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roberto agresti
O ser
humano é chegado em atitudes idiotas. Entre os motociclistas (ou seriam
motoqueiros?) algumas modinhas bestas invadiram o mundo das duas rodas
nacional, más atitudes na pilotagem que podem ter consequências bem ruins para
quem pilota assim como para a motocicleta também.
Uma
delas é empinar ou, o oposto, frear fortemente com o objetivo de “empinar ao
contrário”, erguendo a roda traseira do chão, manobra conhecida por “RL”. Em ambos casos, os agentes de trânsito podem
levar uma multa nada suave de R$ 1.915,40, fora a apreensão do veículo e
suspensão do direito de dirigir. O texto do artigo 175 do Código de Trânsito
Brasileiro retrata isso como “utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir
manobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com
deslizamento ou arrastamento de pneus”.
Uma
empinada breve não causa danos graves ao motor da moto. Mas isso pode acontecer
quando o percurso com a roda dianteira apontada para o céu é longo a ponto de o
óleo do motor se concentrar em local onde o “pescador” não consiga mais sugar o
lubrificante do cárter e mandá-lo às partes mais delicadas do motor. O que
acontece? O óbvio: sem lubrificação adequada, o motor se desgasta mais
rapidamente e, sem nenhuma lubrificação, ele quebra na hora.
Quanto
ao “RL”, o problema não afeta tanto o motor mas sim a suspensão dianteira e a
coluna de direção, principalmente seus rolamentos. O chassi, suspensão e freios
de uma são feitos para suportar sem problemas a freadas fortes, buracos e
outros episódios do uso normal. No entanto submeter esse conjunto a
situações-limite com frequência cobra seu preço, e alto, pois os projetistas
não prevêem resistência a tanto estresse.
Ter de
trocar o conjunto de rolamentos da caixa de direção é apenas uma das
consequências dessas frenagens estilo malabarista. Retentores das suspensão
também vão para o espaço mais cedo, assim como o sistema de freios – disco,
pastilhas ou tambor e sapatas. O quadro ou chassi também será afetado, perdendo
resistência, o que, a longo prazo, resulta em trincas e rachaduras que o
comprometem irremediavelmente.
Fazer "estouros"
Outra bobagem cometida por motociclistas é o “estouro”. Em túneis, ruas,
avenidas e estradas, alguns se divertem provocando, através de uma ação muito
simples (não vou ensinar…), uma forte explosão pelo escapamento. Barulho,
gostemos ou não, faz parte da vida. Festas não poderiam deixar de ser ruidosas
sob pena de perder totalmente a graça.
Um
time entrando no estádio, fazendo um gol ou uma grande jogada, é algo que tem
de ser obrigatoriamente acompanhado de ruídos – gritos, cantos, fogos de
artifício –, assim como eventos como Carnaval, réveillon etc. Porém a
satisfação de causar deliberadamente um forte ruído andando de moto pode
assustar os outros motoristas e pedestres.
É uma
espécie de sadismo sobre duas rodas. Felizmente, as motocicletas mais modernas,
equipadas com injeção eletrônica e escapamentos com catalisador, anularam a
possibilidade do condutor causar o tal “estouro”, mas se você é dono de um
modelo mais antigo deve saber que essa prática, além de besta, não faz nada bem
ao motor da motocicleta.
Resumidamente,
o que causa o estouro pelo escapamento é uma porção de mistura ar e combustível
não queimada dentro do cilindro que escorre para o tubo de escape e lá explode.
Ou seja, o que tinha que ocorrer no lugar certo, gerando a energia que
impulsiona a moto, acontece no lugar errado. Fora o desperdício de combustível
e o pecado ambiental, essa explosão forte no lugar indevido provoca um estresse
mecânico grande, e danos graves podem ser feitos à válvula de escape e sua
respectiva mola e sede. A chance de entortar uma válvula de escape provocando o
estouro é enorme e aí, meus amigos, o prejuízo é sempre grande.
Como
vemos, atitudes circenses, sejam ela o estouro, a empinada ou o “RL”, podem
parecer atraentes e sem nenhuma consequência, mas não são. Tanto do lado
mecânico como no que diz respeito à lei, o melhor mesmo é deixá-las de lado. A
habilidade no domínio da motocicleta é algo admirável. Os que se julgam acima
da média nesse quesito devem direcionar esse talento para conduzir a
motocicleta com segurança. Os que estão do lado oposto, os pouco talentosos,
devem se limitar a treinar a condução segura e não tentar manobras que, no
fundo, prejudicam o bolso e a saúde, tanto física como da moto.