificação, deixando para trás o que é negativo. Os
terreiros fazem uma limpeza coletiva com ervas e oferendas para trazer paz no
ano seguinte”, explica a mãe de santo Kátia de Ogun. Segundo a sacerdotisa,
2015 será regido por Oxóssi e Obá. O primeiro é um orixá da caça e da fartura.
Já a segunda comanda o amor e o sucesso profissional.
Mãe Kátia
explica que a regência desses dois orixás vai exigir que todos exercitem a
tolerância num ano que será turbulento. A sacerdotisa também propõe um ritual
simples trazer tranquilidade e livrar dos maus fluidos.
“Recomendo a
todos tomar um banho de cachoeira. É um ritual simples que traz muita paz na
vida da gente. Não precisa ser no dia 31, pode ser uns dias antes. Aliás,
sempre digo, peça apenas paz nesta hora. Com paz fica mais fácil de conseguir o
resto.”
Catolicismo
Tendo o
Natal como data fundamental no ano, celebrando o nascimento de Cristo, o
catolicismo usa o 25 de dezembro como período de redenção e reflexão sobre o
ano que passou, projetando o novo que virá. Mesmo assim, a virada de 31 para 1º
não deixa de ter sua importância para os católicos.
Para eles, a
passagem de ano funciona como um momento para inspirar otimismo e renovação.
“Iluminados por Jesus, desbravamos novos caminhos, buscando novos horizontes
cheios de alegria, saúde e paz”, projeta o padre Tarcísio Machado.
“Apesar das
contradições, confiamos na ação santificadora do Espírito Santo para fazer
resplandecer, em nossa face, a bondade do Deus da vida”, prossegue o padre.
Presbiterianismo
Ricardo Mota
Leite, pastor presbiteriano e executivo da Agência Presbiteriana de Evangelização
e Comunicação, diz que a passagem do Ano Novo pode gerar uma ideia de
transformação artificial.
“É comum ao
final de cada ano, sermos tomados por um otimismo natural. Talvez pela sensação
de que o que não deu certo ficou para trás e que uma nova oportunidade
aparecerá no próximo ano como se tudo fosse melhorar magicamente na noite da
virada”, avalia Leite.
Para o
pastor, é preciso ter clareza do sentimento que devemos focar na passagem
de ano. “A expectativa tem uma durabilidade menor e se esvai diante da
adversidade. A esperança não, ela vê além da adversidade, supera a expectativa
e não é dependente desta.”
Islamismo
A passagem
de ano no Islamismo não segue o calendário solar tradicional. Para os
muçulmanos, o ano de 1436 começou em 25 de outubro de 2014, segundo o ciclo
lunar. Mesmo sem ter um ritual específico para celebrar a passagem no dia 31 de
dezembro, a religião aproveita para a reflexão.
“O Ano Novo
representa um momento para refletir sobre o que foi feito durante esse ciclo
que terminou, em relação às boas ações. Analisamos, por exemplo, nossas orações
para Deus, o jejum, o pagamento purificador dos bens (Zakat), a ajuda aos mais
necessitados e o bom comportamento com os vizinhos”, explica Feres Fares,
gestor da Mesquita Brasil.
Os
muçulmanos acreditam que esse é um dia para se arrepender das más ações e se
comprometer a ter uma conduta melhor, resistindo às tentações e sendo mais
paciente frente às adversidades. “Devemos fazer isso todos os dias. Deus deixou
a morte como um dos maiores mistérios para que nós não tiremos proveito disso.
Não sabemos quando vamos morrer, por isso é importante ter esperança e sempre
propagar o bem”, reforça Feres Fares.